Destruição do Vale de Sidim

Em algum momento da Idade de Bronze, onde hoje é Israel, um homem muito velho (mas cheio de saúde) está pegando lenha na floresta. Calor, usa apenas uma tanga feita de pele de carneiro.

De repente, três homens grandes e fortes surgem diante de seus olhos. Lembram vikings, com armas de metal desconhecidas para aquela época. Exalam poder e glória. Quase que por instinto, o velho larga tudo e se joga aos pés dos homens, prostrado, pois tem total certeza de que são deuses.

- Senhores, se eu mereço sua atenção, façam uma visita até minha barraca. Darei minha água para que lavem seus pés e deixarei que descansem nela. Também lhes darei um pouco de comida.

- Sim, aceitamos. - Diz o mais alto entre os homens. O velho corre para sua barraca e prepara tudo para a estadia deles. Serve-lhes leite e carne, conversam. Os homens dizem que muitas coisas boas iriam acontecer na vida dele, que teria filhos (sua esposa é estéril) e que seus descendentes dominarão aquela região.

- Há mais alguma coisa que eu possa fazer pelos senhores?

- Aponte-nos o caminho para o vale ao sul do Mar Salgado. - Diz o mais alto. O velho desconfia que ele já sabe o caminho, mas por alguma razão quer que ele o leve.

- Mas, senhor, o que quer fazer naquele lugar? Há apenas gente ruim ali, imorais, desobedientes. Eles maltratam os forasteiros e são gananciosos. Meu sobrinho vive lá e tem problemas com os vizinhos todos os dias. Eles desmembram pessoas por pura diversão.

- Mandarei que meus dois servos vão até lá verificar essas coisas. Se for verdade, iremos destruir tudo.

Então os dois mais baixos vão pelo caminho que o velho explicou, enquanto o mais alto fica em sua barraca.

- Senhor, destruirás também as crianças?

- Se eu encontrar cinquenta justos lá, pouparei a todos.

- E se houverem quarenta justos?

- Eu pouparei todas as cidades.

- E se houverem trinta?

- Pouparei a todos.

- Vinte?

- Serão todos salvos.

- Senhor, perdoe a insistência, mas... E se houverem dez justos?

- Por causa desses dez justos, nenhum fio de cabelo cairá.

*****

Os dois outros homens chegam a Sodom, uma das cidades da região, ao anoitecer. Ló, o sobrinho do velho, está sentado na entrada da cidade. Tem a mesma reação diante de seres tão belos (nos padrões de beleza da época) e tão poderosos: ajoelhar-se e colocar o rosto na terra. Também os convida para entrar em sua casa de madeira.

- Não, nós iremos passar a noite na praça. - Diz o mais baixo. Mas Ló insiste tanto que eles acabam aceitando. Mas a notícia da chegada daqueles homens se espalha pela cidade e antes que eles durmam, dezenas de velhos, jovens e até crianças cercam a casa. Não para adorá-los, mas para estuprá-los, fascinados com tamanha beleza.

- Por favor, meus amigos, não cometam este crime! - Diz Ló, desesperado, saindo de casa. Não pode deixar que seja feito mal àqueles seres celestiais. - Tenho duas filhas virgens aqui. Podem ficar com elas, mas deixem estes homens em paz!

- Saia da nossa frente! - Alguém grita.

- Vamos invadir a casa! - Grita um menino.

- Este estrangeiro quer mandar em nós!

- Vamos fazer com este estrangeiro pior do que faríamos com os outros! - Grita alguém com um pedaço de pau na mão. Diante da cena, os visitantes dizem para Ló se acalmar e saem de bom grado. Olham para o céu e, como que hipnotizada, a multidão olha também. Uma luz intensa ilumina a todos por um único instante, queimando os olhos dos criminosos.

- Ló, por ter tentado nos salvar, iremos permitir que tua família seja salva. Não peguem nada, temos pouco tempo. Apenas saia com tua família e NÃO OLHE PARA TRÁS.

Então Ló, sua esposa e suas duas filhas correm para as colinas. Ficam assombrados ao ver a estrela cadente passando, com um brilho mais intenso que o da lua. Minutos depois, o estrondo.

- Não olhem para trás! - Grita Ló, enquanto todos tapam o ouvindo por causa de tão tremendo som. Mas sua esposa nem o ouve, olha para trás por instinto e vê uma gigantesca nuvem de fumaça negra e lama vindo em sua direção. Fica pálida, como uma estátua de sal, e não consegue mais correr.

Não há um justo sequer.

***

Esse conto é o primeiro de uma série de contos conectados, que podem ser lidos separadamente:

O Homem da Gravata Florida: https://www.recantodasletras.com.br/microcontos/6935047

Bismila!: https://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/6937114

Ele Ouviu a Voz do Menino Desde o Lugar Onde Estava: https://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/6937136