UM MATADOR ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA.

A viatura da Rota, Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, passou veloz pela avenida Juscelino Kubitschek, no bairro paulistano do Jari. Os policiais desceram da viatura e abriram espaço entre a multidão de curiosos. Os violentos anos 80, o crescimento da metrópole, as levas de imigrantes, as favelas e outros problemas. -"Mais um presunto e mais um mistério." Disse o policial Fernando. -"Um cadáver de um homem de meia idade. As marcas de faca. Os olhos foram retirados. Três dedos cortados da mão direita." A roda de curiosos dispersada. -"É o Dino da Serrinha, líder da gangue do Jari." Disse um rapaz ao policial. O corpo coberto com jornais. A chegada dos peritos. O rabecão veio junto da veraneio vascaína. O delegado Mendonça chegou no seu Opala preto. O homem, de terno xadrez e bigode grosso, tirou um cigarro do maço de Hollywood. O policial Felipe, sósia de Eddie Murphy, acendeu o isqueiro para o delegado. -"É o Dino. Alguém o pegou de jeito e poupou nosso trabalho. Uma gangue rival talvez." As equipes de reportagem chegaram ao bairro pobre da periferia, ao lado da favela do Encantado. O famoso repórter policial Gil Gomes. O fato contado em detalhes para o programa de rádio. As fotos de Dino sairiam no jornal Notícias Populares, que diziam pingar sangue se torcido. -"Quem encontrou o cadáver foi Tibério, catador de recicláveis." Disse o Pedrão, dono do boteco de frente ao terreno baldio onde Dino foi achado. O policial foi até o rapaz magrelo com camisa do Juventus da Moóca. -"Era seis da manhã, senhor. Fui na padaria e vi o rapaz morto. Era um terror no Jari e na favela. Gente ruim que nem o capeta vai querer." O policial anotou os dados do catador de recicláveis. -"Vai fazer falta não. A polícia não resolve, alguém fez o serviço." Gritou uma mulher, sendo aplaudida pela multidão. O policial Fernando colheu os dados da mulher, dona Renata, uma feirante. -" Parece que o povo daqui temia o Dino. Estão contentes com a morte do maluco." Cochichou Fernando ao delegado. -"Esse aí não vai estuprar nem matar mais ninguém. Deviam ter cortado todos os dedos do peste." Disse um rapaz ao delegado. -"Fernando, anota o nome de todo mundo aqui. Todo mundo é suspeito." O rapaz quis sair dali. -"O moço vai aonde? Vai ser levado como testemunha pois está com muita raiva no coração." O policial coletou o nome de mais de trinta pessoas. A ficha policial do bandido morto era extensa. Quatro mortes, roubo, sequestro e estupros. Dino era um dos líderes do tráfico na favela do Encantado. O delegado e investigadores fizeram diligências na vizinha favela do Encantado, atrás de pistas. Nada encontraram. A gangue do Encantado tinha se mudado da favela da Pindura. O delegado Mendonça descobriu que o líder, João Quebra Queixo, era primo do Dino. Isso o tirava da lista de suspeitos. Os investigadores percorreram o bairro. Três dias a procura de alguma pista do matador do Dino. -"Ele era ruim mesmo. Tinha muitos inimigos. Ameaçou o Juvenal, o porteiro da Santa Casa. Um senhor de boa índole, obreiro da nossa igreja." Disse Rosineide, vendedora de tapiocas, ao investigador Praxedes. Era um fato novo e merecia ser investigado. A mulher passou o endereço do Juvenal ao policial. O homem barbudo e de regatas, cuidava de suas gaiolas de passarinho quando os investigadores chegaram. A casa amarela de esquina tinha uma rede estendida no alpendre cheio de vasos de samambaias. O rádio tocava Luis Gonzaga. Um menino saboreava um prato de baião de dois. Três cães latiram aos policiais. -"Voinho. Tem gente no portão e é milico." Gritou o menino de