Maldito Coração

Eu estava farto, em algum instante você poderia dizer que perdi a sanidade. Porém nunca fui para além do que minha sanidade sugeria. Além disso, eu estava consciente, em nenhum momento poderia dizer que não estava. Até mesmo agora - que sei que minha vida escorre pelos meus dedos e se dissipa em meio às tentativas falhas de manter o índice de oxigênio para o organismo – arrisco dizer que estou consciente.

Não percamos o rumo da história.

Ela trançava os fios pelos pregos do tear com certa praticidade, eu costumava observar ela enrolando os fios, enquanto isso, meu coração palpitava. Ela costumava ser o amor da minha vida, há muito acreditava ter perdido meu coração, antes dela, por anos, não o sentia ou escutava, era simplesmente um eco, um vazio de certa forma reconfortante. Mas assim que à vi as batidas retornaram, suspirava de alívio extasiado. Agora, mais do que nunca ranjo os dentes em uma agonia incessante, o barulho se tornou ensurdecedor, mal dormia e mal comia. Ousaria dizer que estava tão cheio de amor que já não cabia alimento em mim, mas essas batidas, essa frequência me causava mais angústia do que amor em si.

Juro que segurei por quanto tempo podia, passaram-se anos com essas batidas, nem mesmo os sons do relógio poderiam me causar maior raiva. Sempre que a via era assim. Foram três longos anos, recuperar o coração depois de tão longo tempo pode ser um fardo. Embora esse fardo demasiado, o terror de perde-la era maior que essa agonia. Não conseguia me ver sem essa maldita.

Então, para evitar todo esse infortúnio do coração tentei todas as técnicas possíveis, desde meditação ao yoga, mas nada ajudou. Só me fez crescer o ódio por essa mulher, logo quando estávamos juntos, logo quando ela me abraçava e eu sentia o coração dela junto ao meu, subia-me um ódio sem igual.

Decidi pôr um fim a esta história, com a fúria incessante que me prendia às batidas cortei sua cabeça com o machado, mas por algum motivo as batidas não cessavam, o fardo do coração era demais para cessar com a morte do outro.

Chegando neste ponto acho que sabemos a que ponto esta história chegou, amarro uma corda com a mesma praticidade que ela enrolava os fios no tear e me enforco... mas as batidas do coração jamais cessaram da minha consciência

Marquezoo
Enviado por Marquezoo em 20/11/2019
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