DOBROU A ESQUINA, JÁ ERA...

 

Zé Pitoco era um anão volumoso, cabuloso, cabeleira abotoada e se achava o comelão do pedaço.

Uma noite, Zé Pitoco viu uma mulher atravessar o seu caminho. Em tamanho, era mais que ele, só um pouco.

Zé Pitoco a seguiu mantendo uma certa distância, quando, de repente, ela dobrou a esquina. Zé Pitoco não se fez de rogado, emburacou atrás, esbarrando na gostosa.

Zé Pitoco deu uma de galante: _ Estava me esperando?

_ Estava, disse a mulher, toda sorriso. _ Vamos até à minha casa? Completou.

_ Só se for agora, concordou o anão alisando a cabeça da macaxeira. E lá se foi Zé Pitoco já entrambecando, pois já estava com três pernas, seguindo a mulher pela viela.

Ao chegar num kitnet, a mulher abriu a porta e Zé Pitoco foi emburacando logo atrás, se sumindo no breu. A mulher entrou também, fechando a porta e acendendo a luz.

Quando Zé Pitoco se vira, empalidece. 

À sua frente, a mulher de boca aberta, deixando à mostra quatro dentes caninos, os olhos avermelhados e rosnando como uma tigresa acuada.

Zé Pitoco, de olhos vidrados, nem piscava.

A mulher, digo, uma aberração da natureza, de um salto, envolve Zé Pitoco, mordendo-o, arrancando-lhe a batata da perna.

Zé Pitoco, em estado de choque, não disse um ai.

Com a boca ainda escorrendo sangue, agora já mulher, ela promete a Zé Pitoco:

_ Amanhã voltarei à mesma hora. Vou te comer à prestação, meu bombomzim carnudo. Amanhã prepararei um ensopado de ovos com linguiça...

Ela encaminhou-se para a porta, voltando a ser a mesma mulher que Zé Pitoco conhecera antes de dobrar a esquina.  

Sagüi
Enviado por Sagüi em 27/01/2024
Reeditado em 27/01/2024
Código do texto: T7986258
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