O DIABO DE BATINA - CLTS 15

by: Johnathan King

Inglaterra, 1972.

Passava das dez horas da noite e uma parte da cidade de Londres dormia. A noite estava quente e abafada. Roger Armstrong era um homem na casa dos trinta e cinco anos, bonito e comunicativo. Solteiro, gostava de se divertir com homens que vendiam prazeres sexuais. Armstrong era insaciável, se descobria gozando várias vezes durante a relação sexual. Era um amante versátil, ardente e hábil. E também cruel.

John Baker era um jovem garoto de programa na casa dos vinte anos, bonito e sensual. Havia acabado de transar com Roger e estava se vestindo para ir embora. Eles estavam no apartamento de Armstrong, no final da West End, distrito animado da vida noturna londrina, quando esse falou:

- Ei, garoto!

John virou-se.

Roger Armstrong desembrulhou um pacote que tinha nas mãos, revelando um bastão de beisebol revertido de arame farpado. John fitou-o, atordoado.

- Mas... mas o que é isso?

- Estou fazendo um aquecimento - falou Roger, acertando o bastão no joelho de John, que caiu no chão e contorceu-se de dor.

- Socorro! - berrou ele. - Você é louco!

Roger ajoelhou-se ao lado dele e disse, calmamente:

- Pode gritar o quanto quiser, ninguém vai te ouvir. Eles nunca ouvem quando você grita pedindo " ajuda ".

John fitou-o em agonia, apavorado.

Roger ficou de pé e tornou a erguer o bastão e dessa vez acertou em cheio a cabeça do garoto, que pendeu para o lado, morto. O assassino suspirou profundo, como se procurasse por ar. Sentou-se na ponta da cama, ao lado do corpo de sua nova vítima, acendeu um cigarro e fumou, tranquilo. Roger Armstrong era um assassino em série de homens gays. John Baker havia sido sua vítima de número onze. Após terminar o cigarro, Roger se ajoelhou no meio do quarto. Ele rezou. Orou por perdão. Orou por misericórdia. Sentia uma ferida não na carne... mas na alma. Os pecados cometidos naquela noite haviam sido demais. Precisava do perdão de Deus. Mas ele sabia que a absolvição exigia sacrifícios.

A três quilômetros e meio de distância, o assassino atravessava os portões da frente de uma igreja localizada no distrito de Dolph, nos arredores de Londres, Roger Armstrong usava uma batina preta de padre. O lugar encontrava-se deserto àquela hora da noite, e as únicas almas visíveis por perto eram uma dupla de garotos de programa exibindo-se aos passantes que circulavam por uma praça nos arredores da igreja. Seus corpos atraentes e seminus fizeram surgir um desejo familiar nos genitais de Roger. O homem cravou suas unhas com força na perna direita e sentiu a pele formigando e um líquido quente escorrendo. A lascívia evaporou-se por encanto e Roger entrou na igreja. Foi até os fundos, onde ficava a casa dos padres. Subiu as escadas silenciosamente, evitando acordar o reverendo e a empregada que conviviam com ele lá. A porta de seu quarto estava encostada. Ele entrou e se trancou.

O quarto era pequeno e simples - tinha uma cômoda onde Roger colocava suas coisas, uma mesa de estudos e orações, uma televisão pequena e uma cama de solteiro. Ele voltou a atenção para uma corda cheia de nós que se encontrava cuidadosamente enrolada em cima da cômoda. Tirando toda a roupa, Roger se ajoelhou no meio do quarto e fez uma prece silenciosa. Depois, apanhando uma ponta da corda, fechou os olhos e golpeou-se com força no ombro, sentindo os nós baterem violentamente nas suas costas. Tornou a açoitar o ombro outra vez, dilacerando a própria carne.

Finalmente, sentiu o sangue começar a escorrer.

Na manhã seguinte, ao acordar, Roger ligou a tevê. Queria informações sobre John, saber se a polícia já havia encontrado o corpo do rapaz. Ficou ligado nos noticiários até próximo do meio dia, quando saiu do quarto para almoçar.

- Chegou tarde ontem, padre Roger - comentou o reverendo Cotton, um homem na casa dos oitenta anos, durante o almoço.

Roger Armstrong hesitou por um momento dramático falar alguma coisa.

- Qual é o problema? - indagou o reverendo Cotton.

Olhando para uma televisão que estava ligada na cozinha da casa dos padres, nos fundos da igreja, Roger lutava contra uma agitação interior cada vez maior. O corpo de John Baker tinha sido encontrado pelas autoridades.

O padre Armstrong emudeceu.

- Desligue essa droga de televisão, Susan - ordenou o reverendo Cotton para a empregada do lugar, uma mulher na casa dos cinquenta anos.

- Não! - gritou Roger.

