Imperativo categórico. Ou, uma ética para selar.

Veridiana não perdia a oportunidade. Obnubilava a todos quando estes ousavam discuti-la em termos que não os seus. É, bem parecido com o resto das criaturas do gênero sapiens, ao refletirmos com mais perícia.

Mas, digressões a parte, Veridiana, olhar oblíquo e dissimulado, era beligerante nas situações onde os protagonistas tentavam outros, e não ela. Uma ira figadal, diriam muitas testemunhas. Uma indignação arrancada de suas vísceras, atestariam outros. Assim, pois assim é que a vida vai, o palco estava preparado, a priori, já, para Veridiana. E, justiça aqui, que performance!! Bela e de vivaz inteligência, ia encenando o teatro do cotidiano com régia competência e solar motivação!

Até que, porque todos haverão de ter com seus "até que", acabaram cansando de Veridiana e seus arroubos mimados em fúria e lhe deram o basta natural que ditadores calham pela História.

Veridiana foi admoestada a descer os degraus da rugosa escadaria, em direção aquele porão em negrume e fétido. Não, fedorento. Cheirando a dejetos. Não, merda. Imperava o peso das escolhas irascivas. Que, ao tocar Veridiana os pés no chão batido, abraçou a bela, com fluidez e lhe coçou as costas com unhas aduncas e sujas. Muito.

Os lamentos de Veridiana parecem uivos de dor e agonia, alegam todos. E, todos se benzem, persignando-se apressadamente, ao ouvir.

Veridiana e suas lições.

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