Adivinhe o que tem para o jantar

Mil novecentos e sessenta e seis. A chaminé do forno, parecida com um balão, expulsa o vapor como uma respiração quente e ofegante. Pequenos quadros enfeitam as paredes sujas e chamativas, em tons berrantes de azul. Os azulejos no chão são de ferro forjado, com desenhos de nobres antigos, estes esquecidos e aqueles desgastados com o passar dos anos.

- Manhê, o que tem pra jantá? - Pergunta o metro e meio de garoto sujo. Veste trapos velhos e rasgados. Cabelos negros, raquítico, olhos castanhos acostumados à escuridão e à velhíssima mobília neobarroca. A coisa mais bela da casa é seu sorriso inocente.

- Cale a boca. - Responde a mulher um palmo mais alta, estapeando-o. Nariz enorme, olhos claros, roupas rasgadas, muito magra, até mesmo comparada ao menor. - Volte para dentro do forno.