O reverendo Cotton e a mulher olharam aturdidos para o padre.

- Você conhecia o rapaz, padre Roger? - indagou o religioso.

O padre sacudiu a cabeça.

- Não. Nunca o vi.

- Desligue isso logo, Susan - ordenou o reverendo.

Assustado, Roger tratou de sair, ansioso para chegar em seu quarto e se trancar.

- Com licença - disse ele, saindo da mesa. - Vou me deitar, estou com um pouco de dor de cabeça.

Roger Armstrong se trancou no quarto, pálido e tenso. O rosto era uma máscara de angústia.

" Eu matei uma pessoa, eu sou gay e ninguém sabe ", disse a si mesmo, fazendo um grande esforço para se controlar.

O padre sorriu.

- Não tem problema, eu já matei antes e ninguém nunca descobriu nada - disse ele, agora parecendo renovado, um outro homem.

Mesmo assim, as lembranças ainda o perseguiam, perturbando-o.

Quando estava na casa dos doze anos, uma noite voltando da escola, Roger havia sido abordado por três garotos que estudavam com ele, eles eram bem maiores e mais fortes também. Arrastaram o pequeno Roger para um beco escuro e o violentaram com brutalidade. Os valentões foram embora e o menino ficou ali jogado no chão, sangrando na região anal e sentindo uma culpa insuportável por ter deixado aquilo acontecer. Ele berrou de dor.

Filho de um pai alcoólatra e de uma mãe ausente, o pequeno Roger fugiu de casa, mas descobriu que as ruas de Londres eram igualmente hostis. Sua aparência delicada fez dele uma presa fácil para abusadores pervertidos. E isso moldou seu caráter. Matou pela primeira vez quando estava na casa dos dezoito anos. Foi um morador de rua na casa dos trinta e cinco anos que se encantou com sua beleza e o levou para um beco escuro e lá fizeram sexo. Enquanto mantinha relações com o homem, Roger ia sentindo que estava sendo dominado por emoções que jamais imaginou que existissem. Seu coração disparou. As lembranças do estupro sofrido quando tinha apenas doze anos num beco igualmente escuro como aquele que estava agora, afloraram em sua mente como um monstro vindo das profundezas. Ele sentiu ódio e repulsa. O rapaz quebrou o pescoço do amante e fugiu.

Roger Armstrong ficou esperando ser pego pela Scotland Yard, a polícia londrina, mas isso nunca aconteceu. Os meses foram passando e ninguém nunca descobriu seu crime, até que o caso foi arquivado. E ele pôde respirar aliviado.

Era noite de Natal, e Roger estava perambulando pelas ruas escuras e frias de Londres, com fome e exausto. Havia dias que não se alimentava decentemente. O som de vozes ecoou na escuridão, muito perto, e chamou sua atenção. Caminhou na direção das vozes, que agora se transformaram em gritos de angústia. Entrou em um beco mal iluminado e viu um homem enorme assaltando uma mulher e um padre. Sem pensar muito, Roger pegou um pedaço de madeira pesado que tinha no chão e acertou nas costas e na cabeça do homenzarrão. O bandido fugiu, deixando a mulher e o padre para trás.

- Obrigado, minha criança - disse o religioso. - O dinheiro das ofertas de Natal é tentador para os ladrões. Qual é o seu nome?

- É Roger. Roger Armstrong - respondeu ele.

- Roger é um bonito nome meu rapaz.

- Obrigado, padre.

- Me chame apenas de reverendo Cotton. E essa é minha auxiliar do lar, a senhora Susan Todd. - o religioso encarou Roger com mais atenção. - Você me parece que não comeu nada ainda hoje. Venha conosco, é nosso convidado para a ceia de Natal.

- Obrigado novamente, padre - a voz de Roger soou cansada -. Perdão, reverendo.

O religioso dirigiu-lhe um sorriso acolhedor.

Roger Armstrong comia feito um desesperado, como se aquela fosse a última refeição da vida.

- Não precisa comer com tanta pressa, criança - disse o reverendo.- A comida não vai sair correndo da mesa.

E os três riram muito.

- Você tem onde dormir essa noite, criança? - perguntou o religioso quando Roger estava indo embora após a ceia de Natal.

Roger emudeceu.

- Temos um quarto desocupado, se quiser pode dormir lá essa noite - disse o reverendo, abrindo um sorriso. - Vou pedir para Susan preparar lençóis limpos, e se desejar pode tomar um banho também, temos água morna.

Roger entrou na casa, fechando a porta atrás de si. E depois dessa noite, ele nunca mais deixou o lugar.

