O ENCONTRO

Marcamos o encontro no pulmão da cidade,no parque Solon de Lucena,a lagoa. Embora nao soubesse nada dela,eu me sentia atraido,uma força estranha me sacudia.

Quando ela apareceu vestida de preto,lábios pálidos e olhos tristes eu estranhei mas não me importei,afinal de contas toda época tem sua moda.E nos anos 80 tínhamos a nossa!

Entreolhamos como se já nos conhecêssemos,ela saboreou as minhas palavras recheadas de carinho,e eu me encantei com seu jeito meigo de menina veneno.

Ela confessou que residia num condômínio fechado,onde o silencio era eloquente que mil palavras.Disse que fui escolhido nessa era de aquario para ser o guardião do seu amor.Fiquei sem entender nada.

Aquele misticismo deu um nó na minha cabeça,que porra ela queria me dizer.É foda ser ateu.Lembrei-me do padre Lauro é do poder infinito da mente.Mas tudo bem, levei com bom humor e poesia.

Entre a gente houve uma transfusão de sentimentos.Nos beijamos ali mesmo com uma excitada paixão louca e transcendental.Naquele lugar instigante onde em 1975 morreram 35 vidas num naufrágio.

Sem perder tempo,fomos para uma pousada ali perto,e sem dizer nada nos deixamos ser levados pela correnteza daquela súbita paixão que ali ia desembocar em gemidos e prazeres...

Ato consumado.Saímos na boca da noite,nos despedimos com um beijo e a promessa de revê-la.No dia seguinte telefonei e para a minha surpresa caiu num cemitério no bairro de cruz das armas..

"Oxente,que porra é isso?!" "De onde é?Tem certeza amigo?"

Liguei outras vezes e nada.Puto da vida fui bater lá.Ao chegar expliquei a situação bizarra ao coveiro,o filho da puta riu na minha cara,só não mandei tomar no cu porque respeito gente mais velha que eu.

O coveiro relatou-me que mês passado fora enterrado uma garota com aquelas característcas que descrevi.Levou-me até o jazigo e para a minha surpresa,a foto era identica,jamais esqueceria aquele rosto.

Escrito abaixo da foto o nome,a data de nascimento e da morte.Era uma sepultura simples com poucas flores naquele condomínio fechado.Mas o que me assustou foi quando li o epitáfio:"Se me procura não estou aqui"

Fiquei meses com aquele epitáfio na cabeça,confessou que me causou graves problemas psíquicos-emocionais.

Hoje,vivo de sedativos fortes,rodeado de enfermeiras.Dizem a boca miúda pelos corredores do Juliano Moreira que não estou bem da cabeça.!

Joelson Gomes da Silva
Enviado por Joelson Gomes da Silva em 15/12/2019
Reeditado em 14/11/2020
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