Um Poltergeister da Vida Real

A história que venho vos contar é algo dentro daquele universo das coisas inexplicáveis, nem diria inexplicável, mas com certeza algo que não encontra facilmente resposta na logica da realidade. Isso eu digo por ser alguém totalmente cético, não acredito facilmente em qualquer historinha sobrenatural e para todo o fato inexplicável eu acredito que possa existir uma explicação simples que resolva o caso. Mas devo lhes confessar, a história que estou para contar, consegue me assustar até hoje e me fazer refletir meu ceticismo.

Sem delongas irei começar a ditar os fatos, para que possa lhes transportar para um mundo em que o sobrenatural habita. Quem me contava esta história era minha falecida tia, ela contava com uma riqueza de detalhes, com entonação séria e assustada na voz e completa crença naquilo que havia visto, que mesmo com meu ceticismo, não me faz acreditar que tudo fora ilusão da mente dela. Corroborado a versão da história de minha tia, meu primo e minhas duas primas filhas dela, também descreviam com pavor os momentos que passaram em um dos apartamentos que moraram.

Minha tia era neste tempo uma mãe divorciada com três filhos pequenos, não diria pequenos, mas dois eram crianças na segunda infância e minha prima mais velha era uma pré-adolescente. Os quatro se mudaram para um apartamento, em um prédio comum, nada que envolvesse um local antigo ou sinistro como nos clichês dos filmes de terror. Outro ponto que destoa do comum em uma história de terror é a necessidade financeira ou turbulência na vida, algo que justifica o início de atividades paranormais, neste caso era apenas uma família chegando em um novo apartamento.

Algo comum de todo o apartamento é levar um tempo para se organizar a casa, os moveis, os utensílios domésticos, as roupas, brinquedos, etc... Minha tia contava que conforme o tempo foi passando, parecia que a casa não ficava arrumada, por mais que organizasse tudo, no outro dia parecia que a casa estava no mesmo estágio de lugar ainda em processo de mudança, ela não sabia explicar o que era, somente que tinha a impressão que por mais que se esforçasse, ainda assim o apartamento ainda ficava como estava no dia que chegaram.

Neste ambiente em constante estágio de recém mudança, as coisas não pareciam bem na casa, o humor das crianças não parecia os mesmo de antes da mudança, tornando brigas e conflitos quase que uma norma da convivência deles no lar. Minha tia, diferente de mim, era muito mística, e dizia que sentiu desde a chegada uma energia ruim na casa, uma energia que dragava a energia dela e deixava sempre um ar de angústia, de desemparo, por vezes despertando o ódio e a raiva nela.

Constantemente minha tia era surpreendida com barulhos de vidro quebrando em sua cozinha, barulhos que vinham em qualquer hora do dia e a levavam a ter de ir averiguar o que acontecera. Ela nos contava que ao chegar na cozinha, ela procurava no chão o copo ou prato que havia se quebrado, coisa comum em uma casa com três crianças, mas que em todas as ocasiões os vidros se quebravam dentro dos armários em que estavam. Semana a semana minha tia dizia ter perdido a conta de quantos vidros se quebraram dentro daqueles armários da cozinha.

Uma situação era verdadeiramente curiosa, na mesma cozinha que vidros estouravam dentro dos armários, uma poça de um liquido negro aparecia no chão. Minha tia dizia que na primeira vez que viu, pensou ser algum de seus filhos que derrubara Coca-Cola no chão. Minha tia reclamou gritando ao vento, como fazem todas as mães que encontram alguma sujeira que seus filhos não tenham limpado, mas limpou o chão. No dia seguinte ela retornou à cozinha e encontrou a mesma poça, do mesmo tamanho e com a mesma quantidade de liquido, mais uma vez ela limpou, mas não sem antes perguntar quem dos seus filhos havia dois dias seguidos feito a mesma coisa, como resposta, nenhum deles afirmou ter jogado nada no chão, inclusive eles mostraram para ela que nem sequer refrigerante havia na casa faziam dois dias. A única explicação plausível era aquele líquido ser um vazamento do fogão, algo que parecia ser a explicação para o fenômeno.

