OS OLHOS VERMELHOS NO CADAFALSO (terror/mistério)

Cadafalso ou Forca

 
Sob o cadafalso, uma cabeça, rindo com os olhos opacos. Tanta maldade havia naquele ser, mas, em frente à praça um menino de seis anos, observava tudo com os olhos atentos e quando a turba gritou ensandecida com a morte de Severo, o menino desmaia rindo como que tivesse sido possuído.
 
 
Três meses antes...

Severo se regala com mais um crime cometido, sua vítima da vez é Iolanda uma delicada moça de olhos marcantes, que inocente em suas definições de caráter das pessoas, caiu em sua lábia e no galpão de seus pais, foi retalhada tendo seus pedaços sido levados arrastados pelos cavalos do próprio pai Louis, foi um terror que se espalhou pela cidade, uma comoção fatal para sua mãe, quando a pobre viu passar saltitando na poeira, a cabeça de sua própria filha, ela não suportou a terrível visão. Seu pai virou a pequena cidade de cabeça para baixo e não encontrou o culpado pelo crime. Ninguém parecia ‘culpado’, ao contrário estavam todos apavorados e solidários com ele. Severo era o capelão do lugar, foi tremendamente solícito com a família, ajudou a organizar velório, missa, enterro, se mostrou incansável no conforto aos entes mais próximos aos familiares da moça e de sua mãe.

O clima na cidadezinha era de pavor, portas e janelas fechadas, todo mundo se observando de longe, pois todos poderiam ter cometido aquela barbaridade, não entrara ninguém novo no lugar nas últimas semanas, então, qualquer um poderia ser um suspeito. Mal esfriaram os corpos e na mesma semana, partes de um outro corpo, foram achadas no poço comunitário no centro da praça, desta vez foi a dona do armazém, Verdana Mia, uma senhora muito sorridente e bondosa que a todos ajudava, mesmo que não lucrasse nada com a sua atitude, mais uma perda dolorosa para toda a cidade. Severo, como de hábito era pura solicitude. Suas noites eram gloriosas, pois o medo espalhado deixava as ruas e vielas vazias, facilitando seus atos. O prazer que sentia com as retalhadas nos corpos inocentes era seu júbilo, ninguém podia imaginar que um jovem pároco, tão bondoso, fosse capaz de coisas tão hediondas, o que facilitava a sua abordagem. Não deu nem tempo de secarem as lágrimas das pessoas e nos degraus do cabaré, foram deixados os pedaços de cima do corpo do filho mais velho, do comerciante mais rico do lugar, o homem enlouqueceu, ofereceu fortunas como recompensa e de nada adiantou, restou à família contar com o apoio de todos, principalmente de Severo, que se desdobrava em carinho e palavras confortadoras. O Delegado Olavo se sentia impotente, em suas diligências não encontrava evidências, isso o deixava furioso, mas, no fundo também sentia medo por sim mesmo e por sua mulher e filhas, logo no final do mês seu medo ganhou consistência, encontrou sua filha caçula dilacerada e espalhada pela plantação de girassóis,  que ela tanto amava,. A esposa com medo fugiu com a filha mais velha, não ficando sequer para o enterro da própria filha, o pavor a fez deixar tudo para trás e ganhou a estrada logo que amanheceu, não se soube mais dela e da filha, para desolação do delegado.

Só que ao final de três meses e muitas mortes chocantes, Severo foi pego por um dos auxiliares do delegado, bem na hora que sacrificava às gargalhadas mais uma vítima, desta vez um menino de oito anos de nome Tomaz, filho do coveiro. Não possível salvar o pobre garoto, mas, a fúria que se instalou na cidade, só foi contida com muita força física por parte do Delegado e de seus auxiliares, caso contrário Severo teria sido linchado. Convocou-se um novo padre para a cidade, a delegacia era vigiada o tempo todo por Federais que foram avisados. Quando o pároco novo chegou e os trâmites necessários foram alinhados, enterro feito, então, fora marcada a execução pela forca de Severo, que para espanto de todos só gargalhava com os olhos flamejantes de ódio, nada falava só ria, como quê possuído, bestial constatação.
 
Cadafalso montado, praça cheia, padre, carrasco e comoção de fúria nas pessoas, não viam a hora do ‘gargalhante’ Severo expurgar seus pecados, Anthony no auge de seus seis anos, observava atentamente tudo o que acontecia e não sabia o porquê e não conseguir desviar o olhar dos olhos de Severo, talvez achasse aquilo tudo tão absurdo por se tratar de um criminoso que era um padre. Durante toda a ‘cerimônia’, permaneceu calado e vigilante,  quando a cabeça de Severo cai no cesto voltada para ele, sente uma dor no peito e um intenso calor nos olhos, logo depois desmaiou rindo e não se lembrava de mais nada, com o tempo voltaria a si, informou o médico da cidade, pobre garoto pensavam, o espetáculo mórbido fora demais para ele. Poucos meses depois Anthony era um menino mais calado ainda e seus animais de estimação foram sumindo aos poucos, um pássaro, um gato e o dourado labrador seu fiel companheiro. Num replantio de verduras, o pai de Anthony se depara ao revolver a terra, com fatias do cão dourado...



* Imagem - Fonte - Google
*dicionarioinformal.com.br
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 31/08/2020
Reeditado em 31/08/2020
Código do texto: T7051046
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