PARAÍSO DO ÓDIO - CLTS 26

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O convite chegou no início de agosto, mês de cachorro louco e má sorte. É o que se dizia. Eu jamais encontrei um animal raivoso em agosto, outubro ou janeiro. Quanto à sorte, a sina é aleatória e irracional, cabendo ao futuro sua interpretação retroativa, portanto, o convite chegou no mês certo e totalmente isento de qualquer influência até o momento.

Marta animou-se bem mais que eu com a possibilidade de desfrutar alguns dias num local muito próximo do que seria o éden. As fotos não deixavam margem para julgamento de beleza: era um lugar lindo e pronto.

Fizemos as malas e partimos. Embarcamos às nove horas da manhã e chegamos ao nosso destino três dias depois. Um bote amarelo nos deixou no ancoradouro com nossa bagagem e ao som das ondas quebrando na praia vimo-lo se afastando de volta ao navio em poucos minutos.

Conforme orientação recebida, aguardamos a chegada de alguém para nos receber em terra. Por coincidência, assim que o barco desapareceu na linha do horizonte, a figura do homem surgiu vindo da mata que cerceava a praia.

Ele andava muito ereto, cinquenta e poucos anos de idade. A pele, muito morena, brilhava à luz do sol, trajava roupas leves, uma camisa clara de manga longa dobrada até os cotovelos, bermuda cáqui e chinelos. Os longos cabelos davam-lhe um ar havaiano combinando com os brincos nas orelhas, embora os olhos e o contorno da face indicassem outra origem. Parou a alguns metros de onde estávamos, fez um gesto chamando-nos para si. Obedecemos e caminhamos em sua direção enquanto ele parecia se afastar de nós, conduzindo-nos à distância sem pronunciar palavra. E embora Marta jurasse tê-lo ouvido sussurrar alguma coisa durante o trajeto, confesso que nada escutei.

Caminhamos durante muito tempo afastando-nos da praia e do sol que morria silenciosa e obstinadamente mais uma vez. Nossos olhos eram bombardeados pela exuberância natural do lugar, o que nos entretinha sem medida, tanto que as preocupações do trabalho e da vida pareciam fantasias sem sentido.

Aos poucos, o som do mar foi substituído pela algazarra dos pássaros e a algaravia dos animais invisíveis naquele paraíso. Nosso guia continuava o trajeto em silêncio e seguro em seus passos, apesar de não existir indicações claras das direções a serem tomadas. Ele apenas afastava alguns galhos de quando em quando, olhava para se certificar de que estávamos próximos o suficiente e adotava um novo rumo. Quando a luz do dia escasseou bastante, avistamos uma trilha ladeada por tochas firmadas em hastes presas ao solo. No final desse corredor luminoso, uma cabana oferecia ampla varanda e cadeiras de vime. Marta quis perguntar algo àquele que nos acompanhava, mas não o encontramos. Imaginamos que seu trabalho estivesse finalizado e partimos para o chalé. Estávamos bastante suados e cansados. Ao longe, o pio de algum pássaro pareceu despedir-se de nós. As luzes elétricas da cabana se acenderam iluminando melhor o local. “Há energia, há vida”.

Essa frase de autoajuda se aplicava perfeitamente em nosso casamento, mas em sua forma contrária: “Sem energia, sem vida”.

Nem mesmo o ambiente de lua-de-mel, os sorrisos espontâneos, as refeições compartilhadas dos últimos três dias conseguiram afastar a névoa do rancor que acampou no meu peito e parecia aumentar.

Marta era insuportável com sua mania de limpeza, suas críticas sociais, seu complexo de não-sei-o-quê sobre tudo e todos. Além da raiva nutrida e sempre crescente, eu sentia uma enorme vergonha do comportamento da minha “companheira até à morte”. E só fui entender essa sentença quando veio a morte do amor depois de um breve período de incubação da bactéria nociva dos relacionamentos: a convivência. Talvez eu seja mais vulnerável a essa doença.

