A Caverna do Dragão

Sei que alguns leitores podem se lembrar do desenho que levava o nome acima - bem, não era exatamente este o nome, mas desvios sempre acontecem nas traduções...

A fantasia que inspirou o conto do desenho sempre existiu na espécie humana. Contos fantásticos não são privilégios das séries de tv da década de 80. A fonte dessas histórias é o Eu interior do homem, que deixa minar pra fora um pouco do que há dentro. O ego criou o mundo físico para ele, um mundo rígido, estável, onde se sentisse no controle. Existem outros mundos e outras possibilidades que outras histórias contaram. Não apenas a literatura os lembra disso, mas todas as outras obras dos homens, na arte, nos jogos, nas filosofias, e até mesmo na ciência... os olhos do ego para o mundo físico que ele criou. Mas pistas foram dadas.

No desenho, em particular, são dadas dicas para que eles possam escapar da situação em que se encontram. Nem sempre conseguem, porque algo ou alguém os fazem fazer a escolha de continuarem. Eles se encontram num reino que odeiam e amam ao mesmo tempo. Este mesmo reino apresenta a eles paisagens lindas e paisagens desoladas, quase como num estado de espírito variável.

Suas almas também tem paisagens diversas, vocês podem estar eufóricos ou depressivos, e cada estado tem a sua paisagem em particular. O mundo está nos olhos de quem vê.

Voltando à descrição anterior, os personagens no desenho são ambíguos, nem sempre você pode dizer com certeza absoluta se são bons ou maus, ou qual a verdadeira intenção por trás deles.

Assim, na vida, às vezes você se pergunta, qual a razão disso tudo... Porque Deus faz isso comigo?

O mundo se mostra receptivo às vezes, deplorável em outras. Hão muitos reinos num único mundo...

Cada protagonista no desenho tem a sua personalidade única, sua história única, mas todos seguem para o mesmo destino, guiados por uma única bússola. Todos eles pensam que possuem inimigos poderosos, para no fim, descobrirem que todos os supostos inimigos os impeliram para frente para descobrirem que as dificuldades são criadas por eles próprios, começando pela escolha que tiveram em andar no "perigoso" brinquedo que os levariam numa emocionante viagem.

O dragão do desenho, a personificação maior do mal, sempre surge na hora propícia para, realmente, salvá-los dos problemas, e o mesmo dragão sorri, quando num episódio os jovens decidem não matar o seu algoz. O brilho nos olhos do dragão demonstra a sua aprovação quanto a conduta dos heróis. Talvez o dragão não seja tão mau assim... Não julgue um livro pela capa.

Num episódio, a beleza e a luz de uma mulher esconde a sua alma de aranha, que procurará arrastá-los para um fosso escuro.

Metáforas, metalinguagem, intertextualidade, moral, fábulas, não são recursos de histórias da "modernidade". Todas essas características estão presentes nas comunicações dos homens, sejam escritas, faladas, ou figurativas, desde épocas pré-históricas, como vocês entendem a história. Isso, porque a linguagem estritamente verbal transmite pouco, a linguagem, como podem perceber nestas linhas é linear, e a experiência e multidimensional!

Agora, se cederem um pouco do seu tempo para analisarem, a mesma história é contada e repetida "ad aeternum", mudando apenas o autor e a roupagem, para se adequarem ao seu tempo e à cultura do momento. Isso, em psicologia, se chama a "Jornada do Herói", na literatura chama-se, "Monomito", e exemplifica um pouco de suas vidas na Terra. Toda a história é altamente intuitiva, e brota naturalmente sem o autor perceber, porque é como uma impressão digital da alma humana. Você pode ver a mesma variação da jornada do herói em Buda, Cristo, na Divina Comédia de Dante Alighieri, em pinturas rupestres, em tábulas cuneiformes, em lendas e contos e fábulas durante toda a história da humanidade. E a própria história da humanidade parece se configurar dentro da estrutura do monomito. Se você começar a escrever um livro de aventuras, possivelmente se pegará espantado ao perceber que a narrativa se configurará numa jornada do herói típica.

Aqui tem-se uma estrutura básica da forma psicológica doi monomito: geralmente uma pessoa parte numa jornada que o servirá com diversas experiências, uma pessoa comum, do povo, deixa sua "terra" natal... O herói se depara com algo que o faz começar a sua aventura. Isso pode ser um problema ou um desafio que ele precisa superar. Ele tenta recusar a aventura porque está com medo do desconhecido ou de suas limitações... Ele encontra um mestre, alguém que pode lhe dar conselhos e prepará-lo para a jornada... Atravessando o limiar, ou limite, o herói deixa o seu mundo comum pela primeira vez para enfrentar um mundo ou experiências desconhecidas... Desafios, testes, amigos e inimigos... O herói aprende as regras de seu novo mundo. Durante esse tempo, ele passa por testes de força de vontade, encontra amigos e fica cara a cara com inimigos... Contratempos ocorrem, às vezes, fazendo com que o herói tente uma nova abordagem ou adote novas idéias... Provação: O herói fraqueja, experimenta um grande obstáculo ou dificuldades, como uma crise de vida ou morte... Recompensa: Após sobreviver à morte, o herói recebe sua recompensa ou realiza seu objetivo. O caminho de volta: O herói começa sua jornada de volta à sua vida cotidiana... o herói enfrenta um teste final em que tudo está em jogo e ele deve usar tudo o que aprendeu. Retorno com chave: O herói traz seu conhecimento ou o "elixir" de volta ao mundo comum, onde ele o aplica para ajudar todos os que lá permanecem ou mudar o status vigente.

Você pode ver isso também na jornada do ego, e na noite escura da alma; Variações antigas da mesma ideia. Na morte e na ressurreição religiosa, pois a personalidade parece perceber intuitivamente, que precisa chegar ao fundo, para alcançar o topo.

Mas, não necessariamente você precisar conhecer o pior, para amar e dar valor ao melhor. Isso acontece na sua história porque essa é natureza da maioria dos humanos. Mas, o conhecimento intuitivo pode dar asas ao herói, e ele pode pular a fase do abismo. Como sempre é contado em todas as histórias, tudo é apenas uma questão de escolha.