Dorme em paz, já é madrugada
Não dê ouvidos aos ruídos, a essa falta de ar
Meu amor, não pense mais em nada
Feche os olhos e as janelas
Deixe o sono te levar
Pelo escuro


Dorme em Paz
- Ludov










 
A paleta da cena são cores frias e escuras.

Num bar perto do centro, duas pessoas que nunca se viram se encontram.

A baixa música moribunda ecoa sem dificuldade pelo salão semi-vazio.

Estamos à beira madrugada.

Talvez vá chover.










 
- Você está atrasada.
- Hein?
- Atrasada por três minutos e meio.
- Pelo visto você é tão metódico como disseram.
- Nossos pontos fortes nos precedem.
- Tanto faz.
- O Olavo já te passou todas as informações?
- Sim, acho que sim. Se importa se eu fumar?
- Como assim acha?
- Ele me passou tudo que eu preciso saber.
- E ele por acaso disse que só trabalho com profissionais?
- Disse, e é por isso que estou aqui.
- Nossa…
- Posso fumar ou não?
- Esse é um lugar que admite fumantes, afinal é uma pocilga travestida de pub que fede a três coisas, cerveja ruim, urina passada e fumaça de cigarro barato.
- Obrigado.
- Porém gostaria que não fumasse quando estiver comigo.
- Quê?
- Essa merda mata.
- Pessoas como nós também.
- Isso faz parte do ofício, mas não é uma ação indiscriminada como seu vício. Não estou fazendo esse trabalho pra virar a porra de um fumante passivo.
- …
- Quando estiver só pode fumar um maço inteiro de uma vez.
- Tá certo.
- Aqui estão as informações adicionais do caso.
- Pensei que o Olavo tinha me passado tudo.
- Pensou errado.
- O alvo mudou?
- O alvo era alguém agora é algo.
- Como assim?
- Nossa missão inicialmente era encontrar um alemão chamado Manfred, mas agora nosso contratante informou que devemos achar o que ele roubou antes de sumir.
- Por que essa mudança agora?
- O tal do Manfred apareceu.
- Onde?
- Nas docas. Dois dias atrás. Empalado.
- Empalado?
- Enfiaram uma barra de ferro do rabo até a boca do cara.
- Mais que porra!
- O que é mais estranho é que onde ele foi achado era um galpão vazio. Só ele e uma barra de ferro de dois metros de altura fincada no chão.
- Tinha de ser alguém forte pra fazer algo assim.
- E cuidadoso também. A polícia não achou nada na cena. Digitais, fibras, fluidos, nada.
- Será que foi a máfia?
- Eles não são tão cuidadosos a esse ponto.
- Tá certo, mas o que procuramos afinal? É um tipo de tesouro?
- Uma relíquia antiga.
- Estou vendo muitas descrições aqui, mas nenhuma foto desse negócio.
- Relíquia.
- Sim, sim é claro.
- Infelizmente isso vai dificultar nosso serviço, mas devemos concluí-lo mesmo assim.
- E por onde a gente começa?
- Vamos até o último lugar onde o cara estava escondido. Devemos encontrar algo lá.
- A polícia não achou nada com o cara?
- Não. Ele foi encontrado sem roupas e com algumas marcas estranhas no peito.
- Estranhas de que tipo?
- Parece um idioma desconhecido. Os tiras colocaram especialistas de idiomas no caso, mas aparentemente essa língua não existe.
- Esse caso já começou bem estranho. Eu não ouvi nada nos noticiários.
- A polícia foi chamada por um único encarregado do porto que não espalhou a informação para não ter problemas com funcionários cagados de medo demais para trabalhar. Como a polícia sabia que a mídia iria bater em cima do caso como abutres famintos eles resolveram levar a investigação em sigilo, com poucas pessoas envolvidas.
- Você está bem informado, bonitão.
- Tenho um contato dentro do departamento. E não me chame de bonitão.
- Onde era a casa do sujeito?
- Perto da estação trinta e três, do lado do Mercado Laguna. Um prédio abandonado.
- Eu não acordo muito cedo, então podemos ir à tarde?
- Eu vejo você às seis em ponto.
- Caramba.
- Em ponto. Isso quer dizer sem atrasos como o de hoje. Se eu não te ver lá nesse horário eu ligo pro Olavo e você está fora do jogo.
- Calma aí, calma aí. Foi só uma brincadeira.
- Esse trabalho não é brincadeira.
- Tá bom, me desculpe, só estou tentando quebrar o gelo aqui grandão. Eu meio que sou assim as vezes, mas trabalho bem.
- Não me fode e aí ficamos bem.
- Ok, você quem manda.
- Mais uma coisa.
- Fala.
- Nada de cigarros.
- Porra, vai ser um longo caso.










 
Jeff Silva
Enviado por Jeff Silva em 01/02/2020
Reeditado em 05/02/2020
Código do texto: T6855716
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.