dez anos. -"Não se diz milico, Severino. Se diz policial, com respeito que esses heróis merecem. Entrem, meus caros." Três mulheres apareceram na porta. -"Boa tarde. Gostaríamos de fazer algumas perguntas ao senhor." Praxedes foi objetivo. -"Penha, leve os cachorros pro quintal dos fundos. Que zoeira danada que não se escuta nada." A perua da pamonha passou na rua. -"Gertrude, compre pamonha pra nós! Faça um café aos policiais." Pediu Juvenal a filha, Deolinda. Os investigadores pediram água. Juvenal trouxe cadeiras a eles. -"Vão comer uma pamonha comigo. Não se comparam as de Caruaru mas enganam. Sou Juvenal, de Caruaru." Ele estendeu a mão aos policiais. -"Sou o investigador Praxedes. O senhor é muito gentil. Parece até parente da gente mas vamos lá. A dona Rosineide disse que o Dino ameaçou o senhor. Há algum tempo. Procede?" O homem se manteve calmo. -"Sim. O moço passou em frente a Santa Casa e fez xixi no jardim. Apenas o adverti mas ele veio pra cima de mim. Estava com três amigos. Eu tremi todo de medo deles. As câmeras filmaram o fato. Eu corri pra dentro do hospital." O investigador anotava tudo. -"Que barbaridade, ameaçar um senhor que está fazendo seu serviço?! O senhor poderia me dar seu documento de identidade?" Juvenal tirou o RG do bolso. Junto saiu uma fita verde do Senhor do Bonfim. O investigador devolveu a fita ao homem. -"Está certo. Aqui está seu documento, seu Juvenal. O senhor é de 1920! Vai fazer sessenta e um em julho. Que ano o senhor veio pra São Paulo?" O homem alisou os cabelos. -" Sim. Em julho faço sessenta e um. Não sou mais menino, certo? Vim pra cá em 1958, após morar seis anos no Acre e no Paraná. Eu vi crescer o bairro do Jari. Era chamado de morro da pedra, antes. Morei num barraco, no Encantado, antes de casar com Maria Lucidia. Fui líder de moradores e candidato a vereador mas não deu pra ganhar. Era uma época boa, de mutirão e solidariedade entre os moradores." O investigador prestava atenção. Juvenal continuou. -"Era um frio de doer os ossos mas me acostumei. Fui cobrador de ônibus e levava duas horas pra chegar ao trabalho. São Paulo era como uma cidade do interior mas depois cresceu demais da conta. Os edifícios e grandes avenidas surgiram. Um monte de gente chegando e tudo cresceu veloz, da noite para o dia. Fui fazer um bico de portaria na Santa Casa e lá conheci o doutor Antônio Ermírio de Moraes. Ficamos amigos e trabalhei até de chofer do milionário do cimento. Homem simples e bom, ele ajudava os pobres." Três mulheres vieram até o portão. -"Moço, o seu Juvenal é homem bom, um anjo de Deus. Deixem ele em paz." O investigador sorriu. -"Está tudo bem, dona Lurdes. Estão fazendo o trabalho deles." Respondeu Juvenal. -"Agradecemos a pamonha e o café, seu Juvenal. Vamos indo." Os investigadores entraram na viatura. -"Que homem gentil. Queria tocar sanfona pra gente!" Disse Almeida. Praxedes acendeu um cigarro. -"Sei não. Notei um riso no canto da boca dele quando falamos dos dedos arrancados do Dino. Ele morou no Encantado e lá às coisas se acalmaram a ponto dos bandidos sumirem de lá. Vamos ver no sistema." Na delegacia, o investigador Praxedes analisou as mortes de foras da lei na favela do Encantado. As fotos dos arquivos. -"Três líderes de tráfico mortos, todos a faca. Dedos e olhos arrancados." Disse o investigador ao delegado Mendonça. -"Está achando que há relação entre os casos? Essas mortes no Encantado foram há quatro anos." O investigador estava eufórico. -"Mesma época que o tal Juvenal saiu de lá, comprando uma boa casa no Jari." O delegado Mendonça discordou. -"O homem está limpo, sem mancha no currículo. Um senhor de igreja, de