Hanna andava pela rua chorando, ela tinha certeza de que era uma excelente escritora. Ela vivia uma vida eudaimônica, ou seja, ela sabia muito bem que mesmo como cópia da natureza perfeita, suas obras de arte perfaziam do ponto de vista de Spinozza: uma alegria e depois uma beleza.

 

 

 

Além de escritora Hanna também era filósofa. Mas como a realidade é inacabada, como disse o filósofo, e Hanna deixou seu celular cair, no meio do Parque do Flamengo. Ela rapidamente abaixou e resgatou seu totem, e deu continuidade a leitura do fragmento de um artigo da jornalista Valéria Guerra Reiter: "...Ao contrário do que prega a corrente pragmática, que cheira a corporativismo, o lirismo guarda o subjetivo, o relativo e o abstrato em seu bojo romântico...."

 

 

 

Naquele momento a escritora infelicitada por um resultado anacrônico em um Concurso anacrônico de contos de terror, afastou um pouco a indignação e lembrou que teria que enviar o link do artigo publicado no site Brasil 247 para seu filho, já que ele pediu para ler ( Pragmatismo e golpes - Valéria Guerra Reiter - Brasil 247), E foi o que fez apressadamente.

 

 

 

A mulher continuou seu trajeto, e observou o céu, tão azul naquele dia de inverno, foi quando lembrou que Platão mantinha na porta da Academia, em seu pórtico a seguinte frase: "Não entra quem não sabe geometria". Ela lembra que para o "idolatrado" Platão: "O artista é mazela". "Não há beleza sem entendimento" já para Kant, o belo pode se encontrar na natureza, e na arte.

 

 

 

Hanna deu um topada, e foi lançada contra um coqueiro, ficou tonta, porém se levantou, e novamente começou a chorar. Por duas razões verteu mais lágrimas: pela decepção do seu penúltimo lugar conquistado, e pela dor da pancada. E se sentou. Sentada comtemplou o quadro do dia: sol ameno, árvores frondosas, o cântico dos pássaros, e ao longe o azul do mar que gritava sua imponência natural e permanente até ali. Ela viu beleza, naquele todo natural e criado. Não enxergou a geometria de Platão. E apesar de saber que aquele cenário não lhe pertence, ele se particularizou ali, e a beleza se encerrou definitivamente, e finalmente naquele interregno, de forma utilitária: pausou seu aborrecimento.

 

 

 

Afinal, Aristóteles considerou que a contemplação pura e simples se esgota em sua finalidade. E lá foi Hanna ler de novo, o seu "belo" conto de terror na escrivaninha do Recanto das letras, afinal a estética pode ser pérfida em seu juízo de valor, do que é belo ou feio. A aceitabilidade social faz chover juízos de valor...sobre o que é aceitável ou não. Será que temos todos os mesmos sentidos, será que Kant tem razão, há sentidos em sensações particulares? para escolher o bom, o melhor, enfim o belo...e lá foi Hanna para sua belíssima labuta de escritora e filósofa....

 

 

 

  A beleza como resultado, como imposição, atende aos interesses de quem domina. Machado de Assis, é escritor, até mesmo por construção social. As instâncias consagratórias fazem seu papel torpe, e isso é filosófico. A sociedade constrói o belo autorizado, e isso analisou Foucault.

 

 

 

Até o capítulo 2

 

 

 

 

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 20/12/2022
Reeditado em 20/12/2022
Código do texto: T7676057
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.