03:33
Acordei com a cabeça doendo, aos poucos meus olhos retomavam os sentidos. Uma dor de cabeça aguda revestia-me.
Olhei ao meu lado, sangue para todo os lados. Meu lençol e roupas estavam encharcados de vermelho.
Uma figura cadavérica repousava ao meu lado, provavelmente de minha finada esposa. Ignorei sua presença morta e procurei levantar.
Na sua cabeça ainda estava preso o machado que usei para mata-la, junto com as cordas nas quais a prendi. Seu corpo pendia severamente danificado devido aos muitos golpes, e com os requintes de crueldade nitidamente cravados em sua pele, antes branca e sedosa, porém agora, pútrido e sem a cor da vida.
Em pé, me direcionei até o criado mudo e recitei as palavras descritas em um pequeno papel. O som das letras me remetia ao das velhas línguas arcaicas. Quando terminei de recitar, um vulto se dispersou da sombra tomando forma como um abutre humanoide rodeado de chifres e costelas expostas.
Perguntei-lhe sem de longas:
— Está morta. E agora, como será?
Calmamente, Ojdd (era esse o nome dele), foi até a cama constatar os restos mortais do assassinato, e ainda sem virar-se pra mim respondeu
— Imortalidade lhe seja concedida. 100 anos te acrescentei, 100 almas lhe demandarei.
Prostrei-me, ainda ensanguentado, em uma posição característica com as mãos e reverenciando aquela criatura, agradeci.
Ele por sua vez, beijou-me a testa com sua própria genitália, e tomou o cadáver em seus braços, se afastou até novamente se dispersar nas sombras, de onde viera antes.
Para atestar minha nova condição de imortal, peguei uma faca e cortei meu pulso. Sangue não saia, mas senti uma dor fora do normal.
Comecei a rir-me, e assim fiquei por alguns minutos.
Olhei o relógio, e eram 3:46 da madrugada, peguei minhas roupas e saí daquele quarto.
Agora só me faltariam mais 99 almas.