Tempestade

Manhã azul de clima ameno... estranho. Acostumado com a escuridão das tempestades diárias e o frio da enxurrada, aproveitou - desconfiado - o dia verdejante e profuso.

Pegou o barquinho de madeira e em pouco tempo estava no meio da lagoa, entre as vitórias régias e descobrindo as coisas que não via quando a água se acinzentava com o reflexo das nuvens escuras... agora mostram a beleza verdadeira: eram cristalinas.

Pegou uma simples vara e tentou pescar alguns peixinhos, mas só queria vê-los de perto; devolvia depois.

Tanta vida descobria que até esqueceu da preocupação daquilo tudo ser ilusão, ao longe a terra virava opaca novamente.

Entretido com um caracol, percebeu tarde demais quando ele chegou. A sombra o encontrou e viu...

Um raio repentino acertou em cheio a lagoa, todos os peixes boiaram. Todos mortos. Agonia sentiu, gostou tanto deles... Sentiu salgar sua vida, já não era só a água da chuva em seu rosto. O único momento de alegria era ofuscado pela tormenta.

- Maldição...

Correu para a boca da mata, ainda havia luz, mas a treva a engolia cada vez mais. Corria como se fosse pela sua vida - e de fato era, viver naquela escuridão não era vida de verdade. Mas...

Chegou ao último palmo de areia, foi alcançado. Adiante só havia o mar azul - sim, azul. Um pé no breu, um passo para a vida. Olhou para o monstro novamente: - Aqui você pode me alcançar..., mas não lá.

E pulou para o mar.

Era um suicídio?

Não sei.

Só nadava com todas as forças, até cansar e ter a última chance de olhar para trás: a ilha enegrecida distante. Depois do adeus, foi engolido pelas águas, não resistiu, só sentiu o ar ir e a visão escurecer...

Escureceu para eternamente clarear...

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 20/02/2021
Código do texto: T7189260
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