PIROCUMULONIMBUS-2
Os habitantes de São Francisco, influenciados pelo cheiro de clorofórmio da chuva negra, passaram a sofrer transtornos parafílicos. Sair na rua usando máscaras com cilindros de oxigênio, se tornou uma necessidade. Muitos apresentavam desvios transvésticos, fetichismo, voyeurísticos, vestiam roupas femininas e os bordelines se cortavam e se feriam sem sentir.
Inúmeros adultos saíam e não retornavam para casa, com lapsos de memória, deixando suas crianças abandonadas, que eram resgatadas pela polícia e militares e levadas para abrigos.
O menino Gerson de 12 anos registrava queixa na polícia:
- Meus pais desapareceram, me deixaram sem comida, minhas roupas estão sujas. Meu avô diz que não me conhece, me expulsou de casa.
O policial tentava acalmar o garoto, ocultando que muitos haviam falecido por paradas cardíacas e nunca iriam retornar aos seus lares.
- Todos estão sob a influência da geléia fétida formada pela chuva. Muitos ainda não usavam as máscaras de proteção, absorveram os vapores, sendo afetados.
- Essa gosma é responsável pelo comportamento maluco das pessoas?
Eu não gosto de ficar num asilo para menores, junto com os outros moleques.
- Por enquanto não podemos fazer mais nada. Voce estará protegido no lugar, receberá cuidados e refeições, até seus pais serem encontrados.
Gerson foi deixado numa escola que servia de abrigo provisório, aos cuidados de professôres e ajudantes. Ele logo identificou um menino sentado e isolados dos outros. Ele era magro, usava óculos e um boné.
- Eu sou Gerson e voce?
- Kay, meus pais ficaram pirados, os militares me trouxeram para cá. O lugar está ficando sempre mais apertado aqui.
- Logo nossos pais virão nos buscar e voltaremos para casa.
- Gerson, muitos estão mortos, nós somos órfãos agora. Lá fora ronda a morte e a loucura juntas.
- Vamos dar um jeito de fugir daqui e voltar para nossa casa. Voce pode morar comigo se quiser.
- Então precisamos furtar máscaras com cilindros de oxigênio. Há uma sala cheia delas no final do corredor. Eu preciso encontrar meu cão Barry, ele desapareceu há dias.
- Vamos esperar a chuva diminuir, talvez a neblina se dissipe com o vento.
Mas lá fora a densa névoa sinistra continuava a vagar envolvendo a cidade em trevas fantasmagóricas...
• segue no cap.3