O ESPELHO DO PORÃO parte 4

Renata, incomodada com o jeito da amiga, a pergunta:

- Amiga, que tanto você olha para aquele espelho?

- Olha, Rê – falou com voz baixa – você já se olhou no espelho em um lugar escuro?

- De novo essa história? Por que tanto pergunta isso?

- Eu preciso te confessar algo. Promete que não vai rir?

- Dou minha palavra.

- Eu tenho medo de ficar me olhando demais no espelho à noite.

- Ok! Viu, como não doeu me contar? Agora me diz o motivo.

- Por causa do que estou te falando. E essa matéria que estamos estudando já ajuda minha teoria. Que é diferente da dos meus pais.

- Beth! Alguém já te disse que lendas urbanas são apenas o que o nome já diz: lendas?

- Eu sei. Mas isso acontece diferente aqui em casa. Posso te provar.

- O que seus pais diziam?

- O espelho tem acesso a outros universos e etc. Já eu acredito que...

- Fala mulher! Acredita que...?

- Nossa outra personalidade está lá. Mas numa versão maligna.

- Olha, Beth, não sei o que você andou bebendo nesse final de ano, mas me dá que eu quero. Deve ser a maior viagem.

- Se eu puder provar?

- Como?

- Contanto que você prometa que não vai contar pra ninguém.

- Eu juro, amiga – ela cruza os dedos nas costas.

- Para - disse sem rir – eu falo sério. Promete não contar para ninguém?

- Ai. Tá bom. Prometo.

Elas continuam estudando. Uma chuva forte se aproximava e o dia já se escurecia por completo. Renata iria embora dentro do horário marcado com seu namorado que iria buscá-la às 21h00. Ela percebeu que o rosto de sua amiga estava se transfigurando em algo mais sombrio. Um sorriso, de vez em quando, despontava da sua face, cobrindo seu rosto com os cachos negros e vivos:

- Amiga, já está tarde. Vou esperar meu namorado lá na porta da entrada do seu sítio. Muito obrigada por me deixar te visitar. Manda um abraço para seus pais.

- Espera. Você disse que não contaria para ninguém. Quero te mostrar que minha teoria está certa.

Ela pegou a mão de Renata, que começou a ficar receosa. O barulho da chuva fora era forte, os trovões e raios iluminavam todo o céu e terra junto de seus barulhos ensurdecedores, e as velas, que foram apagadas pela força do vento que entrava pelas janelas, revelavam que aquela casa, para Renata, não era o melhor lugar para estar.

Renata, segurada pela mão da amiga que, aos seus olhos, não era a mesma que conheceu na Universidade. Queria questionar, mas a mescla de medo e curiosidade fez com que seu espírito lhe silenciasse os lábios.

Ao descerem os degraus escuros e úmidos daquele lugar inóspito, iluminado apenas pelo candeeiro que seguravam, Renata soltou a mão da amiga:

- Beth! Que lugar é esse? Por que aqui não tem luz nenhuma? Que papo é esse de espelhos? Eu tenho que ir pra casa!

- Calma – disse a amiga com voz baixa e grave – só quero lhe mostrar isso. Preciso superar meu medo de espelhos com você. Ajude-me, por favor.

- Tudo bem – Renata termina de descer os degraus que tinha voltado. – O que quer me mostrar nesse lugar horrível?

O candeeiro aceso foi posto no chão, e Renata viu quando um grande pano branco foi removido daquela parede e o espelho oval e imenso apareceu:

- Consegue se olhar no espelho por dois minutos, Rê? Eu não consigo. Penso que tem alguém me observando.

Renata ficou mais calma quando percebe que é apenas um espelho velho. Se aproximou dele e ficou olhando para seu reflexo:

- É disso que você tem medo? Que boba. Calma, amiga. Está vendo que é só um espelho? Tá com medo do “fantasma do espelho” puxar seu cabelo quando estiver penteando ele?

Ela se aproxima segurando a mão da amiga:

- Veja só. Pode olhar. Não tenha medo. É apenas o seu reflexo nesse ve...

Renata emudeceu quando, num trovejar mais forte, o brilho de um relâmpago iluminou o cômodo e ela percebeu que, além dos dois reflexos, dela e de Elizabeth, surge mais um ser, idêntico a Beth, com as mesmas roupas, mas uma expressão de morte no olhar, e com o rosto mais pálido e magro, cabelos negros cacheados e com as mãos grudadas no espelho como se gritasse por ajuda.

Renata deu um grito, e tropeçou no candeeiro, que estava no chão, ao se afastar de súbito do espelho. Naquele escuro, ouviu-se apenas uma voz antes de desmaiar:

- Vem cá... nos faça companhia... nos ajude...

Continua...

Leandro Severo da Silva e Mariel F. Santolia (revisão e edição)
Enviado por Leandro Severo da Silva em 08/03/2019
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