O Hospital
Lucas e Paul fugiram no meio da noite
Relâmpagos clareavam o céu escuro da cidade
Trovões como tambores chamavam para espiar
Chegando no hospital municipal, o qual se localizava numa zona de transição entre a zona rural e a urbana
Paul foi atendido por Marilda, uma enfermeira muito antiga e amiga da mãe biológica de Lucas
Paul foi acomodado num quarto que dava para os fundos do prédio, lá os dois amigos repousaram por algumas horas
Lucas aproveitou para estacionar o Opala junto à janela do quarto, pois sabia que uma hora ou outra as coisas poderiam piorar, com o tempo ele descobriu que o homem e a mulher de branco e os encapuzados eram de alguma forma, ainda desconhecida, atraídos pelo livro
No mais, apesar da forte chuva lá fora
O nevoeiro seguia lento envolvendo a cidade
Quase meia noite, o hospital estava vazio, calmo e silencioso
Paul e Lucas eram os únicos pacientes, visto que o hospital não tinha estrutura para a ficar com vários pacientes internos
Mais desses problemas que se vê por aí...
Ato contínuo
O barulho da chuva, o vento no telhado, relâmpagos iluminavam os vidros das portas e janelas que protegiam de todo o mal, mas não de quase tudo
Paul estava tão exausto que adormeceu muito rápido
Sonhava com pedras e desfiladeiros, fios e expolisvos numa mina, quem sabe, um novo pesadelo
Lucas sonhava com gritos e talheres retorcidos na sua casa
De os olhos abertos, os gritos não vinham do seu quintal
O homem e a mulher de branco chegaram na recepção
Seriamente feridos depois da emboscada na casa de Lucas
Mas o mal que os compunham os faziam sentir-se inteiros
E de uma maneira estranha, pediam por mais
Eles distraíram os funcionários enquanto os encapuzados invadiram o hospital
Renderam os quatro vigilantes com muita praticidade
Com punhais afiados cortaram artérias e pontos vitais
Deixando se esvair em sangue os corpos pálidos
Os quais foram amarrados num pé de eugaroba do lado de fora do hospital e moviam-se lentos sob a chuva que caía
Como se dessem as boas vindas
Como se não fosse algo ruim
As enfermeiras se trancaram no almoxarifado
O homem de branco quebrou o trinco da porta com uma cadeira
As mulheres se assustaram e começaram a derrubar as estantes com medicamentos para obstruir a passagem
Cavando o próprio abismo com as mãos, sem perceber
O homem vil saiu pela porta
Um alívio momentâneo e quase sepulcral se espalhou pela sala
A respiração não era mais de medo, ainda sim ofegante
Mas era revolta, era essência, tudo o que elas precisavam
A sensação de repelir o inimigo
Que você é forte e é capaz, mas que não dura muito
Quando uma toxa atravessa a porta contando os segundos antes de tocar o chão lavado de materiais inflamáveis
O fogo se espalhou como um câncer e as curvas vacilantes das chamas beijavam o rosto de Marilda
Que, escondida numa outra sala, viu o seu coração ficando negro como a noite
Um caos generalizado se instalou naquele lugar
Quebravam vidros, móveis, arremessavam objetos, arrombavam portas, derrubavam armários e tudo que ocupasse o lugar
Eles vieram decididos
Os gritos dos funcionários que no começo eram nítidos
Logo se tornaram em gemidos angustiantes
E no meio daquela vala comum, Marilda ligou para a polícia e, como conhecia bem o prédio, foi até o quarto dos rapazes
Que com certeza já estavam se preparando para o que viesse
A polícia chegou logo
Ao se depararem com os quatro vigilantes pendurados na velha árvore em frente ao hospital, armaram-se e dividiram-se em dois grupos
Dois entraram pela recepção a passos lentos
Apreciando um pedaço do inferno de Lucas e pedindo para algum tipo de Deus ou força maior que os tirassem dalí
Surpreendidos por uma moça com trajes católicos, abaixaram a guarda ao vê-la chorando e nervosa
O passo seguinte que antecede a traição
Pegos por trás por cinco encapuzados, foram cortados como se fossem carne para um açougue
Os outros quatro policiais entraram atirando, pegando o seleto grupo inimigo sem nenhuma chance de defesa
Todos no chão, um verdadeiro caos
Depois dos tiros, um silêncio mórbido se misturou com o som da chuva no telhado e o estalado das chamas no almoxarifado
A garota, ainda fingindo choro, se encolhia no chão
E quando os policiais se aproximaram
Clic clac um clic:
O estardalhaço de uma explosão
Enquanto isso, Lucas e Paul se preparavam para fugir
Ao chegar no quarto, Marilda confirmou o que eles já esperavam
Totalmente atordoada, uma mistura de pânico e frustração
Sem entender nada do que estava acontecendo
Eles emperraram a porta com uma cama e do lado de fora do quarto, pela janela, Lucas começou a arremessar frascos de remédios na parede e ateou fogo no chão em volta da janela com álcool e alguns lençóis que se espalhou rápido pelo quarto
Quando os encapuzados chegaram no quarto, acompanhados do casal, o Opala seguia lento dando a volta no hospital
A trepidação da chuva no telhado cobria o ronco calmo do motor
Porém, Marilda estava brilhando diferente
Já perto da saída, ela pediu para que parassem o carro
Lucas hesitou muito, mas atendeu ao seu pedido
Marilda percebeu a viatura da polícia ainda ligada
E que eles estavam reunidos na recepção do hospital
Sem que percebessem, ela entrou na viatura e a colocou de frente para a porta da recepção
Quando perceberam que aquilo não era normal, já era tarde
Seus olhos brilhavam com pavor e fúria
Marilda pisou fundo e arrebentou a viatura em cima de todos que estavão ali, passando por cima de uns seis ou mais, alguns ficaram presos entre o carro e a parede, outros sob as ferragens da viatura, o casal não sofreu tanto o impacto, mas ainda ficaram inertes no chão devido ao choque
Marilda não contou conversa e saiu correndo daquele lugar
O homem de branco, ainda meio tonto, foi até o lado de fora
E de longe ele via o Opala de Lucas ganhando a noite escura sob os raios e os trovões
O seu terno de linho molhado sob a chuva
Um olhar cerrado e furioso, como quem dissesse:
Maldito seja, Lucas!