O coração do feiticeiro ancião.

Naquela noite, duas e quarenta da madrugada, uma lua enorme enfeitava o céu. Era penetrante quando fixávamos o nosso olhar à ela, parecia nos hipnotizar, aquela grande bola de prata alumiando o céu e o nosso caminhar. Carregava uma cesta com ornamentos de ouro, dentro dela havia um coração que inda pulsava, me olhou com um semblante de vitória, mas, já eu, não tinha tanta certeza que aquele negócio fora tão benéfico para nós assim...

O velho da cabana estava à espera, ele não me passou lá uma aura boa, mas o que esperar de alguém que pede o coração de uma pessoa pode nos passar? Talvez estivesse eu frouxo demais, como disse minha companheira, sorridente e feliz, pensando em sua recompensa.

- Já estamos andando demais, não?

Era verdade, ora, rodamos esta capoeira uma dúzia de vezes! O que acontece, então? Perdidos não estamos, decoramos o caminho e suas peculiaridades - como aquela árvore azul, qual a probabilidade? Tudo tão confuso, acho que enlouquecemos. Um ancião estranho nos oferece riqueza em troca de um coração de um defunto, que, por algum acaso do universo desconhecido por nós, não se putrefez; agora, estamos no meio de uma floresta esquisita sem encontrar a tal cabana...

- Pensei que tinham me dado um golpe!

Um grito embutido em dois!

O safado apareceu bem em nossa frente, do nada...

- Dê-me a cesta!

- Dê-me a recompensa! - ela era dura na queda, mesmo que a 'queda' fosse um repentino ataque cardíaco...

- Entregue o coração a mim e, assim, terá vosso pagamento... Eu não descumpro minha palavra.

Pensou, pensou, pensou e pensou mais um pouco, nem um pouco desconfiada, mas queria mesmo era receber, cansada estava, cedeu aos desejos daquele velho...

- Ele é velho, não há de mentir... - cochichou e levou um bofete na cabeça para aprender a respeitar os mais antigos, mesmo que seja um enfadonho como este.

O feiticeiro olhou o coração, agora encharcado de sangue, e salivou. De uma vez comeu-o e gritava sem parar. Tentei correr, mas fui puxado, adivinhe quem foi... Ela morria, mas não ficava sem sua recompensa. E, mesmo com toda a mata se fechando e gritando junto com ele, seres negros e de olhos vermelhos como rubra luz refletida do rubi, de lá não saímos.

Seu corpo desintegrou-se em nuvem negra também, uma criatura flutuante e de grandiosos olhos brilhantes e boca enorme nos atravessou, em direção à Lua foi, mas espalhou-se pelo ar, era o novo espírito daquele lar. Partiu para assombrar uma floresta, mas sua palavra não quebrou, em nossas mãos ele deixou joias, prata e ouro.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 08/10/2020
Código do texto: T7082994
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