TODOS OS MALES DO MUNDO - (ESPECIAL HALLOWEEN 15) - MINICONTO

Tiago apanhou novamente. Os mesmos garotos de sempre. Aquele escroto do Pietro e sua trupe de garotos idiotas e valentões, e ele era sempre o alvo.

Eles o pegaram na saída da escola, o levaram para a praça ali perto onde fica o parquinho, rasgaram sua camisa, a camisa nova que sua mãe comprou (agora ele vai ter que inventar uma história, dizer que enroscou a camisa na cerca), sujaram sua cara de bosta de cachorro, rasgaram sua mochila e acabaram com seus cadernos e livros.

Tiago já está cansado de apanhar, e já está cansado de não fazer nada para merecer apanhar. Eles o batem simplesmente por prazer.

Da próxima vez ele vai fazer alguma coisa. Vai apanhar do mesmo jeito, mas pelo menos vai chutar algumas canelas.

Isso não é vida. Tiago odeia essa vida. Odeia a escola, odeia todos eles. Quer que eles morram, quer que eles peguem rogo e virem cinza.

O pior é que aos domingos eles estão todos com seus pais na igreja, comportados como bons garotos acima de qualquer suspeita.

Filhos da puta mentirosos de merda. Tiago gostaria de ver uma árvore nascendo dos cus daqueles merdas, principalmente de Pietro.

As meninas adoram Pietro. Elas adoram aquele tipo de garoto, geralmente vagabundos, garotos que tiravam as piores notas da escola e que viviam batendo nos mais fracos. Eles estavam sempre rodeados de garotas.

Tiago odiava as garotas também, por causa disso. Eram criaturas completamente idiotas.

Era uma vida de merda. Ele era um merda que estava fadado a crescer e virar no máximo um servente de pedreiro, que andava de bicicleta velha, virgem aos 40 anos de idade, batendo punheta para se satisfazer.

Essas eram as perspectivas de Tiago, e por isso ele odiava o mundo. Queria que todos eles (e Deus também) morressem.

Depois de apanhar ele pegou suas coisas que ficaram espalhadas pelo chão e entrou na trilha.

A trilha era um caminho que cortava uma colina e ia dar no outro lado da cidade onde ficava a sua casa. Ele não estava seguro na trilha também, porque sabia que todos a usavam. Uma vez já tinha apanhado na trilha e levado um chute no saco. Chute no saco era a pior coisa que existia. Mas Tiago conhecia atalhos, e eram atalhos que somente ele sabia da existência.

Ele pegou um de seus atalhos, sentou-se em um dos bancos que ele mesmo havia construído com madeiras que achara no mato e ali finalmente pode chorar. Chorava amargamente por ser o bosta que era, chorava porque não pedira para vir ao mundo, e era obrigado a passar toda aquela humilhação, somente porque um bando de garotos se achava melhor que os outros.

Foi quando a mulher apareceu.

— Porque está chorando garotinho?

Tiago olhou para a frente e viu a mulher mais linda que devia existir, era tão linda que ele não conseguia descrevê-la.

Mas o que surpreendeu Tiago, não era o fato dela ser linda, mas sim o fato dela estar pelada, completamente nua.

Tiago arregalou os olhos olhando para os peitos lindos daquela mulher, desceu os olhos e viu os pelos pubianos dela e eles eram fartos e pretos.

Tiago tinha dez anos de idade, mas mesmo assim seu corpo reagiu com uma ereção.

Então, meio que sem saber o que estava fazendo ele respondeu à pergunta da mulher:

— Não... Não é nada.

— São aqueles garotos novamente? Eles bateram em você de novo?

Ele abaixou a cabeça sem desviar os olhos dos pelos pubianos daquela mulher e respondeu num sussurro:

— Sempre me batem.

— Mas que dó. Pobrezinho. Vou lhe dar uma coisa que vai fazer com que nunca mais eles batam em você.

Tiago nunca soube de onde ela tirou aquilo, mas de repente a mulher estava segurando uma caixa de madeira de uns 20 centímetros.

Ele ficou olhando para aquilo por alguns instantes e então perguntou:

— O que? O que é isso?

Os olhos da mulher brilhavam.

— Isso - respondeu ela - são todos os males do mundo.

Tiago pegou a caixa da mão da mulher. Era uma caixa de madeira, envernizada. Não havia nada demais nela.

— Você quer acabar com todos eles, não quer Tiago? Pois essa é a sua chance. Quando você abrir a caixa tudo o que você sempre quis se tornará realidade.

Tiago ficou olhando para a caixa por mais alguns instantes e então olhou para a mulher, mas ela não estava mais ali. Ele olhou à sua volta e não havia nenhum sinal dela. Tiago franziu o cenho e então olhou para a caixa novamente.

Ele não se perguntou quem era a mulher, porque ela estava pelada no meio do mato e como ela sabia seu nome. Tudo o que ele fez foi abrir a caixa e constatar que ela estava vazia.

Tiago franziu o cenho e atirou a caixa de madeira no chão.

Ele se levantou e caminhou até sair da trilha. Assim que colocou os pés na cidade viu que tudo estava mudado.

O que ele viu foram escombros, uma guerra havia destruído a cidade. Havia corpos humanos em decomposição espalhados pelas ruas.

Tiago foi caminhando até sua casa e a cada passo que dava contemplava a destruição, causada pelos males que havia no mundo. , Os males que a humanidade havia criado.

Ele chegou em sua casa e viu os corpos apodrecidos de seus pais.

Tiago sabia que o mundo não existia mais e estava feliz.

Luis Fernando Alvez
Enviado por Luis Fernando Alvez em 15/10/2020
Código do texto: T7088433
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