VILAREJO DAS BRUMAS SOMBRIAS 

 

A terra era distante e seca, mas, como a natureza é soberana, um pequeno vilarejo se escondia entre brumas, formadas pela névoa cinzenta que se intercalava por entre uma densa vegetação. Lá nada tinha nome, nem o lugar, nem as ruas tampouco as pessoas, as coisas dono não tinham e eles se reconheciam pelo odor corporal, sequer sabiam quem era mãe ou filha, pai, filho ou avô, o tempo não existia por lá, era como se todos tivessem nascido do ar em torno dos trinta anos, ninguém trabalhava, viviam se esbarrando uns nos outros por todos os espaços, andavam sem parar nunca em espiral infinita, vestidos com roupas pantaneiras.

 

Relato este fato, por ter passado por lá há muitos anos atrás por um total acaso do destino, meu cavalo desembestou floresta à dentro sem que eu pudesse controlar, pra não cair segurei bem as rédeas e me deixei levar, então me deparei com a densa névoa e cheguei em seguida ao estranho vilarejo. O que mais me perturbou foi passar por aquela turba de pessoas apáticas e tão semelhantes andando em espiral infinita, nem percebendo a minha chegada.

 

O cavalo estava sedento e eu também, mas, o poço no centro da praça estava seco. Lugar muito estranho, as casas não tinham janelas ou portas, nada tinha dentro delas e as pessoas andavam......

andavam..........andavam sem parar, achei melhor prender o cavalo numa árvore e procurar água no rio que parecia próximo dali, segui o barulho das águas e assim que encontrei enchi dois cantis e retornei.

 

O meu terror ficou audível pois ao ver o meu querido cavalo dilacerado no meio daquele povo andando.......andando......soltei um grito agoniado...Meu Deus!.................

não dava para entender.........o que teria acontecido? Gritei sacudindo  várias daquelas pessoas, mas, foi como se sacudisse uma árvore de fino caule, nada percebiam, cheguei mesmo a jogar um deles sobre a terra seca e ele ficou girando sentado sobre o próprio corpo...uma loucura, no meu desespero corri pelas casas que agora estavam com os portais tingidos de sangue. Antes que enlouquecesse empreendi uma corrida desabalada pela floresta à fora, só queria sair o mais rápido possível daquele vilarejo dos infernos.

 

Cheguei à minha cidade todo lanhado, roupas rasgadas, uma das botas havia perdido pelo caminho. Contando o que acontecera comigo ninguém acreditou, disseram que eu devia ter bebido muita canjibrina e tivera um pesadelo...só que expliquei sobre o meu cavalo e riram dizendo que logo logo ele acharia o caminho de volta...só que isso nunca aconteceu. Resolvi assumir a bebedeira e ficar por um tempo com fama de doido, mas, só eu sei o que vivi e que até hoje tento esquecer. Confesso que ainda tenho pesadelos e calafrios e nunca vou saber o que aconteceu com meu cavalo.

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 22/04/2022
Reeditado em 14/05/2022
Código do texto: T7500893
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