ASSOMBRADO - dedicado ao amigos do terror e o escritor Luiz Cláudio Santos

 

 

Luiz Cláudio, sequer gostava do nome composto, sentia como se fosse duas pessoas. Talvez ao nascer, os pais tivessem ficado em dúvida de qual nome escolher...Luiz para homenagear o pai ou Cláudio para celebrar o avô, resultado óbvio, foi batizado como Luiz Cláudio Santos e, ele que passasse a vida degladiando com Luiz, Cláudio e os Santos. Confessava para si mesmo, que se sentia assombrado.

 

Todas essas questões se infiltraram em sua mente de uma forma brutal, sentia-se seguido por sombras, era até difícil pra ele explicar isso para a sua terapeuta.

 

Certa vez ouviu vozes, muitas vozes, chamando por Cláudio...Cláudio...Cláudio, chamados em surdina, ele não se sentia dormindo, mas, não estava totalmente acordado, estaria sonhando? 

Abriu os olhos e viu silhuetas à princípio difusas, que depois foram ficando mais nítidas...sua boca ficou aberta como uma orca d'um parque áquatico sendo alimentada.

 

À sua frente e em torno de sua cama, ele via Sto Expedito, São Longuinho, N.Sra das Cabeças, São Jorge, São Judas Tadeu, N.Sra.Aparecida e também Sta.Edwiges, que eram os seus santos de devoção...teria morrido dormindo? Estaria sendo recebido no céu?

A sua parte Luiz, estava encantada, entendendo que a partida suave era resultado da sua vida abnegada, que havia lhe dado direito ao Paraíso, mas, a sua parte Cláudio estava revoltada, não era chegada a sua hora, apenas deveria estar com febre, maldita feijoada às dez da noite, estava lhe dando pesadelos.

 

Luiz Cláudio sentiu o seu rosto arder, havia levado umas bofetadas da terapeuta, era como acordar de um transe e, Luiz transpirava enquanto Cláudio se desesperava com a visão dos santos. Quando enfim ele se torna um...Luiz Cláudio, só se lembra de ter sonhado ou visto mesmo, não consegue confirmar isso, os Santos ao seu redor.

 

A Dra.Juli espera que ele se sente novamente no sofá, pois no surto ele havia se jogado no chão. A terapeuta nunca tinha visto algo parecido, mas, o horário dele havia terminado e a próxima seção seria na próxima terça-feira. Ela pede que ele mantenha a medicação, Luiz Cláudio se recompõe, se despede e sai.

 

A noite dele foi tranquila, na manhã seguinte foi trabalhar como de hábito, mas, ao retornar do horário do almoço, viu nas baias de trabalho do escritório seus santos de devoção, ao invés dos seus colegas. Se aproxima de São Judas Tadeu, que sorri pra ele, lhe pergunta algo rotineiro, ele responde sem muito pensar, segue para outra baía e Sta.Edwiges lhe oferece um chiclete sorrindo, ele segue para outras baias e os santos, agem como os seus colegas de trabalho.

 

Ele se sente muito confuso, alguém lhe traz um copo d'água, mas, ele simplesmente apaga. Desperta num leito de hospital, onde ele Luiz está cercado de cuidados suaves, dos seus Santos de devoção. Enquanto no leito ao lado, a sua parte Cláudio, está algemada num leito cinzento, cercado de sombras escuro avermelhadas. Ambos ao longe, viam através de uma janela redonda, a figura preocupada da terapeuta Juli, que de mãos postas orava por eles.

 

Luiz tampouco Cláudio, se livraram dos santos ou das sombras. Hoje Luiz Cláudio permanece num quarto branco almofadado, numa instituição psiquiátrica, onde se bate o tempo inteiro, como se Luiz brigasse com Cláudio. Caso complexo que a Dra. Juli, outros psicólogos e psiquiatras, ainda não conseguiram resolver.

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 20/06/2023
Reeditado em 22/03/2024
Código do texto: T7818191
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