O Andar Assassino

O Andar Assassino

- Gurgel, você está aí? – Fraga bateu com força na porta do banheiro. – por um acaso você está se masturbando?

- Acho que vou cagar meus órgãos capitão. – falou com a voz trêmula.

- Vê se consegue dar descarga por favor, ninguém é obrigado a ver seu coco.

- Deixa comigo chefe.

Vinte minutos depois o investigador gordinho entrou na sala do capitão ainda levantando a calça.

- Pode falar capitão.

- Conseguiu dar a descarga detetive? – Fraga parou de escrever.

- Consegui sim, chefe.

- Ótimo. – empurrou uma pasta de capa preta. – dê uma olhada nesse caso, ele é seu.

Suado, desajeitado e com uma barriga bem saliente Paulo Henrique Gurgel ou PH Gurgel se acomodou na cadeira onde começou a ler o conteúdo da pasta de maneira digamos fora dos padrões de um profissional de polícia.

- Qual o seu problema, Paulo Henrique? – vociferou Fraga assustando o investigador.

- Oi, senhor, estou me inteirando do caso.

- Então faça isso quieto, vá para sua sala.

- Não será necessário, capitão. Temos um serial killer no Edifício Bella.

- Acha mesmo que se trata de um assassino em série? – mexeu no bigode grisalho. – quer ver as fotos da última vítima?

- Gostaria.

Fraga pegou na gaveta cinco fotos e as colocou em sequência na frente do detetive. Gurgel sentiu seu estômago fazer um nó quase lhe fazendo vomitar seu almoço.

- Cruz credo, só sobrou pele e osso, nem os olhos ele poupou, quem seria capaz de uma coisa tão cruel e terrível?

- Pois é meu chapa. – se levantou e se serviu do café em outra mesa. – estão achando que o oitavo andar é assombrado, todas as pessoas que ousam circular por ali são mortas e deixadas dessa maneira como você está vendo.

- Assombrado? Não seria melhor chamar um padre exorcista ou um pastor? – secou o suor da testa e de trás do pescoço.

- Essas pessoas foram mortas, Gurgel, assassinadas, homicídio, te lembra alguma coisa?

- Sei. Caso de polícia, saquei. Vou dar uma olhada no Bella. – se levantou.

Fraga voltou a se sentar e a mexer em alguns papéis.

- Sua barriga diminuiu ou é impressão minha? – O Capitão apertou os olhos.

- Acho que diminuiu sim, larguei cada tolete lá no vaso e...

- Saia daqui, Gurgel.

*

Quando Paulo Henrique Gurgel entrou para a polícia, todos e até mesmo ele duvidava se ele conseguiria dar conta das demandas dessa profissão. Tudo isso tinha um porquê, Gurgel sempre foi gordo e não bastasse isso ele ainda é desengonçado e flácido. Mesmo sendo bonito, Gurgel sofre até hoje por ser assim, um rosto bonito num corpo feio. Nesses trinta e dois anos de vida ele só teve uma namorada e mesmo assim não conseguiu transar com ela.

Sim, Paulo Henrique conseguiu dar conta da profissão e muito bem. Seus feitos como investigador nunca foram memoráveis, mas para ele é como se tivesse ganhado medalha de ouro nas olimpíadas. Enquanto dirige ele se recorda de quando ainda cursava o ensino médio quando conseguiu conquistar o coração de Rosemere, a mais gata do colégio. Aquela tarde seria marcada na história de sua vida se tudo não passasse de uma aposta. Sim, PH Gurgel foi alvo da sacanagem dos outros alunos onde cada menina deveria beijar o menino mais esquisito do colégio.

- Bom, pelo menos eu consegui chupar a língua da Rose. – falou para ele mesmo.

*

Edifício Bella, famoso por ser um dos mais antigos da cidade. Em 1925 ele foi construído e até hoje ele mantém sua fachada e cores. Dez andares, porém o oitavo vem deixando seus moradores em pânico com os últimos acontecimentos. Gurgel apareceu na portaria e se identificou para o velho Macedo.

- Veio olhar o oitavo andar creio eu? – perguntou com uma voz típica de idoso cansado.

- Sim. – secou o suor da testa.

- O senhor tem certeza de que quer mesmo ir lá?

- Preciso ver de perto.

- É mal assombrado, senhor, pessoas morrem secas, uma coisa terrível de se ver.

- Bom. – olhou para a recepção. – preciso fazer meu trabalho. Posso ao menos falar com os moradores?

- Certo, vai lá. Depois não diga que eu não avisei.

Gurgel despertou o interesse pelos exercícios físicos por isso ele decidiu subir pelas escadas. Quando chegou ao sexto ele transpirava horrores deixando sua camisa por baixo do paletó encharcada. Sua respiração se tornou ainda mais pesada quando ele sentiu cheiro de carne podre.

- Meu Jesus amado.

No sétimo o ar ficou insuportável. Uma fumaça densa invadiu o espaço e PH Gurgel se sufocou. De repente um grito. A pessoa segue gritando a plenos pulmões e Gurgel sacou sua arma subindo correndo.

- Merda!

O oitavo andar é escuro, úmido, fétido e uma fumaça cinzenta encobre o piso do corredor. A pessoa gritou mais uma vez e mais forte.

- Aqui é detetive Gurgel, saia com as mãos para cima. – apontou sua pistola.

No final do corredor se levantou do meio da fumaça cinzenta uma mulher seca e sem os olhos implorando por ajuda. Gurgel não conseguiu evitar o vômito. Continua.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 25/10/2019
Código do texto: T6779268
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