Os pequenos gestos e características tão agradáveis no início, aquele modo de sorrir deixando o canino direito mais exposto que o esquerdo, o levantar tímido das sobrancelhas em surpresa, a voz fininha ao pedir desculpas, até mesmo o dar de ombros para expressar concordância, que eram tão atraentes, tão sedutores, há muito tempo se fundiram numa mescla de sinais que me causam profunda repulsa.

Como eu pude, um dia, amar essa mulher? Agora mesmo, ali, lado a lado, sozinhos numa ilha maravilhosa, ciente de que ela não é feia, não, definitivamente não é feia, consigo ouvi-la respirar ruidosamente como uma porca faminta prestes a se empanturrar numa tina cheia de restos. Minhas mãos crispam-se, sou tomado por ganas de esmurrá-la.

Então ela me olha e diz:

- Querido, tudo bem? Você está tão sério – e abre aquele maldito sorriso mostrando mais um dente que o outro.

Oh, Deus! Eu queria enterrá-la viva, é tudo que penso desde que pisamos na ilha .Ela finge estar tudo bem e não sentir o mesmo que eu. Hipócrita. Isso me enfurece ainda mais. Mas preciso me controlar, um ato impensado e tudo que tanto quis realizar vai para a lama onde essa infeliz vive.

- Tudo bem, querida. Só um pouco cansado da viagem – respondo com meu olhar à Marlon Brando e vejo ela se derreter fingindo agrado – vamos entrar.

Ela segue na frente como sempre, tão dona de si, balançando sua bunda perfeita no vestido florido que lhe acentua ainda mais as curvas do quadril e comenta tão tranquilamente como se estivesse falando algo além de qualquer controvérsia:

- Esse lugar é estranho, bonito, mas perverso. Algo que me dá um peso no coração, é opressivo. Nem sei o que dizer.

Não me dou ao trabalho de responder, nem ela espera um comentário. Uma tola e suas tolices, embora eu também sentisse uma pressão ruim no corpo e na mente desde que chegamos.

O ambiente da cabana era agradável, coisa de cinema, como diria a mãe de Marta. Confortável, aconchegante e bem iluminado. Deixamos nossas bagagens na entrada e cada um investigou os demais cômodos por si. O primeiro lugar que me encontrou foi o bar. Havia bebidas para uma dezena de hóspedes. Boas bebidas. Do interior do chalé ouvi a voz dela:

- Amor, tem uma banheira de hidro aqui. Ai, meu Deus!

Esse “ai, meu deus” era outra de suas marcas deletérias. Tão adolescente, tão deslumbrada, como isso é irritante.

Naquela primeira noite dormimos profundamente. Nem sonhos tive, o que era bastante incomum. Estávamos mais exaustos do que pensávamos. Quando acordamos, o sol estava bem caminhado no céu. Para nossa surpresa, havia uma farta mesa de café da manhã nos esperando na cozinha. Frutas, sucos, pães, queijos. Não evitei um genuíno sorriso.

- Quem enviou esse convite, Marta? – perguntei mais uma vez.

- Sei lá, meu amor, até pensamos que fosse um trote, lembra? – ela respondeu saboreando um cacho enorme de uvas – vamos aproveitar, temos sete dias antes que outro barco venha nos resgatar.

Obviamente, não havia como discordar. É justo dizer que esse nosso dia foi bastante agradável. E por muito pouco, quase fizemos amor na praia ao entardecer se não fosse uma estranha distração.

Já cansados do mar e suas ondas, esparramados na areia, apenas admirando as águas, nossos olhos se encontraram profundamente. Marta usava seu biquíni amarelo com delicados laços na cintura, o que realçava sua pele macia, naturalmente morena em contraste com seus olhos esverdeados quase emoldurados pelos longos e negros cabelos.