Os vidros continuavam se quebrando e a poça da cozinha continuava aparecendo, minha tia dizia ter investigado o liquido negro no chão, mas ele não parecia com nenhum tipo de liquido que ela conhecia, não havia cheiro, sua espessura em nada lembrava os outros líquidos de cor escura que haviam na casa, era como se fosse algum tipo de elemento não conhecido. A situação parecia que se resolveria com uma manutenção no fogão que estava vazando aquele líquido, então um técnico foi contratado. Minha tia dizia que o técnico viu o liquido no chão e falou que nunca havia visto algo assim saindo de um fogão, mesmo assim ele abriu todo o fogão e verificou todas as possibilidades, dando o veredito que o fogão estava em perfeito estado e sem nenhuma indicação de ter algo vazando dele.

A cozinha parecia concentrar as atividades estranhas da casa, e mais uma foi acrescida aos vidros e ao liquido. Minha tia comprara um novíssimo micro-ondas, algo muito requintado para o início dos anos 1990, e ela conseguira uma boa promoção em um de última geração. Certa noite, enquanto a família estava na sala que dividia espaço com a entrada da cozinha, o micro-ondas repentinamente ligou, primeiro despertando a curiosidade da família, que já começando a se assustar com os eventos estranhos da cozinha, ficou com medo de ir lá desliga-lo. Minha tia manteve a calma, pois ela era o esteio dos filhos, não poderia demonstrar medo, assim, ela caminhou tranquilamente para a cozinha, e pode somente observar o micro-ondas com suas luzes acessas e seu prato girando, enquanto fazia o barulho típico dos micro-ondas, mas com um detalhe, a tela de funções do micro-ondas apresentava uma função a qual não existia no menu de opções. Para desliga-lo, minha tia tentou apertar o botão de cancelar, mas o micro-ondas continuava rodando como se nenhum dos botões funciona-se, só parando quando retirado da tomada.

Uma outra constante foram o sumiço de brinquedos. De início, com três crianças de idades diferentes em convivência, claro que a culpa recaia sobre um dos irmãos, gerando as mais diversas acusações. O brinquedo sumia por alguns dias, dando uma impressão de ter sido descartado ou perdido de forma definitiva, até que surgiam nos locais mais inusitados da casa, normalmente sendo achados de forma totalmente acidental, com um detalhe sinistro, sempre o brinquedo aparecia e no caso dos bonecos e bonecas, eram encontrados com os olhos virados diretamente para quem os encontrava, assustando quem os encontrava.

Agora chega ao ponto do relato que meu corpo se sente tomado pelo medo, um medo que esfria o ambiente ao redor do meu corpo, e eu sinto um arrepio subir pela minha barriga, passando pelos meus sovacos e chegando até mesmo na base da minha nuca. Quando minha tia contava este evento, eu sentia na voz dela o medo que sentira, a incredulidade de estar presenciando algo do tipo e a falta de explicação lógica que justifique aquilo que seus olhos viam. Minha tia contava que estava em seu quarto sozinha, todos os meus primos estavam espalhados pelo apartamento, claro que evitando a temível cozinha, quando ela escutou o barulho de um carrinho de controle remoto de meu primo. O carrinho vinha fazendo aquele zunido que os carros de controle remoto fazem, e entrou pela porta do seu quarto. O brinquedo percorria o quarto, dando voltas e loopings desenfreado, minha tia se levantou e riu da brincadeira de seu filho, dizendo que já podia parar, pois ela adorou ver a destreza dele em guia-lo, mas o barulho a incomodava. O pedido de parar se repetiu, até que a falta de resposta de seu filho, que em tese estava do lado de fora de seu quarto com o controle, a obrigou a levantar. Ela caminhou até a porta, de onde pode avistar seu filho no quarto da frente, deitado assistindo televisão. Minha tia gritou para ele, já incrédula que não era ele que controlava o carrinho, procurou suas filhas, mas conseguia ao longe escutar as vozes dela na sala. Já em desespero, ela gritava pelo controle daquele maldito carrinho, meu primo sem entender o desespero da mãe, procurou desesperadamente o controle e trouxe para sua mãe. Minha tia contou que tremia com aquele controle nas mãos e em questão de um segundo mudou a chave de On para Off. Mesmo com o desligamento de suas funções no controle, o carrinho continuava a rodopiar pelo quarto, vagando desenfreado por todo ele, mas não parecendo sem direção, indo de forma guiada de um lado ao outro. Em um misto de desespero e pavor, minha tia arrancou as pilhas do controle, mesmo assim o carrinho continuava, lhe dando uma sensação de medo total, não só nela, mas nos filhos que gritavam desesperados a cada movimento daquele brinquedo. O carrinho se virou para a família que assistia seu show na porta, andou vagarosamente até eles, e parou aos pés deles.

