A Morte Espreita Sob a Cama

Eram três horas da manhã quando Lila acordou encharcada de suor. Acabara de ter um terrível pesadelo. Nele ela não conseguia se mexer no colchão e sabia que tinha algo assustador embaixo de sua cama de solteiro. Tentava de todo jeito levantar-se, mas seu corpo não gerava o mínimo movimento. Que pesadelo, ainda bem que despertara.

Mas o pensamento de ter algo sob a cama ainda rodeava sua mente. O quarto estava escuro, porém sua vista já acostumara com a escuridão e ela conseguia ver as silhuetas dos móveis. Decidiu conferir ainda sonolenta se tinha mesmo algo sob a cama. Mas que idéia maluca.

Ao levar a mão sentiu tocar algo como uma madeira. Ficou espantada. O que havia ali? Pulou da cama, foi até a parede, tateou-a até encontrar o interruptor. Apertou e a luz clareou o quarto. Apertou um pouco os olhos, abaixou-se quase encostando a bochecha no chão e tomou um susto enorme. Um caixão jazia ali, sem tampa e sim, havia alguém dentro.

Lila soltou um grito agudo e rouco enquanto tremia e sentia o coração bater acelerado como se estivesse dentro de sua cabeça. Respirou fundo e agiu de forma corajosa. Pegou nas duas alças do lado esquerdo e puxou para ver melhor. O caixão era de luxo, bem acabado, as alças folheadas a ouro, cor de madeira, bem envernizado. Dentro o corpo de um homem, pálido, inchado, cabelos negros lisos penteados para trás, com pedaços de algodão no nariz. As duas mãos sobre o peito, vestido num terno, com flores tampando-lhe da barriga para baixou. Estava realmente morto. Não respirava.

A garota estava amedrontada, em seus vinte e cinco anos de vida nunca vivenciara algo tão assustador. Sabia que era real. Tentou pensar racionalmente: quem colocara aquilo ali? Ela vivia sozinha naquele apartamento, estava cursando faculdade de medicina. O que fazer? Decidiu chamar a policia.

Olhou pelo quarto mas não conseguia achar o celular. Correu até a sala com os pés descalços acendendo todas as luzes da casa, pegou o telefone residencial, discou 190 mas ao colocá-lo no ouvido constatou que não estava funcionando. Seu medo ia aumentando cada vez mais. Resolveu ir até o vizinho pedir ajuda, mas a chaves da porta não estavam na mesinha da sala onde ela as guardava.

Gritou mais uma vez, agora mais alto.

Quem fizera isso com ela. Pensava. Que brincadeira de mal gosto. Estava desesperada, não podia chamar a policia, não podia sair de casa, como faria? Sair pela janela era impossível, eram cinco andares até o chão.

Caminhou de volta ao quarto chorando histericamente e ao olhar para o caixão berrou alto. O defunto não estava mais lá. O caixão estava vazio desta vez. As lágrimas desciam pelo seu rosto, sabia que não era um pesadelo. De repente todas as luzes da casa se apagaram.

-Socorro- gritou bem alto.

Ouviu o barulho de uma panela caindo na cozinha, então fechou a porta do quarto segurando-a com força, esta também estava sem chaves. Espalmou as duas mãos pela porta e segurou forte para que não fosse empurrada, mas foi inútil, a força que veio de fora era mais forte, e Lila caiu sentada no chão.

Os olhos do homem agora brilhavam vermelhos no escuro. Suas mãos agarraram o pescoço da garota e apertaram forte, comprimindo sua garganta. Ela não conseguia gritar, não conseguia respirar até que as mãos soltaram-na e ela caiu no chão sem vida.

Uma semana depois, como Lila não aparecera na faculdade, seus amigos resolveram chamar a policia, que entrara em sua casa. Ao chegar no quarto encontraram o corpo da jovem estirado ao chão coberto por moscas. Não havia mais caixão, nem sinal do homem que a matara.

FIM

Higor Santos
Enviado por Higor Santos em 23/03/2019
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