O Surto: A gênese de um cobrador

Sinal fechado, trânsito parado. Barulho de motores e buzinas. Algumas crianças pedindo esmolas, outras vendendo bala.

Mais a frente, acontece um acidente com moto e Douglas observa tudo.

Sem saber o que pensar, sente a revolta tomar conta do seu ser.

De repente, pega uma revólver que estava debaixo da caixa do ônibus e pede para o motorista abrir a porta.

Desce em busca de justiça social.

Poucos metros dali, sentados num banco da praça do Parque Trianon, uma mulher abraça e beija a careca de seu pai idoso e cadeirante, em seguida fazendo-lhe um carinho.

Atrás do banco, escondido entre as árvores, Douglas observa tudo, lembrando-se das palavras ditas para ele no orfanato:

- Seu m#%#&! Seu b&¨%$#! Você não vai ser nada nesta vida! Você não presta igualzinho os seus pais que te abandonaram!

Em questão de segundos, sem saber de onde veio e por qual motivo, pai e filha tiveram suas cabeças estouradas como se fossem duas bexigas em festa de aniversário. Pânico total!

- É direito da criança ser educada e criada no seio de sua família – disse Douglas a si mesmo.

Alguns quilômetros de distância do fato ocorrido, mais precisamente na Rua Estados Unidos (não muito tempo depois), Douglas caminha tranquilamente, olhando as vitrines das lojas.

Enquanto isso, mais a frente, dentro de um Renault prateado, duas pessoas discutem em alto tom de voz.

- Não há mais nada entre nós! Acabou! Estou gostando de outra pessoa! Será que você não entende? – diz a moça.

- Olha aqui! Se você pensa que eu vou ser corno e aceitar isso calado, está muito enganada! grita o rapaz segurando seu braço violentamente.

- Me solta! Está me machu...

Como um tampa de garrafa térmica, o rapaz tem sua cabeça girada, perdendo os sentidos.

- Respeita as minas rapaz! – disse Douglas aparecendo de surpresa, tipo cavalheiro valente pronto para salvar a mocinha do vilão.

Em seguida, abre a porta do carro e joga o corpo do rapaz na calçada, igual a qualquer lixo descartável. A moça não acredita na cena em que acaba de assistir. Está totalmente sem palavras e sem qualquer reação.