família e amado pela comunidade. Não creio." Uma semana depois. A notícia de que o bando de Orlando Caveira passara a dominar o morro do Encantado, cobrando propina de alguns comerciantes em troca de proteção. As denúncias no programa O Povo na Tevê, do SBT. A raiva na voz do jornalista Wagner Montes. -"Orlando Caveira tacando terror no Encantado, amedrontando os comerciantes. Um roteiro de filmes de terror." A foto de Orlando Caveira na tevê e nos jornais. Um dia depois, uma ligação anônima para a polícia, sobre um cadáver encontrado num beco. O delegado Mendonça reconheceu o corpo de Orlando Caveira. Os investigadores Almeida e Praxedes no caso. -"Degolado, os dedos arrancados com requintes de crueldade. Golpes de faca no tórax indicam que o bom moço sofreu antes de ir pro inferno. Temos um matador na área." O delegado concordou com Praxedes. -"É um justiceiro, certamente. Quem ameaçar a paz nesses bairros vai ter o mesmo fim." Dois dias depois. Juvenal voltava do trabalho. A viatura policial a sua frente. -"Bom dia, senhor. Os documentos, por favor." Ordenou o policial Fernando. Juvenal foi revistado. -"Venho do trabalho. Sou porteiro na Santa Casa." O policial conferiu os documentos. -"E mora onde, por favor?" Juvenal estava calmo. -"No Jari. Há tempos, desde a fundação do bairro. Meu carro quebrou e vim andando." Juvenal foi revistado. -" Está limpo. Liberado, pode ir. Bom descanso." Juvenal seguiu seu caminho. Mais a frente, a viatura cruzou com o carro de Praxedes. -"Policial Fernando, tem dois mortos num terreno baldio, aqui perto. Segundo informações, são homens bando do Orlando Caveira. Os presuntos estão frescos." O policial Fernando seguiu o carro do investigador. O sol nasceu e trouxe os curiosos. O rabecão, a polícia técnica e os peritos presentes. As equipes de reportagem. O delegado Mendonça estava inquieto. -"Esse cara está fazendo um limpa na bandidagem. Bom por um lado mas não pode fazer isso, justiça com as próprias mãos." Praxedes conversou com os peritos. -"Degolados. Cortes profundos e exatos na jugular além de várias perfurações no coração." Praxedes conversou com o policial Fernando. -" Estava em patrulha na área, nada de anormal. Um senhor veio da avenida Trinta de Junho, vindo do trabalho, o nome dele era Juvenal." Praxedes arregalou os olhos. Passou ao outro as características de Juvenal. -"Esse mesmo, homem risonho, bom papo. Revistei-o e estava limpo, sem armas." Fernando foi detalhista. -"Eram cinco e dez. Os peritos calcularam que as mortes ocorreram por volta de quatro e meia." A tarde, Praxedes foi até a Santa Casa. Conversou com o guarda civil de plantão. Ele teve acesso aos cartões de ponto dos funcionários, na portaria. O cartão de Juvenal picotado as quatro horas. O investigador andou pelo prédio, a fim de despistar sobre sua visita inesperada. -"O homem saiu às quatro. As mortes foram as quatro e meia. O Fernando o encontrou as cinco. Será que ele teve tempo de matar? O guarda confirmou que o carro dele tá quebrado no estacionamento. Daqui até o Jari dá uma hora de caminhada, exatamente no tempo que o policial Fernando o revistou. Estranho." Praxedes passou a seguir Juvenal. O homem era chegado num forró. A casa cheia de gente. Vivia do trabalho pra casa, da casa pra igreja. O delegado Mendonça convocou a imprensa e deu os casos como encerrados. -"Briga de bandos rivais, sem um assassino confesso ou conhecido. O que não tem solução, solucionado está." A paz reinou no Jari e no Encantado. Algum delito aqui, outro ali mas nada de gangues e bandos de arruaceiros. Um ponto de drogas aqui, outro ali mas tudo pequeno e escondido. Havia um medo no ar, um