Roger Armstrong não podia acreditar em sua sorte. E era realmente um golpe de sorte inacreditável. Mais uma vez ele havia matado uma pessoa, e ninguém suspeitava dele. Em geral, Roger encontrava suas vítimas em bares para homossexuais na West End. Levava-as para seu apartamento, praticava sexo e depois as matava. Esquartejava seus corpos, os colocava dentro de sacos plásticos próprios para lixo e os jogava no Rio Tâmisa. Às vezes, ele levava meses entre um assassinato e outro, ou até anos. Mas nem todas as pessoas com quem Roger se relacionou ele matou.

Naquela mesma tarde, o padre Roger estava no confessionário quando um jovem entrou na igreja e foi direto onde ele se encontrava. Era um rapaz na casa dos dezessete anos, alto e esguio, olhos azuis e de uma beleza perturbadora. Ele entrou no confessionário e sentou-se numa cadeira. Ele e Armstrong estavam separados por uma tela deslizante com pequenos furos. O rapaz estava pálido e tenso.

- Padre - disse ele. - Tenho uma confissão a fazer.

Não sabia como começar. Estava procurando as palavras certas. Roger procurou estimulá-lo.

- Disse que tinha uma confissão a fazer.

- Isso mesmo. Eu... me deitei com um homem, padre - o rapaz começou a chorar. - E tive relações com ele, muitas vezes... e eu gostei.

Roger Armstrong sentiu-se estranho diante da confissão do rapaz. Não podia recriminá-lo, pois partilhava também do mesmo impulso sexual que dominava o jovem.

- Calma, calma - sussurrou ele. - Comece pelo início.

E o rapaz contou tudo.

À medida em que o rapaz ia se aprofundado em seu relato, ou confissão, Roger sentia-se ardente. A lascívia dominando-o ao ponto de colocar as mãos por baixo da batina e tocar-se, fazendo movimentos em seu órgão genital ereto, até chegar ao orgasmo.

- Padre, o senhor está bem? - perguntou o rapaz, preocupado, após ouvir um som estrangulado vindo do outro lado do confessionário.

- Sim... estou bem.

Roger Armstrong sorriu.

Uma hora depois, o agora padre Roger Armstrong parou diante do prédio onde mantinha um apartamento secreto para viver suas aventuras sexuais e cometer seus crimes bárbaros, no final da West End. O padre saiu do carro, estava acompanhado pelo garoto que horas antes estava se confessando com ele na igreja do distrito de Dolph. Olharam para os lados, depois encaminharam-se para a entrada do prédio. O rapaz, que se chamava Lucas, balbuciou:

- Então é aqui que você vem para cometer pecados, quando não está dando uma de padre?

Roger fitou-o em silêncio por um longo tempo.

- É, sim.

Os dois entraram no prédio e foram direto para o apartamento de Armstrong. No início, Lucas se manteve relutante. Quando Roger o abraçava, ele protestava:

- Calma, por favor... é minha primeira vez com outro homem.

O que deixava Roger ainda mais excitado.

- Não precisa fazer nada que não queira, entendido? - assegurou ele. - Vamos apenas sentar e conversar.

- Está desapontado comigo?

Roger segurou a mão de Lucas.

- Claro que não, meu querido.

Roger foi até a cozinha, preparou dois copos de bebida e em um deles derramou um líquido incolor. Ele voltou para o quarto e entregou o copo com o líquido para Lucas.

- O que é isso? - perguntou o rapaz.

- Serve para aumentar a energia. A nós - Roger levantou seu copo num brinde e ficou observando Lucas tomando tudo.

- É gostoso - disse o rapaz.

- Muito.

Roger Armstrong sorriu.

Passaram-se meia hora e Lucas se sentia estranho, a cabeça leve e uma alegria quase infantil. Roger abraçou Lucas e o beijou... e dessa vez não ouve resistência.

- Tire as roupas - ordenou Roger.

- Está bem.

Os olhos de Roger ficaram acompanhando Lucas tirando peça por peça de roupa, até ficar completamente nu, e ele se sentiu bastante excitado com a visão daquele corpo jovem. Ele era lindo. Roger também começou a se despir. Deitaram na cama e começaram a tocar seus corpos e trocar carícias. O rapaz passou suas mãos nas costas de Roger e assustou-se quando tocou nas feridas do padre.

- O que é isso? - perguntou Lucas, atônito.

- Sacrifício! - respondeu Roger, sorrindo perverso.

Lucas fitou-o, atordoado.

- Eu quero ir embora - disse ele. - Agora.

Roger acenou com a cabeça.

- Você não vai para lugar nenhum... eu vou matar você.

Naquele momento Roger Armstrong parecia ter se transformado em uma outra coisa. Tinha deixado de ser um anjo benevolente e se tornado um demônio aterrorizante. Ele desembrulhou o famigerado taco de beisebal envolto com arame farpado. Lucas olhou o objeto, assombrado. O homem avançou, os punhos segurando firmemente o infame taco de beisebol enrolado com arame.