Porém, interrompendo esse momento, um estranho casal se deixou ver na parte posterior da praia. Ouvimos suas vozes antes. Era impossível entender o que diziam, tanto poderiam ser apenas boas vindas como gritos de desespero. Deram alguns passos para nós, mas estacaram muito rápido e voltaram para onde vieram. Em silêncio. Acompanhamos esse movimento com muita atenção, afinal ficamos sozinhos todo o dia, ninguém foi nos procurar, apesar do café da manhã entregue, apesar da refeição da tarde servida sob um gigantesco guarda-sol montado enquanto nadávamos. Não vimos ninguém nessas tarefas. Portanto, nossa curiosidade por essas pessoas era imensa. Mas elas, assim como surgiram, se foram e desapareceram na mata. Novamente, Marta jurava ter notado outras pessoas nas sombras. E a estonteante mulher de há pouco transformou-se no entojo que me angustiava cada vez mais.

Voltamos para nosso recanto já de noitinha. Tomamos banho, lanchamos um pouco e nos deitamos. Talvez algumas horas depois de adormecer, ouvi uma voz:

- Amor, acorda ... acorda, amor... tem alguém gritando...

Senti o chamado vindo de muito longe. A custo abri os olhos e enxerguei Marta muito assustada me olhando e ouvindo algo que passei a escutar também. Eram berros assustadores.

- Vou ver o que é, Marta, fique aqui – disse eu já totalmente desperto.

- Não seria melhor esperar amanhecer?

Um barulho mais alto e mais perto me fez decidir.

- Não saia daqui, já volto.

Busquei algo para usar como instrumento de defesa ou ataque, só encontrei garrafas. Que seja garrafa então. Afastei a cortina da sala antes de abrir a porta. Ninguém à vista. O caminho das tochas estava vazio. Só os brados altíssimos denunciavam algo acontecendo e pareciam vir da mata por onde havíamos chegado. De repente, o casal misterioso da praia apareceu na varanda bem diante meus olhos. Pareciam não se incomodar com a gritaria e me olhavam silenciosamente.

- Marta, Marta, venha aqui ... – não houve resposta ou movimento.

- Marta... – insisti.

Eu não queria ou não conseguia parar de olhar para as duas pessoas imóveis ali, mas me forcei a procurar a mulher no quarto.

- Marta, precisamos sair daqui – falei de imediato ao abrir a porta. Ela não estava na cama, nem no quarto, nem no banheiro.

Voltei correndo para a janela de onde avistava as tochas. Os dois visitantes haviam sumido da varanda. Minha indecisão reinava entre procurar Marta ou o casal, ou ficar ali esperando o sol limpar tudo. Escancarei a porta da frente e saí com a garrafa ainda na mão. O barulho cessara. Ouvia apenas os sons noturnos. Eu não queria adentrar a mata, não naquela hora da noite, não depois de tantos gritos, não sem saber onde Marta estava. Entrei assim mesmo.

Talvez tenham sido três ou seis passos, não recordo direito, apenas lembro da pancada forte e seca na cabeça, Lembro do chão chegando perto de mim e do meu rosto batendo nas folhas mortas. Ainda virei a cabeça procurando o que havia acontecido, mas foi apenas para encontrar um punho vindo ao encontro do meu nariz. Apaguei.

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Aos poucos o dia aparecia.

Como no despertar de um coma, o corpo reagia lenta e dolorosamente. Marta estava a pouca distância de mim, não havia acordado ainda. Não era possível saber se estava apenas com os olhos fechados. Havia certa expressão de dor em sua face, como se estivesse sonhando ou replicando involuntariamente seus pensamentos. Eu próprio não tinha muito poder de movimento, minhas mãos estavam amarradas para trás, os pés igualmente presos. Ambos estávamos sentados rentes a dois totens de pedra muito altos. Felizmente não havia mais ninguém. “Marta, Marta, acorde”, apesar de sozinhos, falei em voz baixa. Ela abriu um dos olhos, o outro estava bastante inchado e vermelho. Um fio de sangue descia do lábio inferior seu.

- O que aconteceu, onde estamos? – falou debilmente.

- Não faço ideia, fui procurar você e me atacaram. Quem te trouxe aqui?

Ela não respondeu. Parecia atenta a algum movimento lá mais adiante.

- Eles estão chegando – avisou com verdadeiro receio.

- Não vejo ninguém.

- Tente se soltar, as cordas não estão firmes.