respeito aos moradores e comerciantes. Praxedes foi transferido para o interior de São Paulo, onde se aposentou vinte anos depois, em 2001. Gozava a merecida aposentadoria em Barra Bonita. As pescarias no rio Tietê, os passeios de barco com os filhos. A espera do nascimento do primeiro neto. Nos encontros de antigos policiais, alguém sempre recordava das mortes sem solução no Jari e no Encantado. Isso era uma mancha no currículo exemplar do antigo investigador. -"Pra mim, foi o Juvenal. Ele viu aquilo crescer, conhecia cada família e falava com amor dos tempos de paz. Quando alguém vem e tira essa paz ele sofria, se é que ainda está vivo. Tanto tempo já passou." Praxedes se emocionava. -"Ainda que aqueles que morreram fossem criminosos, a lei não permite olho por olho, dente por dente. A lei de Talião já se foi." A filha de Praxedes na mesa de parto. Um telefonema da capital. -"Praxedes? Investigador Praxedes?!" Era uma voz feminina. -"Sou eu. Pode falar." Ele pensou no pior. Orou para que seu neto nascesse bem. -"É a Lucinda, neta de Juvenal. Falo da capital paulista." Praxedes estava assustado. -"Meu pai está morrendo, ele quer falar com o senhor." Praxedes pegou o endereço da moça. -"Eu estou indo. Tomara que ele se recupere." Praxedes viajou pra São Paulo, após conversar com sua esposa e sua filha. Ligou para Almeida, aposentado como ele e ainda morando na capital. -"Vamos até a casa do Juvenal, o homem está indo embora e quer falar comigo. Leve a filmadora pois creio que teremos uma grata surpresa." Os dois amigos chegaram a casa de Juvenal. Praxedes voltou no tempo. A casa tinha outra cor. Sem a rede na garagem. Lucinda os recebeu. -"Entrem. Minha avó se foi há dez anos e papai sofreu com isso. Aposentado, vivia para os netinhos. O médico o mandou pra casa, não suporta hemodiálise e os remédios fortes. Ele quer morrer na casa dele." Praxedes engoliu em seco. Lucinda apresentou seus irmãos, Diolando e Dilermando. Eles se revezavam nos cuidados com o velho Juvenal. Praxedes e Almeida entraram no quarto. Almeida reparou no luxo dos móveis. Era uma casa luxuosa para os padrões do bairro. O homem raquítico quase era imperceptível na cama King, cercado de grandes almofadas. O criado mudo cheio de caixas de remédios. -"Praxedes. Você veio, comedor de pamonha." Almeida riu. Praxedes cumprimentou o homem de pijamas e com o terço nas mãos. -"Terço? O senhor não era evangélico, seu Juvenal?" O homem sorriu. -" Ainda sou mas o Deus é o mesmo. Sempre rezei o terço e sou devoto de Nossa Senhora Aparecida desde criança." O homem tossiu. A voz dele estava fraca e quase inaudível. -"O meu andador, por favor. Praxedes, você não tinha cabelos brancos." O antigo investigador sorriu, olhando com compaixão para aquele homem debilitado. A filha de Juvenal colocou o andador a frente dele. Os filhos ajudaram o pai a sair da cama. Juvenal puxou o ar. -"Maldito cigarro. Ele não vai me deixar chegar aos cem anos. Nem a mãe de vocês soube disso, morreu sem saber." Juvenal apontou a porta do guarda roupas. -"Por favor, tirem essas roupas. No meio do guarda roupas." Os filhos obedeceram. Juvenal entrou. Uma chave escondida. Um fundo falso. Uma passagem secreta. Os filhos surpresos. Um pequeno quarto se revelou. As fotos nas paredes. Um mapa da cidade. Listas telefônicas. Uma roupa protegida por um vidro. Dezenas de chapéus e perucas. Rifles, revólveres e uma coleção de facas. Juvenal precisou ser amparado. A filha trouxe água com açúcar pra ele. Praxedes ligou um ventilador. Praxedes e Almeida viram suas fotos na parede, junto do delegado Mendonça. As fotos de Dino, de Orlando Caveira e outros bandidos