Sinais vindos de um lugar desconhecido: os primeiros avisos
Em sua rápida passagem pela Rússia, Paul tentou, mas não conseguiu encontrar o seu amigo, Lucas Urudelo, desaparecido há alguns meses
Esteve com alguns contatos que ele encontrou anotados na agenda que foi deixada para trás quando do sumiço misterioso do rapaz
Visitou lugares que indicaram ser possíveis esconderijos de Lucas
Mas tudo muito vago
Quando recebeu a carta e o livro, pensou da aproximação ser quase certa
No entanto, o que quer que fosse, Lucas entendia que o seu paradeiro não era relevante
O episódio em Amsterdã o assombrou
A biblioteca era tida como um dos lugares frequentados por Lucas em suas andanças, pois lá ele encontrava livros antigos os quais tinham ligação com o livro do Cirandeiro
A ideia do seu amigo estar resumido a pó entre aqueles escombros o atormentava
Horas de voo, conversas sobre negócios, dinheiro, corridas de cavalos e mulheres se perdiam no tempo
Quando, de cansaço, os olhos de Paul vidraram
A biblioteca em chamas surgiu bem na sua frente
Na parte mais alta do telhado, o padre erguia o livro enquanto sua bata ardia em chamas e ele não parecia gritar
Sete daqueles encapuzados dançavam em sua volta
Sete facas formavam uma trilha que o convidava para a porta da casa
A qual mais parecia uma passagem para um inferno conhecido
Que deveria arder, como de comum, e não fazer frio como ele sentia
Dentro da casa, no meio das brasas, Lucas andava de um lado para o outro
Analisando o tatear e o movimento do fogo, como se procurasse uma solução
De súbito ele decide derrubar as vigas que sustentavam o teto
Vindo a baixo todo o telhado e todos que estavam lá em cima
Os encapuzados gritavam, Lucas também, exceto o Padre
Labaredas de fogo se espalhavam e faíscas triscavam o rosto de Paul molhado de suor
Quando ele ouve a voz da garçonete bem às suas costas:
- Paul! Lucas disse que você poderia me ajudar! O que está acontecendo comigo?!
Disse ela, mostrando suas mãos sendo tomadas por corais mortos, enrijecidos e cinzentos, era possível ver pequenos animais entrando e saindo pelos pequenos orifícios que se espalhavam como varizes...
Aquela imagem lhe pareceu mais agonizante e cruel
Por último, viu a silhueta de Lucas, apenas uma sombra escura, correndo para dentro de um prédio abandonado
Um navio e do seu ponto mais alto, o capitão se atirava ao mar
Pôde, só depois disso, perceber que as horas haviam se passado e a luz do sol já batia na janela
Acabara de chegar em Natal
De certo, ainda restavam três horas de ônibus para Macau, lá, o princípio do algo mais ainda estava por vir
Ele, no entanto, não podia mais dormir
Ou, ao menos, não deveria.
Estava, certamente, a receber mensagens
Vindas sabe lá de onde, enviadas sabe lá por quem
Do livro? do Cirandeiro? de Lucas? Se não desses, de quem mais poderiam ser?
Consciente, Paul não era mais o mesmo
Inconsciente, Lucas também não
Desatino era o que os aguardavam, Paul e seu amigo, no próximo destino.