Ad Nauseam

Havia ali um laivo de incerteza que tornava o escrutínio impossível. Os desavisados viam um pináculo de sugestões caniculares, de inclinações iridescentes na direção da lubricidade. Automatismo compreensível diante de tantos predicados estéticos. Todavia, pois sempre há um todavia em tudo, estes imediatismos conceituais que nos assaltam diante da beleza mais figadal eram, a ela, um crasso erro de endereço.

Justiça seja feita, aos incautos, havia um certo padrão em sua postura, antes de lhe penetrar o pensamento, que insinuava o estereótipo .

E, foi imiscuído neste arabesco, cosido com a linha do destino, que eu me vi incógnito. Que me enxerguei ignorando o que não podia, pois o permitido era aquele universo habitável pela insânia cediça aos logradouros tramados para o abismo. Da alma. Do corpo. Que grita tonitruante, déspota, pela satisfação de seus inalienáveis direitos. E, como são seus argumentos! Dignos de um mestre da retórica. Inscrita na carne!

Eis que, na aurora das possibilidades, centro das incertezas originais, o mal entendido calhou de me regozijar a direção e narrou-me a direção que havia de tomar. Ela, cerne daquilo que só ela entendia, ou cria entender, fez o que é mister as exasperações da beleza régia, do intelecto em perícia continua: deixou-me a mancha que perscruta o espírito dos adoentados! E, indelével em seu pleonasmo, defenestrou cada gânglio que edifica o desejo mais primevo! Aquele um que erige o cio da vida. Que sói destruir reticências morais como os Hunos aos seus desafetos.

O copo, ao balcão, encrava-me com a indiferença que só os copos são habilitados para. O líquido destilado em seu corpo esperava para fazer seu trabalho. Duas pedras de gelo derretiam lentamente e aguardavam o fim, como amantes de filmes noir sugeriam ser a única forma válida para amar.

Caso o tempo tenha alguma contribuição para explicar minha maldição, ele resolveu negá-la. Hoje, escorregando nas horas , ela é correspondência incerta. Dizem que não há presente melhor aos caídos.

Eu não sei. Ou, sei. E, por isso a sarjeta da existência é-me o máximo de afago.

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