PREDADOR

(reedição de 05/08/2017) se não gosta de terror não leia

 

 

O início que começa no ventre exposto, no arder dos olhos gelados, no tremor 'post mortem', no grito estridente de dor, no estupor de um corpo frio dentro do armário, no uivo calado, no tapete persa gasto pelo tempo, com manchas de sangue seco e, dezenas de rostos lívidos de dúvida...

 

Uma casa nobre e falida, de pura elegância, um casal de estirpe, um filho abobado e franzino, uma filha adolescente de libido exacerbada e, uma governanta sem salário já idosa.

 

O palacete de numerosos cômodos, onde hoje em dia só nove eram utilizados, escondia segredos seculares, passagem secreta e um cão da raça pastor belga, velho, quase cego e fiel. O ambiente era de cumplicidade e não de laços afetivos.

 

Numa manhã de Setembro, vizinhos ao palacete depois de se torturarem com uivos doloridos e um cheiro nauseabundo, resolveram chamar a polícia, pois do palacete, nem mesmo as plantas resistiram aos descuidos, secavam a olhos vivos. A chegada das viaturas chamou a atenção da vizinhança, fazendo com que várias pessoas fossem até ao palacete que parecia abandonado.

 

As cenas que alguns puderam constatar eram de puro terror, o casal jazia no piso marmorizado sobre um gasto tapete persa, o homem em seus tremores finais com o crânio estraçalhado, as calças arriadas, nitidamente fora estuprado. A mulher com os olhos furados e queimados, a arma era um atiçador de lareira e estava atravessada pelos seios maduros desnudos. O filho estava dentro do armário da saleta, pregado pelos membros e tinha o pênis decepado, com certeza sangrara até morrer. Sobre a mesa da sala de jantar estava estirada a filha do casal, com sinais claríssimos de ter sofrido todos os tipos de sevícias, calaram sua voz lhe rasgando a garganta, a faca ensanguentada estava ao lado do corpo, o corpo da moça estava colocado sobre a mesa num ângulo surreal, difícil saber se algum osso dela ainda estava intacto, sofrera muito com certeza.

 

A velha governanta estava nua no piso claro do banheiro, debruçada sobre a beirada da banheira, com o ventre rasgado na vertical até além da genital, pura crueldade, o fiel velho cão que deve ter morrido de tanto uivar se encontrava num degrau da escadaria do salão principal.

 

O cheiro do ambiente era insuportável. Há primeira busca não evidenciara que houvesse ocorrido algum roubo, era uma nobre família falida, o que poderia ter valor por ali, era a prataria e os vários castiçais de prata espalhados pelos cômodos e, ao que parecia, tudo estava no lugar. Quem promovera todo aquele horror, tinha outras intenções, isso iria demandar muita investigação, caso não aparecesse alguma boa pista ou testemunha. O absurdo das cenas, deixou a todos de boca aberta, havia um fundamento sexual em todas mortes, era claro para todos esse fato.

 

Que mente diabólica engendraria aquele cenário pavoroso?

 

De súbito.......o rouco de uma moticicleta arrancando veio dos fundos do palacete, os policiais correm, mas, o homem de cabelos negros longos e, jaqueta jeans já se afastara,m. Até que chegassem às viaturas ele já estaria longe, passaram um rádio para a delegacia para que cercassem, todos os caminhos de saída da cidade, descreveram a moto e seu ocupante, agora era preciso fechar a perícia e procurar outros familiares, para avisar sobre a terrível chacina.

 

Andrey, estaciona a moto num chalé de caça abandonado, próximo ao lago a poucos quilômetros do palacete e, aguarda o cair da noite saciado. Num momento que considerou seguro, arrasta a moto até a beira do lago, acelera, salta e fica apreciando até que ela afundasse totalmente, arranca a peruca de negros cabelos longos e a jaqueta jeans, também jogando nas águas escuras.

 

Andrey de pé junto a margem, abre a braguilha e com a mão em frenesi, alivia a pressão do órgão intumescido, até desmaiar por alguns instantes, num gozo visceral.

 

Ao despertar, lava as mãos, fecha as calças, senta calmamente, acende um cigarro de cheiro adocicado, passa as mãos pelos curtos cabelos loiros, levanta e segue andando cambaleante pela estrada, rindo...

 

Para Andrey, homem forte e violento, ex-militar, viciado em sangue e sexo, nos seus quarenta e sete anos de idade e, vinte e quatro anos de crimes insolúveis, tudo aquilo era só uma questão de desejo insaciável e oportunidade...

 

 

 

 

 

 

** Grata aos* 211 visitantes na época da primeira publicação e, aos seis comentários recebidos. Ousei ter escrito este conto. Já estou acostumada, com os leitores de terror, que não deixam comentários, exceto, quando estão participando de concursos ou desafios, de qualquer maneira agradeço a passagem por minha escrivaninha, embora a opinião escrita, me deixe feliz, seja ela qual for, escrevo porque gosto.

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 14/11/2023
Reeditado em 14/11/2023
Código do texto: T7931675
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