Obedeci à intuição dela e movimentei braços e pernas o mais forte que conseguia enquanto Marta fazia o mesmo assemelhando-se a alguém convulsionando. Soltei-me primeiro e a ajudei rapidamente. Saímos em disparada. “Rápido”, dizia ela durante nossa fuga. “Eles estão perto”.

Quase sem fôlego, paramos um instante em meio à exuberante natureza que nos rodeava. Apreensivos, demoramos alguns minutos agachados ao lado de uma grande rocha, observando se havia alguém nos seguindo. Parecia que não, mesmo assim continuamos sem levantar a voz.

- O que eles queriam, Marta? Disseram algo?

- Eu não lembro direito, eu ... – e começou a chorar.

- Calma, vamos ter calma.

Ficamos ali sem olhar para nada, apenas perdidos em nós mesmos. Sem nos tocarmos ou conversarmos. Era impossível dizer quantas horas do dia eram. Julguei que fosse após o meio-dia por causa das sombras e sua direção contrária ao sol.

Então senti uma dor aguda na coxa direita, repentina, brutal e profunda. A reação instantânea foi levar à mão ao local acompanhando o movimento com os olhos, os quais ainda alcançaram a lâmina da faca sendo retirada violentamente por uma mão pequena e delicada, a mão de Marta.

Aquilo me assombrou ainda mais que a dor. Segurando a arma cheia de sangue, já em pé, Marta sorria como se estivesse louca. E sem pensar mais um segundo levantou o braço e me atacou novamente, desta vez mirando meu peito. Por ser mais forte, agarrei seu pulso e o puxei por cima de mim para arremessa-la longe. Tentei levantar, mas a perna ferida não deixou. Marta fugiu no meio das árvores gritando palavras desconexas misturadas com urros estranhos.

Da melhor maneira que pude, arrastei-me procurando um abrigo, um esconderijo. Porém, fui surpreendido nessa tarefa por duas pessoas que me encaravam seriamente.

- Sem perdão – disse uma delas.

- Do que estão falando? – mas antes que pudessem responder, se é que fossem responder, por detrás delas cresceu uma sombra imensa como se quisesse engoli-las e, de fato o fez, expandindo-se até se aproximar de mim.

Aqueles dois seres sumiram na escuridão, era como um buraco negro, um portal, um manto, não se via nada no interior desta sombra, apenas a paisagem ao lado das suas bordas circulares.

E fui absorvido por ela.

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Olhei para baixo e vi meus pés na areia a poucos passos da água. Marta brincava nas ondas ali perto. Era a praia onde estávamos ontem durante o dia. Minha perna direita não doía, nem havia menor sinal de corte ou sangue.

Marta veio ao meu encontro, Instintivamente, recuei.

- O que foi, amor? Não vai entrar na água? – seu sorriso parecia genuíno.

Aleguei frio e algum desânimo, apenas para me ver livre da situação.

- Vou me deitar um pouco.

Ela não discutiu ou argumentou. Estava por demais entregue à beleza do local e do sol.

“O que aconteceu ?”, pensei em voz alta. Não faz um segundo que aquilo me sugou e estou aqui de volta no tempo. Mas não houve chance de me aprofundar na questão, nem mesmo contar à Marta, alguma coisa grudou em mim como se fosse um imenso polvo gelatinoso do péssimo odor e me levou aos céus num vôo repentino, apenas para me soltar quando estávamos muito alto, fechei os olhos com força antes de bater na água.

- Amor, amor... – ouvi o chamado e despertei devagar – você está bem?

- Vamos embora, Marta, agora – disse eu tentando puxar minha companheira pela mão.

- Você nunca vai sair daqui, maldito.

Imediatamente me virei.

- O que você disse, Marta? Repita.

- Querido, não falei nada, estou tentando entender o que houve.

Uma risada densa entrou na minha cabeça.

- Tolo – a voz me acusou – melhor correr, sua mulher não está bem de novo.

Mais assustado ainda com o alerta, reparei que minha esposa estava agachada e riscava algo na areia. Aproximei-me e vi que ela desenhava uma forca.

- Marta, vamos...

Não houve espaço para novas palavras, ela se levantou bruscamente com uma pedra na mão e tentou me agredir.

