Silêncio. Nada se ouve. Não há passos nem conversas, não há choro nem sussurros. Ninguém canta ou reza. Há apenas vazio. Pelas grades de ferro eles observam as pessoas caminham de um lado para o outro, algumas passam apressadas, outras apenas andam como se não tivessem direção. Estão vivas, mas há algo diferente naqueles rostos, algo que aqueles que estão ali dentro não sabem identificar.

Muitos deles não recebem visitas há dezenas de anos, mas sentem falta das visitas que os outros recebiam. As flores que enfeitavam o lugar há muito desvaneceram e não chegaram novas. As velas se apagaram e ninguém apareceu para acendê-las outra vez. Eles não entendem porque a cada novo dia os portões continuam fechados impedindo que os de fora possam entrar. Um ou outro tentam se comunicar com os que passam pelo lado de fora, mas são poucos os que podem ouvi-los e a maioria destes prefere fingir que não os escuta.

Do outro lado dos portões, o mundo continua em quarentena, mas eles nada sabem sobre isso. Nada sabem sobre o vírus que há meses paira sobre os vivos.

Os mortos sabem apenas que há muito tempo estão ali, esquecido por todos.




 

Fefa Rodrigues
Enviado por Fefa Rodrigues em 20/07/2020
Reeditado em 04/02/2022
Código do texto: T7011197
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