Caminho diferente

Cantaram as aves e amanheceu a natureza, tocou o sino da Igreja para anunciar mais um dia. Dia para uns. Para nós, um punhado de farinha, a vestimenta e instrumentos.

Caminho de sempre, terra batida era pisada apenas por nós; não somos dignos de pisar o chão macio e verde "deles". Somos jogados naquela gleba de sempre. Quando não estavam vendo, pegávamos um pouquinho dos grãos e frutos para saciar a fome enganada na alvorada.

Ê, vida...

Arar a terra, cultivar, plantar... Alimentar quem desnutre.

Mais um que teve a sorte de ir. O corpo no chão alimentou a terra, o mundo. Era o sonho de todos nós, mas não temos nem o direito de morrer.

Mais uma noite, mais lamentos...

Outro dia nasceu, o sino bateu diferente. O estranhamento cresceu quando não nos deixaram comer a miséria diária, fomos direto para frente da igreja. Lá o velho saiu com sua roupa negra e um pano roxo descendo pelos ombros. A nós falou, mesmo que indiretamente.

O caminho foi outro, também.

Nos levaram para o buraco que os outros cavaram por semanas, lá dentro tinha lenha e logo todos nós lá dentro.

Agora eu entendi.

Agora pude sorrir.

Mesmo chorando.

Mesmo queimando.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 14/03/2021
Código do texto: T7207060
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