- Marta...

Nem mesmo terminei de pronunciar seu nome e a sombra gigantesca surgiu diante meu rosto como se a me beijar lascivamente. Dessa vez entrei por conta própria.

Novamente fui jogado ao passado recente quando ouvimos os gritos na noite e resolvi investigar.

- Vamos os dois, Marta – eu disse na intenção de alterar alguma coisa.

Muito receosos adentramos a mata em procura da fonte dos horríveis bramidos. Algumas centenas de metros adiante, dentro de uma clareira, havia um homem preso com os braços abertos num cruzeiro. Outras pessoas, três no total, o chicoteavam ritmicamente. As chibatadas alternavam-se, mas sempre com o mesmo alvo, as costas nuas da vítima. Cada lambida do instrumento criava o grito desesperador. A pele já estava reduzida a tiras, a carne exposta desde a nuca até à cintura. Num breve intervalo entre um castigo e o próximo, o homem virou a cabeça em nossa direção. A luz da fogueira próxima nos fez reconhecer o pobre coitado no mesmo instante: era eu que que estava ali, açoitado, quase morto.

Marta soltou um gemido como se tomada por forte dor. “O que nós fizemos, amor?”, ela sussurrou.

Aquilo foi o gatilho da explosão de todo o ódio que sentia por ela. Seguei seu frágil pescoço com as mãos e a estrangulei sem piedade até sentir que sua vida havia terminado e a soltei como um animal sem importância ao chão, então senti a o chicote em minhas costas e soltei a voz em desespero, estava eu amarrado ao cruzeiro e sendo macerado verdadeiramente.

- POR QUE? – consegui dizer em meio ao sofrimento.

Um silêncio terrível caiu logo após minhas palavras. Até mesmo o som do mar sumiu. Era como se o mundo aguardasse a resposta. Os algozes pareciam não estar às minhas costas. Nada fazia sentido. Tentei soltar-me em vão.

E assim, sem enxergar direito, em meio à escuridão da noite, sem nenhum barulho, apareceram aquelas duas almas à minha frente, dessa vez com estranho sorriso e olhares maldosos.

- Por que? – repeti unindo minhas forças.

Elas se entreolharam e se aproximando do meu ouvido disseram juntas:

- Porque você está vivo.

E num segundo, tudo voltou a acontecer novamente, nossa chegada na ilha, os gritos, a fuga, a dor. O ataque de Marta, A morte de Marta, A pergunta. A resposta.

- Porque você está vivo.

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Não sei por quanto tempo isso continuou, com variações nas torturas e dores, até que me vi sobre um penhasco que despontava para o imenso oceano. Estava de pé, com as mãos desamarradas, porém, debilitado ao extremo.

Minha visão da ilha era praticamente total. Encontrei a praia onde chegamos, o chalé mais além. Lindo como no primeiro dia. À distância, firmei a vista e notei um barco se aproximando da ilha. Havia um bote amarelo na popa. Gritei o máximo que pude para que voltassem. Não me ouviram. Um casal entrou no bote e foi trazido ao ancoradouro. Eles pareciam jovens e felizes. Assim como nós naquela oportunidade, aguardaram a chegada do guia.

- Esse novo par será cuidado por você e sua Marta do mesmo modo que cuidamos de vocês – disse alguém atrás de mim.

- Nós jamais faremos isso – tentei parecer convicto enquanto sentia crescer em mim certa raiva pela alegria dos recém chegados.

- Nesta ilha, o ódio crescerá muito em você – soltaram grunhidos na intenção de uma gargalhada – você fará tudo e com muita dedicação, inclusive, sua esposa que você assassinou, já está bem adiantada nesse ponto e o aguarda.

Com essas palavras me empurraram para o abismo, ao encontro das pedras lá embaixo, ainda pude ver Marta me esperando com os braços abertos e uma aparência horrível.

Tema: Ilha - Espíritos Vingativos.

Olisomar Pires
Enviado por Olisomar Pires em 07/02/2024
Reeditado em 07/02/2024
Código do texto: T7993989
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