Lucas recuou, apavorado.

Uma súbita explosão de raiva irrompeu nos olhos do padre. Ele atacou, levantando o bastão. Lucas desviou rápido para o lado, antes de ser golpeado mortalmente, e, quando fez isso, Roger perdeu o equilíbrio, caindo no chão, perto de um espelho de corpo inteiro. O rapaz aproveitou para jogar o objeto em cima do padre.

Agulhadas de dor dilaceram o corpo de Roger, quando os cacos de vidro fizeram contato perfeito com sua pele machucada. Lucas fugiu do apartamento apenas de cueca. E foi direto ao prédio onde funcionava o escritório da Scotland Yard.

Um minuto depois, a força policial da Scotland Yard estava em peso na frente do prédio onde Roger Armstrong tinha um apartamento. O imóvel estava vazio quando o chefe da guarnição e seus homens entraram. Ele bufou de raiva igual um touro bravo, exigindo a imediata prisão de Roger Armstrong. Fazia sete anos que a força policial de Londres buscava identificar e prender o serial killer responsável pela morte de onze homens gays na capital londrina. E agora eles sabia quem ele era.

Na casa dos padres, o reverendo Cotton estava em seu escritório particular folheando alguns documentos antigos, quando Susan entrou correndo.

- Reverendo Cotton! Reverendo Cotton! Dê uma olhada na tevê. O padre Roger está sendo acusado de ter matado todos aqueles homens.

A assistente do religioso ligou a televisão no canal policial e a imagem surgiu na tela. Um retrato falado fidelíssimo do padre Roger Armstrong estampava a matéria, em que ele era apontado como o assassino responsável pelas mortes de onze homens gays nos últimos sete anos.

- Padre Roger? - murmurou o reverendo Cotton. - Não posso acreditar!

Roger encontrava-se em seu quarto jogando algumas roupas em uma mala e pegando seus documentos, enquanto olhava para a tela da televisão e via seu retrato falado com total incredulidade.

" Isso não pode estar acontecendo, é um pesadelo! Oh, Deus, não faça isso comigo! "

Espiando pela janela, viu a silhueta de um carro se aproximando do lugar. No teto do carro, uma sirene de polícia. Logo atrás, vinham mais viaturas policiais. Um barulho no corredor o alertou. A tranca da porta moveu-se. A reação de Roger foi de susto, porém não destituído de cautela: " Não deixarei que ninguém me pegue! "

Ele deslizou rapidamente para trás da porta antes dessa ser colocada a baixo com um chute. O primeiro policial entrou como um tornado, apontando sua arma para a esquerda e a direita, para o que lhe pareceu um quarto vazio. Como um fantasma, Roger deslizou por trás de seu alvo, o policial percebeu sua presença tarde demais. Ele pegou a arma do homem e saiu correndo a toda velocidade, chocando-se com um segundo policial e ambos perdendo o equilíbrio. O policial levantou cambaleando, mas antes que pudesse impor algum tipo de reação, Roger o matou com um tiro na cabeça. O padre assassino impeliu fuga pelos corredores até alcançar o topo da escadaria. Roger desceu os degraus de dois em dois, e quando chegou a sala principal da casa dos padres, mais policiais estavam passando pela porta da frente.

Roger tentou voltar, mas notou a presença de um terceiro policial no topo da escada. Ele pulou de onde estava e caiu de pé no assoalho, depois abaixou-se para evitar um tiro que passou voando por cima da sua cabeça. Ele mirou seu revólver na direção do policial no exato momento em que os outros atiraram. Roger sentiu uma dor dilacerante abaixo das costelas.

- Roger, não!

Roger Armstrong virou-se e seus olhos se encontraram com os do reverendo Cotton. Ele largou sua arma no chão e caminhou com dificuldade na direção do reverendo, pedindo perdão, sua voz um lamento de agonia. As lágrimas escorrendo por seu rosto pálido, o peito sujo de sangue. Ele caiu aos pés de Cotton.

- Minha criança - cochichou o reverendo -, você está ferida.

Roger olhou rapidamente para baixo, o rosto contorcido de angústia.

- Perdoe-me, por favor, reverendo. - Ele parecia estar sofrendo demais até para falar.

- Nosso Senhor é um Deus bom e misericordioso, filho - respondeu o reverendo.

Fechando os olhos, o padre Roger fez uma última prece. A dor no peito começou a desaparecer, e ele viu o que parecia ser o inferno.

FIM

Temas: SEDUÇÃO MORTAL e CRIMES BÁRBAROS.

Johnathan King
Enviado por Johnathan King em 28/05/2021
Reeditado em 30/05/2021
Código do texto: T7266301
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