PÂNTANO

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Luiz Canto e Maria Augusta eram loucos por aventuras, quando Fernanda Vinho e Olavo Albuquerque fizeram um convite para acampar por uma semana, junto ao Pântano dos Gemidos, quase 'ovularam' de curiosidade. A adrenalina começou a borbulhar intensamente em suas veias, o medo era como um combustível para aqueles dois casais. Suas férias e folgas eram sempre programadas para lugares inóspitos, misteriosos, assustadores ou com muitas lendas estranhas nunca comprovadas, puro júbilo para eles.




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Reza a lenda sobre o Pântano dos Gemidos no interior de Rondônia, que hoje é um pântano sombrio, fora no século passado uma planície florida com um rio caudaloso pequeno, onde habitavam apenas uma família, dona de toda aquela extensão. Eram pai Leandro José, mãe Iolanda, avó materna Verdanna (que boatavam na região ser uma bruxa) e os filhos de nove, doze e quatorze anos, respectivamente Luna, Antonio e Aldrin. Viviam do que plantavam, das frutas que por ali nasciam, peixes do rio e galinhas que criavam. Vida simples, tementes à Deus, mas, fechavam os olhos para certos rituais noturnos da velha Verdanna, pois se mal não fizessem ela poderia manter viva a boataria do povo na cidade próxima, desde que os deixassem em paz, se bastavam.

Ninguém sabia como os episódios começaram a virar lenda naquele lugar. Verdanna um dia levantou meio que em transe e murmurou o dia inteiro
- As sombras estão chegando, as sombras estão chegando, algas, fungos, lama movediça, sombras, sombras...

Essa cantilena durou um dia inteiro, à noite ela esgotada, apagou com respiração normal e dormiu mais de dezoito horas. Não sendo o primeiro transe dela, a família não deu importância, até que todas as galinhas morreram no mesmo dia, com as penas cobertas de um tipo de musgo verde, muito estranho. Queimaram e enterraram todas as penosas e foram esquecendo aquela história.

Só que poucas semanas depois as árvores e outras plantas apareceram meio que dissolvidas em um tipo de lama esverdeada, como se a natureza estivesse revoltada e criando um pântano, Leandro José, Iolanda e Luna também observaram um odor de água saturada. Verdanna começa sua cantilena em transe e Aldrin e Antonio desta vez prestaram atenção à avó materna, perceberam que a cantilena abordava coisas que pareciam estar aconteceram, sentiram medo, mas, o dia estava quente e foram se banhar nas águas do rio. Ao entrarem viram que a coloração da água estava amarronzada, o que não era comum, só que o calor era muito, então, não se importaram.

Depois de uma hora mais ou menos, quando Aldrin e Antonio tentaram sair da água sentiram uma dormência nas pernas que os impedia de sair, seus membros inferiores começaram a virar lama e mesmo gritando e gemendo muito, sua família não conseguiu socorrê-los, se dissolveram no leito do rio. Verdanna seguia em sua cantilena e em meio ao transe segura as mãos de Iolanda que entrou no mesmo transe. Leandro José e Luna se lançaram de joelhos ao solo rogando a Deus por socorro e o transe de Verdana e Iolanda se interrompeu. Juntando todas as forças que encontrou, Leandro José correu para a cidade e procurou o jovem Padre Estevão, que aceitou ouvir sua confissão. Leandro José achou que ninguém iria acreditar em tudo que ele tinha para contar, por este motivo procurou o Padre Estevão, esperando que ele pudesse acreditar naquela situação surreal. O padre ouviu, fez as suas considerações e resolveu ir com o apavorado homem até o local.

Padre Estevão chegou quando a cantilena de Verdanna e agora também de Iolanda recomeçou, benzeu-as pois acreditou que estavam possuídas, mas, o transe trouxe as palavras
- As sombras estão chegando, as sombras estão chegando, algas, fungos, lama movediça, sombras, sombras, você não imperirá...

O Padre Estevão, ficou lívido e deixando uma penitência de muitos pai nossos e ave marias, bateu pernas do lugar com a maior rapidez que conseguiu, gente estranha, ele mesmo pediria forças para o Pai Maior, pois se sentiu impotente em auxiliar aquela família, confissão era confissão e ele ficaria calado.

Leandro José e Luna se apegaram ainda mais como pai e filha, já que Verdanna e Iolanda pareciam seres surreais naquele transe hipnótico e eles estavam com medo diante dos acontecimentos. Acordaram na manhã seguinte sentindo um cheiro de cachorro sujo molhado no ar, quando olharam pela janela, a paisagem estava coberta de névoa e exceto a casa, todo resto era um pântano. Correram para o quarto de Verdanna onde também estava Iolanda e nenhuma das duas se encontrava lá, só ouviam a cantilena ao longe e muitos gemidos. Aos prantos pai e filha não sabiam como sairiam dali...nem precisaram, a casa com eles dentro foi se dissolvendo rapidamente, virando uma lama esverdeada e de cheiro forte, até calarem definitivamente os seus gemidos.

Muitos anos depois da morte do Padre Estevão aos cento e dois anos, num diário dele encontraram o seu único pecado, o relato da confissão de Leandro José. Como se ouviam gemidos vindos do pântano, nunca ninguém se aproximou de lá e, se alguns durante aqueles longos anos antes o fez, nunca retornou para contar. Assim se instalou a lenda que atraiu os amigos Luiz Canto, Maria Augusta, Fernanda Vinho e Olavo Albuquerque para a nova aventura.




