Meu Demônio Particular - Parte II

Ela emitia uma aura estranhamente diabólica que causava arrepios. Como pode uma criança ser tão esquisita? Eles se perguntavam. O sentimento de inquietação aumentava continuamente, e, para pôr fim naquele impasse, pediram a benemérita Dona Margaret que fosse, utilizando-se de sua amizade recém adquirida, e indagasse a mulher sobre a estranha e inesperada criança. A velha senhora reuniu -se com os vizinhos horas mais tarde, e com uma perceptível preocupação, lhes confidenciou:

- Ela está, de alguma forma, com a aparência dez anos mais velha, e afirma com veemência que a criança é seu filho.

"Para que não trouxéssemos desconforto para a mais nova moradora, combinamos de não tocarmos no assunto, e que tudo devia ter uma explicação lógica", disse meu amigo, "e que só estávamos procurando problemas onde não havia, pois diversas hipóteses poderiam ser levadas em consideração, como uma adoção, ou um debilitado estado emocional da mulher, que não distinguia outra criança de seu filho perdido ". Embora a inquietação fosse constante, todos, conforme o combinado, fizeram o possível para esquecer tudo aquilo, a fim de deixar a mulher e sua criança em paz. Porém, ele disse, na nossa reunião semanal, alguns dias depois, notamos a falta de uma das mais assíduas presenças, Dona Margaret.

Preocupado por sua saúde e idade, foi bater à sua porta para saber se estava tudo bem e embora tivesse batido inúmeras vezes, não foi atendido, desistindo momentaneamente, voltando mais tarde para procurar por ela. Sabia que a velha senhora não estava de viagem, e não tinha o costume de se afastar por muito tempo, mas preferiu esperar por mais tempo, antes de tomar atitudes precipitadas.

No outro dia, foi logo cedo e insistentemente bateu na porta de Dona Margaret, e ao não ser atendido, comunicou aos demais sua preocupação. Todos tentaram, e ao falharem, chamaram a polícia para verificar o acontecimento. Após arrombada a porta, um forte odor de decomposição se sentiu, e com apreensão, adentraram no imóvel.

Dona Margaret foi encontrada caída em sua cozinha, e até os experientes policiais não suportaram a vista. Seu corpo estava seco, como se todo seu sangue e gordura estivessem sido sugados; não havia sinais de luta e perplexos constataram que não havia um pingo sequer de sangue no chão; sua cabeça fora arrancada e jogada perto da mesa, e expressava, com a boca aberta, um olhar de profunda desespero.

Matheus R Botelho
Enviado por Matheus R Botelho em 06/09/2020
Reeditado em 06/09/2020
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