Abduzido

Todas as vezes que fecho os olhos eu me lembro. A sala branca como num sonho anestésico. O cheiro asséptico como de um laboratório e todas aquelas criaturas cinzentas de baixa estatura e de olhos enormes e negros como o vazio cósmico me examinando.

Não sei exatamente o que são ou de onde vieram. Muito menos sei que lugar era aquele onde eu estava. Sei que não era aqui e que não tinham boas intenções para comigo. Havia ódio em tudo o quanto faziam. Mas também indiferença, pois eu não passava de um verme para eles.

Também não sei quanto tempo estive na nave deles. Ou quantas vezes fui abduzido. Sei que não foi uma, nem duas, nem três. E eles sempre viam me buscar de madrugada. O nariz sangrando, as luzes sobre a casa, os olhos negros na janela, as sombras debaixo da porta, o vulto do lado da minha cama.

Então tudo se apagava.

Depois eu estava naquela maldita maca. Um farol na minha cara e aqueles malditos cinzentos ao meu redor. Não sei o que queriam, mas pareciam estar fazendo algum tipo de experimento comigo.

Então eu apagava de novo. Acordava na minha cama pela manhã, achando que era apenas um sonho. Porque estou contando isso só agora? Quem acreditaria em mim? Eu me sentia impotente, sozinho e vazio. Eu era um objeto de pesquisa de alienígenas.

Eu era apenas uma criança naquela época lutando contra o câncer enquanto sonhava em ser jogador de futebol. A doença sumiu milagrosamente, mas nunca me tornei um jogador de futebol. Nem tudo é perfeito. Hoje sou redator em um jornal local e tenho três filhos com uma esposa maravilhosa. Ela está dormindo enquanto escrevo. Este é o terceiro rascunho que tento escrever.

Os outros eu joguei fora porque manchei-os com o sangue que escorreu do meu nariz.

Conegunndes
Enviado por Conegunndes em 19/05/2019
Reeditado em 26/05/2019
Código do texto: T6651441
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