TERROR NA ESTRADA.

A nevasca chegara de vez a pequena Wolvesville. O povoado de oito mil pessoas parecia um poster natalina, com a neve cobrindo os telhados. Eram dez da noite quando o caminhão de Paul Stones estacionou em frente a pousada de seu amigo, William. Ele olhou o letreiro de neon na fachada. O caminhoneiro desceu e jogou o cigarro no chão, apagando com a bota. Uma noite muito fria. -"Impossível seguir viagem com esse tempo." Ele entrou. Alguns jovens no balcão, degustando cerveja. Dois homens jogando sinuca. O velho William lavando copos. A tevê ligada mostrava o jogo do Celtics contra os Lakers. -"O que tem pra comer, Will?" Paul Stones se acomodou num banquinho. O balcão de madeira de carvalho. -"Olá, Paul. Eu faço um lanche no capricho pra você, em minutos. Como está a estrada?" Paul Stones sorriu. Ele sempre parava ali, a caminho de Detroit. -"Muita neve. Como vai a família, Will?" O barman sorriu e colocou uma caneca de cerveja a frente do caminhoneiro. -"Muito bem, meu amigo. Sara está melhor da perna." William olhou para os lados e se aproximou. -"O que está levando dessa vez?" Paul Stones pigarreou. Não gostava de falar sobre as mercadorias que carregava, com medo de assaltantes. -"Melancias, Will. Para a festa de Detroit, vai ter corrida da Indy. O brasileiro Tony Kanaan deve vencer." Os dois homens jogando sinuca se olharam. Paul Stones terminou de tomar sua cerveja e sorriu ao ver o lanche pronto a sua frente. As pessoas foram embora. Paul Stones ajudou a limpar as mesas e a fechar o local. -"Estou indo, Paul. Pode se acomodar no quartinho de cima, como sempre. Até amanhã às dez." Paul sorriu. -"Obrigado, amigo. Eu sairei após sua chegada." O dono do estabelecimento saiu e entrou na caminhonete. Paul Stones subiu até o quarto. Ele se jogou na cama, cansado. O sono veio ligeiro. Meia noite. Dois vultos se aproximaram do caminhão. A faca rasgou a lona. O homem de capuz enfiou o indicador no rasgo. -"Não é melancia mas sim cigarro." Eles foram até a cabine. Um deles apontou para a pousada. Era onde Paul Stones dormia. Os primeiros raios de sol. William chegou. Paul Stones já estava de pé e se despediu do amigo. -"Valeu, Will. Me sinto ótimo com esse descanso." O caminhão de volta a estrada. Paul Stones parou num posto, às dez da manhã. -"Melhor parar. Esse é um dos últimos postos até Darkcity. Um frentista novo chamou a sua atenção. -"Olá, amigo. Onde está o velho Jonh?" O frentista cruzou os braços.-"Doente. O velho John está no hospital." Paul Stones pediu que o outro completasse o tanque. A loja de conveniência. A porta de vidro aberta. -"Onde está a doce Mary? O funcionário Thom?" Disse ao casal no balcão. Um homem idoso varria o salão. -"O posto mudou de dono, amigo. O que vai querer?" Paul Stones olhou em volta, ressabiado. -"Vou ao banheiro, na volta eu pego mercadoria!" Ele enveredou pelo corredor, em direção ao banheiro. Conhecia aquele local como poucos. Um quarto ao lado do banheiro. Paul Stones forçou o trinco da porta. Ele ouviu um gemido. -"Devem estar amarrados aí dentro. Mary jamais venderia esse lugar." Paul sacou o revólver. Ele voltou ao salão. Apanhou as mercadorias e pagou com o cartão. O homem lhe deu as sacolas. -"Guarde a arma. Somos de paz." Disse a mulher. Paul não deu as costas ao sair. Sentiu o cano de um rifle na cabeça. Era o frentista. O casal do balcão saiu de armas em punho. Paul Stones estava dominado. Ele foi amarrado e amordaçado. Uma coronhada na cabeça. Paul despertou, horas depois, no almoxarifado do posto, junto dos cadáveres de Mary e Thom. O seu caminhão já estava longe do local. -"Maldita hora que aceitei levar