AQUELE OLHAR

Tudo começou quando eu, Augusta, já desconfiava que Arthur estava me traindo. Simplesmente meu marido perdeu o interesse em mim e já não me procurava mais. Eu, boba que era fazia das tripas coração para reacender o nosso fogo. Nada. Arthur se deitava em nossa cama e me ignorava sem nenhuma cerimônia. Tantas foram as noites em que tive que me contentar em dormir com o tesão me sufocando. Quantas vezes tive que recorrer aos meus dedos médio e anelar para me satisfazer. Já perdi as contas.

Traição é a pior das sacanagens. Eu sempre fui dedicada ao lar, sempre cuidei bem do nosso filho. Nunca neguei nada a Arthur. Mesmo menstruada permitia com que ele se satisfizesse. No fim ele me presenteou com um chapéu com um par de chifres enormes. Eu descobri toda a safadeza do meu marido, porém ele não sabe. Mantenho a naturalidade. Arrumo casa, faço comida, cuido do Gutinho, fico na minha. Tudo isso por fora, por que por dentro o meu desejo é mata-lo. Todas as noites sou acordada por Sávio que insiste que eu me vingue, que eu corte o pescoço de Arthur e essa noite não está sendo diferente. Mais uma vez sinto sua mão fria em meus pés. Abro os olhos e lá está ele, lindo como sempre.

- Não vai fazer nada mesmo?

- Não quero destruir minha vida por causa desse sujo.

- Depois não vai ficar se lamentando pelos cantos. Augusta, a hora é agora, veja. – mostrou-me a faca. – a hora é agora.

- Eu sei o momento certo.

Eu não quis esticar o assunto. Puxei o edredom e voltei a dormir. Confesso que não adormeci logo, rolava de um lado para outro e até carneirinhos contei. Quando finalmente consegui dormir já era hora de me levantar e preparar o café do Gutinho.

Eu me lembro que naquela manhã eu tive uma surpresa. A condução do meu filho chegou quando Arthur ainda tomava café mexendo no celular, talvez conversando com a vagabunda pelo Zap. Quando retornei para cozinha percebi que meu marido me olhava diferente. Eu ainda estava com minha roupa de dormir, uma blusinha solta e shortinho estampado. Sou uma mulher de 43 anos, mas estou em boa forma, uma gostosura de dar água na boca. Arthur se levantou e me agarrou por trás enquanto eu mexia no forno do fogão.

- O que foi isso? – eu disse sentindo o hálito de café bem perto do meu ouvido.

- Que tal relembrarmos os velhos tempos de recém casados?

- Transar. Agora? – ele me beijava a nuca e pescoço.

- Alguma objeção?

Eu tentei resistir, mas a minha amiguinha lá embaixo já estava molhando meu shortinho.

- O que aconteceu? – pergunto revirando os olhos ao sentir a boca de Arthur lambendo minhas costas.

- Nada. Só fome mesmo.

Transamos. Fizemos amor gostoso, demorado, ali, na cozinha de nossa casa em plena manhã ensolarada. Arthur me deixou escorada na pia e correu para o banheiro. Eu continuei ali ainda sentindo aquela gostosa sensação pós sexo. Realmente foi bom, muito bom, porém eu ainda guardava um certo ódio. Arthur se foi. Eu fui para o nosso quarto e me deparei com Sávio sentado em minha cama sorrindo para mim.

- Eita, o que foi aquilo na cozinha minha gente.

- Tá bom, eu fui fraca, não resisti, já pode começar a encher o saco. – abri o armário e peguei uma toalha e peças de roupa.

- Foi uma fraca mesmo. Poderia ter aproveitado o momento do oral e ter cortado o negócio dele fora.

- Fique tranquilo meu amigo. A hora de Arthur está chegando, Agora tudo é uma questão de tempo.

- Vamos ver então.

Antes de desaparecer, Sávio me encarou com aquele olhar que me deixou sem ação. Um olhar carregado de maldade, sedento por sangue, um olhar digno do inferno. Entrei no banheiro e pela primeira vez senti medo, medo de Sávio. Pra falar a verdade gostaria que tudo isso acabasse logo. Enquanto tomava banho eu planejava a morte de meu marido. Teria que ser um golpe certeiro e definitivo. Não quero que ele sofra também. Essa noite. Arthur não passará dessa noite. (Continua)

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 29/06/2019
Código do texto: T6684773
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