Borboletas Negras

Conto de

A. Gust

BORBOLETAS NEGRAS

- Ah, borboletas malditas! Bruxas horrendas! Desgraças! Desgraçadamente desgraçadas e infernais!

Fui visitar meu amigo no cemitério.

Enquanto eu colocava flores em seu túmulo, escutei aquele som pavoroso, aquelas malditas asas ecoarem em meus ouvidos. Milhares de borboletas negras saiam da cova, rodeando o local de descanso de meu estimado companheiro, incomodando desgraçadamente seu sono eterno, poluindo seu espírito com suas imundas asas turbulentas.

- Viriato estava doente há tempos, e finalmente quando feneceu, os casulos dessas criaturas amaldiçoadas foram encontrados dentro de seu corpo. O estimado camarada sempre sonhara com essas borboletas negras, houve épocas em que não falava de outra coisa. Vivia perturbado pelas noites pesadelares, e quando, enfim, decidia contar-nos parte de seus devaneios, enchia de terror o ambiente, e não poucas ocasiões, fazia os presentes passarem mal com suas descrições mórbidas.

O que se mostrava mais hediondo, sem dúvidas, eram os cortes. Profundas lesões em seus corpo apareciam quando ele finalmente acordava. Essas criaturas demoníacas entravam em sua matéria e ali estabeleciam morada, depositando seus ovos.

- Coitado de meu amigo. Sua morada carnal, agora oca, sua alma presa aos abismos soturnos pelas borboletas fúnebres, saindo às milhares de sua boca morta e roxa, asfixiando-o, tapando sua respiração e o matando ainda mais engasgado por esses bichos imorais. Seus órgãos internos não mais existem, diante da fome inesgotável de suas larvas saídas dos casulos.

- Uma vez sonhei com as borboletas negras, acordei imediatamente tateando meu corpo em busca de ferimentos. Não havia nada, nenhum arranhão. Ainda bem! Detestaria ser infectado por essas coisas horrendas que levaram meu antigo amigo.

Foi quando tudo ocorreu.

Por um momento tudo ficou turvo, e me vi mergulhado na mais completa escuridão; tudo permanecia amargo e frio. E quando, finalmente minha vista voltou, não mais estava diante do túmulo de Viriato. Estava como que a ver meu próprio corpo ali, parado diante do mausoléu. E fora de minha compleição física, pude observar Marcos, ou seja, a visão que eu tinha de mim mesmo, mexendo em sua barriga, com a face transtornada em dores, remexendo-se dolorido, e em sua barriga observava-se algo de estranho se mexendo, rodeando seu estômago, inflando-o, para finalmente sua boca agonizada de dor abrir para expelir um panapanã de borboletas, todas negras, dando-lhe voltas, saindo de seus poros, nariz, olhos, ouvidos, elevando-me em sua nuvem obscura, tapando a luz do sol em uma poeira infausta e desditosa.

E agora os demônios agourentos apresentavam dentes, devorando-me as partes, extinguindo-me a miserável existência.

O que sobrou de meu esquálido corpo tombou, de forma lúgubre, em cima do túmulo de meu amigo morto, preenchendo-me a alma, juntamente com meu corpo.

A. Gust

a gust
Enviado por a gust em 31/03/2019
Reeditado em 21/04/2019
Código do texto: T6611750
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