O QUE FAZER COM O BLOQUEIO CRIATIVO?

 

    De onde vêm as ideias, afinal?

 

    Este é um dos questionamentos de Nano Fragonese no seu livro “Dicas para escritores, um guia descomplicado” que procura responder uma demanda muito comum em todo escritor que se depara diante de uma tela em branco de computador e não consegue elaborar uma boa história. Este fenômeno comum, que desafia tanto escritores amadores quanto profissionais, é conhecido como o famigerado bloqueio criativo.

 

    Todos nós, na arte de escrever ficção, temos um jeitinho de procurar ideias novas para desenvolver narrativas e driblar o bloqueio criativo. Procuramos ideias ou, muitas vezes, as ideias é que nos procuram. Tem gente que acorda de um sonho com um enredo bem encaminhado, outro está no banheiro lavando os cabelos e, de repente, algo interessante surge do nada. São os mistérios!

 

    Segundo Fragonese, o desenvolvimento de ideias passa, assim como toda atividade criativa, por exercitar o cérebro, mas tendo o cuidado de não forçá-lo demais a fim de não correr o risco de causar o efeito contrário: bloquear a mente à criação. Não se pode dizer ao cérebro, de repente, que “faça-se a luz” e um monte de enredos originais e mirabolantes irá aparecer na sua frente.

 

    Fragonese diz, então, que para desenvolver uma mente aberta às criações de histórias há a necessidade de direcioná-la e alimentá-la bem e, pra isso, o escritor precisa de um repertório, queé uma série de informações, emoções, vivências, gostos, etc, que você guarda no seu íntimo. Cada livro que você lê, cada viagem que faz, cada nova música que te toca”. São dados que ficam guardados na sua cabeça e dos quais poderão servir para usar em alguma ideia ou mesmo a partir dela desenvolver uma narrativa completa. 

 

    Por isso, se você é contista, a recomendação mais óbvia é ler muitos contos; e ler de todos os gêneros, dos clássicos aos mais modernos. No entanto, outras fontes como filmes, séries, gibis, jogos de videogame, causos de pessoas da família, tanto aqueles que contam quanto aqueles que são objetos das narrativas, valem da mesma forma. É preciso deixar à mão, guardado na memória, o maior número de ingredientes possíveis na intenção de usar quando você encarar a tarefa de fazer um bolo.

 

    Há sempre boas dicas na Internet direcionadas a superar os bloqueios criativos que, vez por outra, impedem o nosso caminho. Segundo Stephen King, apenas a título de reflexão, o escritor deve ser como um paleontólogo atento, porque as boas histórias são como fósseis: elas já estão prontas e bem enterradas, de modo que se precisa muita atenção e jeito para desenterrá-las. Penso que através das informações no nosso repertório mental, podemos encontrar um osso promissor despontando em algum lugar à nossa frente.

 

    E sobre as ideias originais de terror?

 

    “O Castelo de Otranto” foi escrito em 1764 por Horace Walpole e é considerado como o primeiro romance da literatura gótica, servindo de inspiração aos grandes escritores do gênero fantástico como, por exemplo, Bram Stoker, Ann Radcliffe, Mary Shelley, Stephen King, etc. De lá pra cá já se vão aí mais de 250 anos, ou seja, muita água já correu debaixo desta ponte e podemos dizer que quase tudo já foi escrito em termos de ideias sobre o gênero terror, assim como outros gêneros também.

 

    Sendo assim, meus caros, é muito difícil criar uma história completamente original hoje em dia. Não afirmo ser impossível, afirmo ser muito difícil. Então, assim como os grandes escritores, a exemplo do próprio Bram Stocker, que escreveu "Drácula" fortemente inspirado em “O Vampiro” do seu contemporâneo John William Polidori, que por sua vez influenciou todas as outras histórias de vampiros, por que nós não podemos nos inspirar em outras obras também?

 

    A inspiração de outras obras é, sim, um caminho para se criar uma boa narrativa. Aqui no CLTS já vimos inúmeros comentários do tipo, “ah, este teu conto me lembrou esse ou aquele filme, esse ou aquele conto”. Não estou falando de plagiar, estou falando de se inspirar no sentido de trazer elementos de ideias já lançadas sob uma perspectiva completamente diferente, trazendo coisas novas em cima daquilo que já foi feito.

 

    Veja você, num dos temas desta 20ª edição do CLTS (Concurso de Literatura de Terror e Suspense), estamos propondo algo que vai um pouco além da própria inspiração, que é revisitar histórias consagradas, e de domínio público, para buscar uma perspectiva nova. Em Contos de Fadas Sombrios, por exemplo, você terá que usar da criatividade também para buscar algo diferente dentro de caminhos já trilhados.

 

    Claro, a inspiração é algo muito mais sutil do que simplesmente repaginar, revisitar ou recauchutar uma fábula já conhecida, mas ela pode te servir bem para destravar um enredo dentro da sua cabeça que está teimando em não sair. Voltemos, portanto, na questão do repertório: quanto mais você consumir histórias ou filmes de gêneros que você gosta, mais haverá possibilidades de surgirem fósseis aqui e acolá para desenterrar.

 

    Outra coisa, nesta 20ª edição do CLTS, nós procuramos trazer imagens mais pontuais dentro dos temas no sentido de servir como opção de inspiração também. Os desafios e concursos literários têm essa premissa positiva na quebra dos bloqueios criativos, porque há indicações dos caminhos a seguir, as ideias ficam restritas dentro de algumas condições que te permitem acessar a tua memória atrás de informações mais específicas.

 

    Se não houver dados no teu repertório sobre o assunto em questão, então a solução é ler textos dentro dos caminhos apontados, ou dar uma boa olhada nas imagens que ilustram os temas e se perguntar: o que dá pra fazer a partir disso? Ter uma imagem ou ideias de outras narrativas já lidas dentro de um tema pode criar uma faísca de criatividade e você acabar escrevendo uma ótima história.

 

  Portanto, conclamamos aos paleontólogos de plantão a escavar boas histórias enterradas aí dentro de vossas cabeças. Vasculhem o repertório de vocês, ou encham-no com bons filmes, contos ou causos de família a fim de inspirá-los na criação de boas narrativas para o nosso deleite. Estamos ansiosos para ler o que virá.