O Castelo de Vidro - Parte -XII-

No dia seguinte o estádio estava lotado e mais uma vez as pessoas eufóricas aguardavam para ouvir a tão esperada revelação. Como de costume, os parentes mais próximos das vítimas tinham lugar de destaque diante do psicopata, que algemado em uma cadeira de rodas, vestia camisa azul marinho, que destacava ainda mais a cor dos grandes olhos incrustados no rosto de aspecto cadavérico.

Já estava tudo preparado para que Vincent começasse o seu relato quando uma senhora se levantou e antes de ser agarrada pelos seguranças lhe agrediu com um tabefe no lado esquerdo da cara. A cadeira fez um giro de trezentos e sessenta graus e um murmúrio em uníssono, por um momento, deu ao local um festivo clima de partida de futebol.

A mulher descontrolada enquanto era contida, gritava:

_ MINHA NETA NÃO MERECIA! MINHA NETA NÃO MERECIA! MALDITO! VAI QUEIMAR NO INFERNO...

Vincent após estalar os ossos do pescoço, falou pausadamente:

_ Sua neta era uma puta e está no inferno...

A mulher o interrompeu aos berros:

_ MONSTRO, VOCÊ NÃO SABE O QUE ESTÁ FALANDO...

_ Engana-se, tenho outros sentidos além daqueles que é comum à raça humana. Seu desespero fez com que o espírito dela fugisse das profundezas do inferno. Consigo vê-lo agora... está ao seu lado, em chamas. Acredita?

_ MENTIRA! Gritou a mulher aos prantos.

_ Espere o fogo se apagar, quem sabe eu possa perguntar o que ela fez de tão horrendo. Saiba que o que serve de combustível para queimar a alma e iluminar o inferno é a maldade que se acumula dentro do coração. Pelo visto, sua querida netinha tem muita lenha para queimar.

Vincent fixou os olhos ao lado da pobre senhora e disse bem próximo ao microfone:

_ Vocês não podem imaginar o sofrimento daqueles que são consumidos pelas chamas do inferno.Terrível esse mundo invisível: há milhares de demônios queimando-a com maçaricos e, em menor proporção, anjos munidos com possantes extintores tentando salvá-la. Pronto, conseguiram, e ela agora está em paz. Nunca saberemos o que fez de tão mal para mesmo depois de ser assassinada ir parar no colo do capeta. Só resta agora os homens fardados abrirem as belas asas e voarem para o firmamento. Penso que quando um bombeiro morre salvando vidas aqui na terra, ao invés de ir para o céu e ser obrigado a aprender a tocar harpa para passar o tempo, prefere deixar a aposentadoria de lado e ordenhar as nuvens para molhar a terra e fazer brotar as flores. Será?

O Delegado Kitamura, mesmo sabendo que o monstrengo era imune a dor física, teve vontade de espancá-lo até a morte. Era certo que o miserável havia visto o retrato sobre a mesa da delegacia, onde um bombeiro sorria com um menino nos braços. Os dois tinham traços orientais. Com certeza, Vincent inventou aquela historinha de anjos bombeiros para impressioná-lo. Afinal, era do conhecimento de todos que seu pai havia morrido ainda jovem enquanto combatia um incêndio.

_E os capetas, também foram embora? O delegado disse com a voz carregada de ironia.

Vincent raspou a garganta antes de dizer:

_Doutor, preciso falar no seu ouvido. Fique tranquilo, não vou morder e arrancar um pedaço da sua orelha. Não me contrarie, estou colaborando, não estou?

O delegado tentando disfarçar o constrangimento encostou o ouvido nos lábios finos do criminoso que sussurrou podre:

_ Olhe nos meus olhos e aproveite, poucos tem o privilégio de ver esse outro mundo antes de fazer parte dele.

O homem da lei afastou-se e ao voltar-se para o rosto de Vincent, gargalhou achando que estava sonhando. Os olhos do psicopata haviam ganhado a forma de grandes espelhos que refletiam algo assustador.

Um ser medonho surgiu e veio de encontro à agressora de Vincent. Ela se debatia segura por dois policiais. Os dois homens armados, não podiam ver a figura dantesca que se aproximava e que, de repente, enfiou a mão entre as pernas da mulher, que enquanto tinha suas entranhas violadas pelas possantes garras, ficou paralisada pela dor. Pouco depois, entre os dedos, a besta trouxe o coração ainda pulsante e o levou à boca.

O infarto foi fulminante quando o órgão abstrato explodiu em meio aos dentes da cruel criatura, e ao mesmo tempo concreto no interior do peito da vítima, fazendo-a lançar uma generosa rajada de sangue pela boca escancarada.

Enquanto a mulher morta era cuidadosamente depositada no chão, uma legião de seres grotescos surgiu em meio a plateia que parecia em transe diante da tragédia. As criaturas com garras de faca, puseram-se a rasgar os corpos dos espectadores para depois arrancar a alma que, distraída, era sodomizada pelas criaturas das trevas.

O líquido que escorria da essência de homens e mulheres tinha a mesma cor: era de um verde arroxeado, com um discreto brilho estelar. Os demônios enquanto penetravam, gemiam de forma alucinante, e só depois de ejacularem um liquido incandescente, foi que colocaram as pobres almas de volta no interior da tão frágil vestimenta que e a vida.

Continua...

Luiz Cláudio Santos
Enviado por Luiz Cláudio Santos em 04/12/2020
Código do texto: T7127836
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.