O Cirandeiro, Para Paul
Os relógios já marcavam três da manhã
Silêncio e calmaria no metrô, ruas vazias, dormia a cidade na alta madrugada
O rapaz, imerso em solidão, esperava o dia clarear
Sobre a mesa, uma carta com poucas palavras enviada por um amigo distante
Outro rapaz também de poucas palavras
Um voo para Amsterdã nas primeiras horas do dia
Na televisão transmitiam notícias vindas da Ásia, terremotos, vilarejos, furacões
Pela janela entravam as luzes dos bordéis do outro lado da rua
Sob às luzes, Paul revirava as páginas de um livro muito antigo de origem desconhecida
Imagens e expressões que nem mesmo a mais avançada das mais avançadas tecnologias conseguiria discernir o que era bom e o que era ruim
Ao folhear o livro empoeirado, ele encontrou uma página marcada que o deixou intrigado
Um imenso círculo traçado à luz de velas
Pessoas encapuzadas com roupas escuras em volta do círculo liam escrituras antigas e levantavam ao céu objetos e drinks como oferendas, joias, luxúria, soberba
Ritos de passagem
No centro, um monumento de uma criatura enigmática, até então desconhecida para o homem médio
Não era uma roda de conversa e não tinha nada de parecido com um céu bonito
Era como se fosse uma Ciranda e o Cirandeiro não falava Português
Os olhos de Paul escureceram, perderam o brilho ao fitar os olhos da criatura medonha
Um rapaz agora mais triste, mais sombrio
Era frio na Rússia, quando tudo começou.