Viagem acertada, os amigos tiveram informações que perto do Pântano dos Gemidos, havia uma cabana de caça abandonada junto a uma fonte de água mineral cristalina que brotava de pedras que eles poderiam usar, tinha apenas um forno a lenha e dois beliches, mas, abrigaria o grupo, pelo menos não precisariam levar as barracas de acampamento, apenas os acessórios necessários e alimentos para uma semana, a adrenalina já ocupava seus corpos na faixa dos trinta anos. Tudo arranjado, partiram para o aeroporto, de lá alugariam um jeep. 

Chegaram pelo início da manhã e cansados, resolveram arrumar os pertences e toda parafernália que levaram, além dos alimentos, pensaram bem no que levariam, basicamente carne e feijão enlatados, barras de cereais e chocolates, leite em pó, café, açúcar, sal, alho e cebola em pó, arroz e biscoitos. Talheres e copos descartáveis, uma panela pequena, coador de pano e uma frigideira média, pois se tinha rio próximo poderia rolar um peixe para variar o cardápio. Tudo arrumado, fogão de lenha aceso, alimentados, resolveram dormir cedo, para se aventurarem pela manhã seguinte já bem descansados, dormiram de porta aberta â luz de uma fogueira, o lugar era muito tranquilo.

Como era um pântano levaram macacões impermeáveis de pescador, daqueles acoplados a botas altas, encheram os cantis, levaram lanternas e alguns chocolates e barras de cereais, celulares não funcionavam lá, mas, para fotos serviriam pois registrariam mais uma aventura deles.

Estavam próximos uns setecentos metros do pântano, foram à pé mesmo. Logo que se aproximaram se arrependeram de não terem levado lenços, pois o odor no ar era bem ruim, parecia coisa mofada e úmida e a névoa dava um ar assustador ao lugar. Mas, aventura é aventura, seguiram em frente, Maria Augusta ouviu uns gemidos e seu pulso acelerou, perguntou aos outros se tinham escutado, mas, disseram que não e que ela deveria estar impressionada com a história da lenda. Como ela não ouviu de novo, ficaram próximos, mas, desta vez Olavo Albuquerque e Luiz Canto também ouviram, eram gemidos doídos, ficaram receosos de seguir, só que Fernanda Vinho não ouvira nada e os chamou de 'mocinhas' se adiantando nos passos melados do pântano, o cheiro era muito ruim mesmo, melhor não ficar muito por ali. De repente Maria Augusta se desequilibra e sua mão mergulha na água escura, ela sacode a mão e seca na manga da camisa, sem problemas. Como o odor era péssimo, resolveram voltar à cabana e foram bebendo água e beliscando uns petiscos pelo caminho. A última a sair do pântano foi Fernanda Vinho e desta vez ela também ouviu gemidos, sua espinha chegou a gelar, se benzeu e seguiu os amigos.

Há um quilômetro da cabana tinha um riacho e resolveram pegar o jeep e se banhar por lá e retornar para a cabana antes do início da noite, assim fizeram, olharam as fotos tiradas, anotaram no diário de viagens algumas coisas, mas, os gemidos não saiam de suas mentes tampouco o odor horrível. No dia seguinte tentariam contornar o pântano e ver se existiam bambuzais por perto, talvez os 'gemidos' viessem do som de suas hastes balouçadas por vento, os sons se assemelhavam, mas, não sentiram nenhum vento enquanto estiveram por lá.

No meio da madrugada Maria Augusta sente um certo formigamento na mão que mergulhara sem querer na água escura do pântano, pensou que deveria ter dormido sobre o braço, só que a sensação permaneceu, então, comentou com o marido Luiz Canto, ele prontamente massageou a  mão da esposa, ela disse que melhorou e deixou pra lá. Conforme combinado, pela manhã seguiram de jeep para contornar o pântano mal cheiroso e logo que começaram o contorno ouviram os tais gemidos. Mesmo tensos a curiosidade era maior, entraram  no pântano por uns vinte metros, só mesmo loucos como eles aguentariam outra exposição aquele odor fétido. Olavo Albuquerque se afasta um pouco mais dos amigos e perde a visão dos outros por alguns instantes, sente a temperatura abafada e mesmo sendo 'aquela' água, passa um pouco dela pela testa, sente um formigamento no rosto, sua mão arde um pouco e um calor no rosto o faz levar as mãos para cima sentindo sua pele se dissolver, grita pelos amigos, eles seguem os gritos e o encontram gemendo se dissolvendo, a amizade foi maior que o bom senso e tentaram acudir entrando demais dentro da água escura e fedida, o fim dos amigos ninguém soube.

Dias depois seguindo o GPS do jeep alugado, a locadora encontra o veículo, só não foram achados os seus ocupantes. Na cabana apenas os pertences e o diário de viagens. O Pântano dos Gemidos segue guardando sua lenda, algumas fotos guardadas em nuvem deixaram claro para as famílias onde eles desapareceram. As anotações indicavam suas observações e estranhas dúvidas.  Os anos passaram e nada foi apurado e eles foram dados como mortos, pois os gemidos do pântano afastaram qualquer possibilidade de busca, lenda ou não os gemidos eram reais. O grupo de amigos viveu e morreu pela aventura, suas marcas ficaram gravadas em áudio nas águas melosas e fedidas do Pântano dos Gemidos...




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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 28/10/2020
Reeditado em 28/10/2020
Código do texto: T7098572
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