FADAS 

 

 

O amor nem sempre salva, em se tratando de fadas, paixões alteram os seus dons, às vezes até os fazem desaparecer.

 

Jonathan era um rapaz  alto e de feições esculpidas por deusas que vibravam amor e formosura, o fizeram tão belo que seria impossível não se encantar por ele, o que foi a destruição da magia de Nanda, uma fada com o dom de florir, perfumar caminhos e abundar os rios d'um reino com peixes, para que nunca faltasse alimento por lá.

 

O lugar era meio inóspito, pouca coisa vingava nas plantações, dependendo do ano conseguiam colher algum tipo de verdura ou batatas, frutas só brotavam maçãs e uma única vez por ano, trigo nunca e milho só no degelo das montanhas (o que era muito inconstante). Isso fazia com que vacas e cabras tivessem pouco leite, pelo pasto escasso e a população e até mesmo seus reis e nobres, eram magros.

 

O dom de Nanda em relação aos peixes era muito venerado por todos. Só que ela se apaixonou e as consequências foram terríveis, a cidade quase virou uma cidade fantasma. Pessoas morriam de fome, às crianças e os idosos foram os primeiros a perecer. Os animais caiam fracos nos campos ressecados e o que se podia aproveitar virava refeição, partilhada com muito sangue, lutas e lágrimas, tudo ficou cinzento e opaco.

 

Os jovens reis convocaram as outras fadas, cujos dons eram sabedoria e lealdade e imploraram ajuda. Previam a extinção rápida de seus reinados, caso alguma coisa não fosse feita, também sofriam por seus súditos fiéis que já passavam grandes percalços naquela terra.

 

Nanda seguia apaixonada, embora Jonathan sequer soubesse que tudo estava acontecendo, aquela desgraça que varria o reino era causada pelo amor que Nanda nutria por ele e que perdera os seus dons pela mesma razão.

 

Ela sofria duplamente pois não conseguia tirá-lo do coração, ouvindo os apelos das irmãs dotadas de sabedoria e lealdade, tomou a mais terrível resolução, matar Jonathan e num arroubo misto de insensatez, lealdade e lucidez, assim o fez, assim tudo retomou ao seu lugar, embora Nanda fosse viver com uma chaga no coração que jamais se fecharia. 

 

Por anos as perdas foram choradas e as lágrimas eternas de fada de Nanda, salgaram as águas de um pequeno lago, onde outros tipos de peixe de olhos tristes nasceram.

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 16/05/2022
Reeditado em 18/05/2022
Código do texto: T7517690
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