Bahum - Prelúdio

Tempestuoso deserto, de céu carregado de engano. Palco de tantas andanças e tantas almas que foram cobertas pel'areia que se move. Nela há, consoando com os poemas de um velho herói das lendas, um baú feito de ossos. Neste há a semente que germinará uma árvore de raízes tão grandes que alcançarão o mais profundo da Terra, fazendo emergir do magma a divindade presa no núcleo.

Bahum, o dono da terra.

Seus adoradores há décadas tentam, no impetuoso chão de areia, encontrar a chave para o seu despertar. Tantas tentativas... Os que iam por conta própria nunca voltavam. Inocentes ou ignorantes? A Confraria oferecia um prêmio tão avultado a quem conseguisse o báu que seria possível o felizardo construir uma megalópode banhada a ouro.

Há cem anos foi a primeira tentativa, ninguém voltou.

A Confraria, poucos anos atrás, jurou ter a cartada final para enfim conseguirem por as mãos no baú. Desafiaram o deserto. Desafiaram Malré. Um homem - se é que era - de quase três metros de altura, tão forte quanto a luz do sol. Era um caçador mercenário. Tinha em seu histórico mais de 300 "clientes" satisfeitos com o seu serviço. Nunca falhou e, segundo os boatos, nem uma única gota de sangue fora derramada de seu corpo em suas empreitadas.

Era a pessoa perfeita para realizar o desejo daqueles anciãos.

Rumou Malré cheio de soberba, certo que conseguiria. Deserto impetuoso... Na primeira pisada na areia fulva, um grito soltou: - EU TE VENCEREI! Inocente ou ignorante? Andou pelo extenso ermo com um sorriso debochado no rosto. O Sol se escondeu. O céu fechou. Uma gota solitária caiu em sua cabeça para chamar-lhe a atenção. Era Malré. Virou e viu um grande redemoinho. A areia parecia cristais brilhantes, estontearam aquela criatura, enfeitiçado pela beleza destrutiva.

Cada milímetro do seu corpo sendo corroído pelos cristais.

Eles se avermelharam, a espiral levou consigo toda carne, todo sangue e todo resquício de presunção. Sobrou o esqueleto. Este sumiu, assim como outros, pela areia. Era um abraço. Um abraço da areia com o pó do restante de tantos outros que tentaram.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 26/03/2021
Código do texto: T7216790
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