drogas!" Ele pensou na filha de dois meses e no valor do leite e do pacote de fraldas, nos gastos com a pediatra e no bem estar da pequena Chelsea. Aquela viagem era arriscada mas muito lucrativa. Paul Stones ouviu tiros. Um calor infernal anunciava que os bandidos tinham incendiado tudo. Paul conseguiu sair do almoxarifado. Ele sentiu um forte cheiro de queimado. O posto em chamas. As equipes de polícia e de bombeiros chegando. As sirenes. Paul Stones entrou num carro. Uma ligação direta e ele estava na rodovia, indo em direção a pousada de Will. Ele chegou e chutou a porta. Will estava caído no chão, com um tiro na testa. Paul sentiu raiva. -"Malditos!" Ele pegou as chaves da caminhonete do amigo. O pé fundo no acelerador. Ligou, em vão, para sua empresa pra anunciar o roubo do caminhão. O telefone da esposa não atendia. Paul entrou numa estrada de terra. O mato alto. Uma casa velha. O velho Olav guardava armas no local. Paul Stones chutou e arrebentou a porta. Um porão. As armas escondidas. Paul Stones estava armado até os dentes. As facas e pistolas. Um arco. Paul Stones estava de novo na estrada. -"Sinto que foram pra Daytona. Estão na via expressa." A noite caiu. Paul Stones avistou o caminhão. Reconheceu os dois homens que jogavam sinuca, ao emparelhar a caminhonete ao bruto. Paul tentou atirar nos pneus, sem sucesso. Ele tentou ligar pra polícia. O caminhão entrou num galpão vazio. Paul reconheceu o frentista e o casal do posto de gasolina. Paul sentiu um torpor ao ver aquele frentista. A cabeça doeu. Ele caiu como se tivesse tomado um tiro na cabeça. Paul Stones, algum tempo depois, abriu os olhos. Visualizou os bandidos novamente. Eles sorriam e bebiam cerveja. -"Essa carga foi lucrativa." Disse o frentista. Paul Stones avançou com a caminhonete. Ele saiu do carro e deu vários tiros nos integrantes daquela qaquela quadrilha. -"Morram, desgraçados." Paul estava furioso e descarregou suas armas. -"Me dê outra cerveja, Mary. Vamos brindar a boa vida que nos espera em Miami. Aquele idiota levava muita droga até Detroit e devia estar recebendo bem para esse serviço." Disse o frentista. -"Errei os tiros! Estão vivos!" Paul Stones não entendia nada. Ele viu sua carteira recheada de dinheiro com um dos bandidos. -"Filho da puta, esse dinheiro pertence a mim." Paul socou o homem mas ele nem sequer se mexeu. Quatro carros invadiram o galpão. Paul Stones se virou. A quadrilha toda com medo. Paul reconheceu o homem de barba longa e anéis de ouro. Era o traficante Del Vecchio. As metralhadoras raivosas. A quadrilha morta pelos homens de Del Vecchio. Paul Stones se escondeu atrás de uma pilastra, com medo dos tiros. -"Idiotas. Deu trabalho pra rastrear esses filhos da puta." Del Vecchio deu um tiro na cabeça do homem que agonizava. -"Isso é pela morte de meu amigo Paul." O caminhoneiro aterrorizado. Ele sentiu um cheiro de fumaça. -"Morte? Como assim, eu morri? Meu Deus, eu morri!" Ele estava com as roupas chamuscadas. Sua pele sangrava. -"Por isso minhas balas não fizeram nada, sou um fantasma." Ele saiu desolado. Olhou para o caminhão, depenado nos fundos do galpão. A caminhonete de Will não estava mais alí. Paul Stones andou até a estrada. Os fantasmas de outros caminhoneiros, andando pela rodovia. Um motoqueiro o cercou. -"Paul Stones?! Quer uma carona até Detroit?!?" O rapaz se transformou numa caveira e sua moto pegava fogo. -"Motoqueiro fantasma? Você existe mesmo??" Paul Stones subiu na garupa. -"Somos todos caveiras, meu amigo!" FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 23/10/2021
Reeditado em 26/10/2021
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