mortos. Os filhos ajudaram Juvenal a sentar-se numa cadeira. Praxedes pediu para Almeida ligar a filmadora. Nas paredes, a cronologia dos crimes, a foto e a data das execuções. Uma gaveta. Juvenal abriu e tirou alguns documentos. -"Sou Expedito da Anunciação e Souza. Dito Velho, como era conhecido na Bahia e Sergipe. Fui cangaceiro do bando de Francisco Treva, subgrupo do famoso Meia Lua. Entrei para o cangaço com dezesseis anos, irado pelas surras de meus pais. Aprendi a brigar e a matar. Gostava de saquear as fazendas e botar fogo nas casas. Conheci Corisco, após a morte de Lampião, em 1938." Juvenal pediu água. -"Continuando. Abandonei o cangaço e passei a colaborar com a polícia, perseguindo e matando muitos deles mas roubando-lhes dinheiro e ouro. Falsifiquei documentos e mudei meu nome. Vim pra São Paulo e me escondi, com medo de ser descoberto e morto. Há muitos ex-cangaceiros por aí. Meu amigo Mundico, no começo da invasão ao Encantado, teve a única filha morta por bandidos. O homem estava possesso por vingança. Ele sabia da minha história e me pagou bem pra fazer justiça." Juvenal apontou para a primeira foto na linha da parede. -"Malaquias e seus dois irmãos. Estavam livres, tranquilos. Foi a única vez que sai vestido com minha roupa do cangaço. Era jovem e ágil. Amarrei os três e sangrei-os até a morte. Mundico não quis participar mas ficou feliz ao ver as fotos dos cadáveres nós jornais. Passei a cobrar caro pelas mortes e juntei um bom capital. Meus filhos são formados e viveram sempre no luxo. Aquele emprego era pra passar o tempo, ter um álibi e conhecer gente." Praxedes estava boquiaberto. -"Eu sempre desconfiei. Eu estava certo." Almeida suava enquanto filmava tudo. -"O senhor, meu pai. Sempre odiou violência e palavrões. Meu Deus." A filha de Juvenal custava a crer no que ouvia. -"Dino. Rapaz me ameaçou, coitado. Fiquei com a mão coçando pra não puxar a peixeira e sangrar o filho da mãe ali mesmo na calçada. Ele pediu perdão antes de morrer. Idiota. Orlando Caveira foi bem pago. Tive prazer em mandar o trouxa para o inferno." Praxedes se aproximou. -"O senhor merece o céu ou o inferno?" Juvenal estava chorando. Os filhos distantes. -"Não somos nós que decidimos." Almeida parou de filmar. -"Se essa história sair daqui, seus filhos e netos terão que viver escondidos, protegidos. Muitos virão atrás deles e sabe lá o que farão." Praxedes concordou. -" Aqui no Google, ao digitar cangaceiro Dito Velho, aparece aquela foto alí mas o paradeiro é desconhecido. Pra todos os efeitos, o senhor está desaparecido. Querem revelar tudo ao mundo ou preservar a memória do bom e velho Juvenal?" Os filhos se olharam. Nem precisavam responder. -" Vamos fazer uma fogueira no quintal e queimar tudo isso. Queimar qualquer rastro do passado. Levarei as armas e darei um fim a elas. O Velho Dito ficou no passado." Juvenal estendeu a mão a Praxedes. -"Muito obrigado, investigador." Os filhos abraçaram Juvenal. Tempo depois, uma fogueira foi acesa no quintal. Os pertences de Juvenal foram queimados. -"Pra todos os efeitos é comemoração de São João." Disse Deolinda. A batata doce assando nas brasas. Praxedes colocou a caixa com armas na sua caminhonete. Almeida tirou a fita da câmera e a jogou na fogueira. -"Pronto. Lá vai o Dito Velho. É o fim." Um dos filhos de Juvenal tirou a roupa de cangaceiro do vidro. Juvenal, deitado, abriu um pouco os olhos. A calça, o casaco, o gibão de couro, foram as últimas coisas que ele viu, antes de fechar os olhos pra sempre. FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 03/06/2021
Reeditado em 04/06/2021
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