A árvore do enforcado

Não é uma árvore bonita. Seus galhos são disformes e muitas vezes ganham um aspecto estranho. Quando o vento é forte e açoita suas folhas elas balançam de uma maneira que parece desagradável a quem se propõe a olhá-la.

Certa manhã encontraram um homem morto pendurado em um de seus galhos. Jogado ao chão jazia a pequena escada que ele usou para passar uma corda e enforcar-se. Seu corpo inerte balançava indiferente ao horror que causava.

Quem olhasse para aquele homem pendurado perceberia que seus olhos se encontravam incrivelmente dilatados e pareciam querer saltar das órbitas. Seu rosto arroxeado e o forte cheiro de fezes, que o enforcado expeliu quando seus esfincteres relaxaram, deixaram as pessoas chocadas e enojadas.

Da janela do meu quarto todas as noites eu me pego olhando para a árvore. Não gosto de olhar para ela, mas volta e meia meus olhos a procuram. Quando chove seus galhos adquirem uma deformidade que faz com que ela tenha um aspecto triste e solitário.

A árvore com seus galhos disformes e seu jeito melancólico frequenta meus sonhos. Uma estranha simbiose aos poucos vai se formando. Seu tronco, seus galhos, suas folhas parecem chamar-me para algo.

Todas as noites eu fico olhando para meu corpo que balança. Meu rosto está disforme, minha traqueia está esmagada. Amanhã novamente eu serei encontrado.

O dia amanhece e meu corpo balança pendurado no galho de uma velha árvore.

Plutarco
Enviado por Plutarco em 11/04/2019
Reeditado em 12/04/2019
Código do texto: T6621422
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