Atrás da Porta

Havia uma porta na casa em que eu cresci, no subúrbio do Rio de Janeiro, lá pela década de 90. Era uma porta exatamente igual a todas as outras que separavam os cômodos na modesta casa com dois andares na qual vivi até meus doze anos. Eu lembro de passar várias tardes brincando naquele quarto pequeno com minha mãe e estas são as únicas lembranças que tenho dela, pois logo após nos mudarmos desta casa, ela deixou eu e meu pai. Eu nunca mais a vi.

Falo disso pois acabei de ter uma conversa estranha com meu pai… vejam bem, passaram-se vinte anos desde que essas lembranças foram cravadas em minha mente. Eu lembro vagamente da porta, do quarto sem janelas, da minha mãe e de me divertir lá dentro algumas vezes, mesmo que eu não lembre bem de detalhes como roupas que ela usava, as brincadeiras que fazíamos ou até mesmo sua voz.

Esta tarde fui até a casa do meu pai para almoçarmos juntos, aquela velha interação familiar da qual tento me esconder sempre que posso. Após o almoço, sentamos no sofá para assistir ao jogo do Flamengo, e enquanto esperávamos seu começo, iniciamos uma conversa sobre aquela casa. Começou com o quintal, depois com a porta barulhenta do banheiro ao lado do meu quarto e eu mencionei o tal cômodo. A tal porta entre a cozinha e a sala que dava no quarto cujo eu costumava brincar.

Meu pai ficou um pouco confuso, pensativo. Ele disse que não lembrava dessa porta. Conforme fui falando mais sobre o tal quarto, mais confuso ele foi ficando, e com mais veemência ele negava que aquela porta sequer existisse. Comecei a pensar que talvez eu pudesse ter imaginado aquele cômodo… imaginação infantil é muito poderosa. Mas eu ainda não acreditava, e foi então que a parte mais estranha da conversa chegou.

Foi logo quando eu ainda tentava convencê-lo da existência daquele quarto, quando mencionei minha mãe. Eu disse que em muitas tardes ela costumava me chamar para passar um tempo lá com ela, onde brincávamos. Neste momento eu notei que meu pai estremeceu. E eu logo o fiz. O fiz assim que ele disse o que eu, assim que havia dito aquela frase, já esperava em meu subconsciente, porém temia.

– Filho… sua mãe morreu durante a construção da casa. Você não lembra?