A sanguessuga maldita

Um homem espectral, pálido e de cabelos esguios, despertou minha atenção enquanto ele vagava, sorrindo, uma figura ingênua e tímida. Ah, cheio de ternura, sem suspeitar que seu sangue era mais perfumado do que o de todos os homens do mundo. Acompanhava-o uma sombra, um ente que o segredava aos poucos, possuindo sua alma incauta. Seu destino estava traçado, o relógio de sua vida se esvaía. Havia um espírito que o espreitava, dia e noite, observando aquela alma indefesa, perdida neste mundo cruel. O homem sorria, em sua plena ingenuidade, revelando o tom pálido de sua pele ao descartar o manto que ocultava a vergonha de seu corpo debilitado. Poucos músculos. Finalmente, a sombra que o perseguia o aprisionou, de maneira terrível e grotesca, sussurrando em seu ouvido as melodias mais belas que a história conhece, tomando posse de sua alma desamparada. No peito do homem, uma ferida aberta dava acesso ao que ele possuía de mais precioso: o coração. As pulsações desse órgão eram estranhas, semelhantes ao tiquetaque do relógio, fracas e lentas. O espírito possessor cravou as mãos em seu peito, arrancando-lhe o coração, sorvendo todo o sangue jorrante. Contudo, o sangue não saciava o apetite insaciável do espírito malévolo, e o pobre homem, com alma frágil, começou a definhar e definhar, sorrindo. Sorria, pois sua alma indefesa desconhecia a natureza maléfica do espírito que o possuía. O pobre homem acreditava que estava sendo dominado pelo espírito da pureza do amor, acreditava que sua alma estava sendo purificada das gélidas impurezas do mundo que haviam apodrecido seu coração. A morte não se aproximou; o homem vagava incessantemente, quase morto, sem perceber que era sugado dia e noite. Pálido e sorridente, ninguém notava sua dor. O espírito maligno que o dominava silenciava suas palavras e comandava seu corpo, conduzindo-o por caminhos sombrios. O homem, então, decidiu beber do cálice que sabia ser o antídoto contra o sanguessuga: o cálice do vinho. Todo espírito maligno possui fraquezas. A fraqueza daquele espírito era o vinho, não o sangue. O homem alimentava seu espírito maligno com vinho, sabendo que aquele era o antídoto capaz de derrotar o mal. Pouco a pouco, o espírito embriagado enfraquecia, morria, definhou, definhou, definhou. Aos poucos, aquela sombra desaparecia do corpo daquela alma ingênua e uma luz resplandeceu em seu frágil ser, libertando-o da crueldade dos caminhos escuros daquele espírito malévolo. Seu corpo, pálido e esguio, foi preenchido de ternura e felicidade, enquanto a alma sombria, infeliz e obscura definhava. Todo o seu coração se abriu, jorrando sangue, amor e esperança. A luz alcançou aquela alma pobre, ingênua e desamparada, mesmo tendo manchado a carne de uma mulher indefesa, tornou-se indefeso. Aquela pobre alma ingênua.

Carolina Duvir
Enviado por Carolina Duvir em 09/12/2021
Reeditado em 14/07/2023
Código do texto: T7403805
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