Após todos estes eventos, minha tia já tinha acreditado totalmente que havia algo de estranho em seu apartamento, algo que não se explicaria como sendo parte de eventualidades. Minha tia começou então um processo de limpeza espiritual na casa, convidando assim uma amiga médium para sentir o que havia por lá. Esta amiga de minha tia ao adentrar a casa, disse ter sentido que havia alguma força obsessora na casa, algum espírito que estava de alguma maneira interagindo com eles, e ela supunha ser algum espírito infantil. A médium indicou duas coisas simples, uma era colocar um copo de sal grosso nos ambientes, mas a segunda era a mais importante, ela deveria mandar o espírito embora.

Antes de dormir minha tia fora recomendada a entonar um mantra que expulsaria o espírito obcessor: “Esta casa é minha e minha família mora aqui, você não é bem-vindo, então vá embora.”. Minha tia toda a noite entonava este mantra e ia dormir. Certa noite meu primo repentinamente apareceu no meio da madrugada, se deitou encolhido ao lado de minha tia, ela sentiu a chegada dele e o abraçou, neste momento ele começou a tremer, e se encolhia cada vez mais, primeiro sussurrando “Não me mande embora, eu quero ficar.”, depois os sussurros começaram a virar uma voz mais entoada implorando a ela: “Por favor, não me mande embora, eu quero ficar.” Até que se tornaram quase gritos em meio á um choro desesperado “Não me mande embora, eu quero ficar!!!!”. Por fim o choro cessou de uma vez, meu primo dormiu como se nada tivesse acontecido. No dia seguinte, minha tia o interpelou sobre o pedido da madrugada. Mas meu primo disse não se lembrar de ter acordado de madrugada.

Este episódio marcou o fim dos eventos. Os vidros pararam de quebrar, o liquido no chão deixou de aparecer e os brinquedos de sumirem. O apartamento ficou finalmente arrumado, dando a impressão de um lar, e não de uma família recém chegada e em processo de organização.

A história aterrorizante era sempre evocada nas noites quando meus primos já eram adolescentes, e gostávamos de escuta-la e nos assustar com os relatos do poltergeister que eles viveram. Um dia meu primo e minha prima contavam a história através do ponto de vista deles, quando repentinamente o mesmo micro-ondas da história começou a funcionar repentinamente, por um curto momento parecemos transportados para aquela realidade assustadora e pude sentir na pele o medo que eles sentiram em estar naquele apartamento e vivenciando eventos inexplicáveis. Minha prima mais velha chegou e com calma o desligou, enquanto todos nós não conseguíamos acreditar que aquilo era mera obra do acaso, desafiando minha lógica e me fazendo acreditar que aquele era sim um Poltergeister da vida real.

Diego Colino
Enviado por Diego Colino em 28/05/2022
Código do texto: T7525787
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