O Inferno de Lucas

Paul estava finalmente em Macau, uma cidade pequena, pacata e litorânea

A Praia de Camapum, um dos lugares preferidos de Lucas, era banhada pelas águas do Oceano Atlântico, que certamente nos trará mistérios impronunciáveis acerca dessa história

A cidade estava diferente, visitada por um nevoeiro que sumia durante o dia, mas voltava quando era noite, as pessoas não saíam de suas casas depois de um suposto toque de recolher

O qual ecoava pela cidade vindo de uma rádio difusora localizada no mercado municipal, uma haste muito alta equipada com quatro alto-falantes soava a assombrosa sirene minutos antes da noite chegar

Depois do toque, a cidade ficava muito semelhante à Chernobyl ou Centrália, comércios fechados, prédios abandonados, casas trancafiadas e reforçadas com madeira nas portas e janelas

Um mistério até mesmo para Paul, pois as coisas não eram assim quando ele partiu

Paul foi até a casa de Lucas, lá ele encontrou Maria, mãe de criação do seu amigo, uma mulher calada, com uma expressão medonha no rosto, não tinha motivos para sorrir

Maria vem receber o rapaz, e nisso uma conversa bem áspera:

- Lucas não está, né?!

- Não, não sei por onde diabos ele anda! O que você quer?

- Eu estou tentando encontrá-lo...

- E você jura que vai achar ele aqui?!

- O quarto dele, talvez tenha algo lá!

- Ninguém entra e ninguém sai dessa casa! – Maria parecia não gostar da insistência de Paul, mas, por fim, ela aceitou. Afinal, ele era a única pessoa disposta a encontrar o seu filho, pois, para o resto da cidade, Lucas foi tido como um lunático e merecido o desaparecimento

Entrando no quarto, o rangido da porta... A poeira esvoaçava com o movimento lento...

Latas de cerveja, remédios para dormir, seringas e drogas injetáveis, livros de Kerouac, livros de Bukowski, duas guitarras jogadas no chão, um violão roído pelo tempo e letras de músicas espalhadas pelo chão

Vestígios de Lucas, no fundo do quarto, Maria e Tristeza...

Nas paredes, recortes de jornais sobre notícias de catástrofes naturais, fotos de pessoas e endereços estrangeiros, blocos de notas com expressões em línguas estranhas e descrição de rituais, um punhal, um homem e uma mulher desenhados a giz branco, imagens de navios e criaturas marinhas abissais

Nos olhos cansados de Paul, no vazio singular de Maria, nervosismo e certeza

Ao olharem para o alto, escrito no teto: O R I E D N A R I C O

Paul, enfim, entendeu um pouco mais o Inferno de Lucas. Tanta angústia, tanta solidão, crises existenciais. O livro subjugou o seu amigo.

Paul sabia para onde Lucas sempre ia quando sentia-se só, uma velha embarcação africana naufragada na praia, lá ele esquecia-se do mundo. Nos momentos de solidão, Lucas e o Mar.

Chegando lá, Paul encontra a mesma bagunça, quase como uma réplica do quarto de Lucas. Tudo revirado, a ferrugem se espalhando como raízes, garrafas de bebida, vidros quebrados, livros e mais livros, anotações sobre anotações...

De repente, uma âncora quebrada pela metade, com apenas um de seus braços, foi arremessada e quase acertaram Paul. A ancôra acabou derrubando outras coisas e quebrando o que pôde atingir. Com uma voz muito firme, perguntaram:

- O que você quer, Estranho?!

- LUCAS?!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

- Daqui não se ouvem as sirenes!!!!

...

Em crise, a noite veio e com ela o nevoeiro que envolveu a velha embarcação.

Maia_XIII e Paulo Eduardo
Enviado por Maia_XIII em 09/04/2019
Reeditado em 10/04/2019
Código do texto: T6619832
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