O ANEL AMALDIÇOADO DE MARIE CRISTINE BARDIN — CLTS 26.

Lee Colombe perguntou:

— A senhorita pretende mesmo gastar toda essa fortuna nesse anel esquisito? Eu não sinto nada de bom vindo dele.

— Besteiras e superstições, Lee. É apenas uma joia — respondeu Marie Cristine Bardin para seu ajudante de ordens. A jovem tinha um forte sotaque francês. — Que mal um simples anel poderia me fazer? Me responda.

Lee Colombe sorrira meio a contra-gosto.

— Nenhum.

Marie Cristine Bardin era americana de nascença, no entanto, seus pais eram franceses e ela viveu boa parte da vida entre Paris e Nova York, onde era uma famosa atriz de teatro na Broadway, que começava a despontar para o estrelado em Hollywood, terra do cinema.

Dona de uma beleza estonteante, Marie Cristine estava no fim da casa dos 20 anos.

A atriz norte-americana de ascendência francesa observava fascinada para aquele estranho anel exposto na vidraça de uma loja de bairro em Nova York. O dono do estabelecimento nunca teve a intenção de vender o anel.

Para ele o objeto estava amaldiçoado, e servia unicamente para ser observado por seus clientes e nada mais que isso. Mesmo um ladrão que tentou roubar o anel numa ocasião acabou morrendo antes mesmo de se afastar do local.

A joia era conhecida como "O anel do destino."

— Eu falei que esse anel medonho era esquisito. Não falei? — disse Lee Colombe, satisfeito.

Mas para Marie Cristine Bardin, que viu o fascinante anel, isso não importava.

— Se não é para vender essa joia, porque a deixa exposta na vitrine para que todos a vejam e queiram comprar? — indagou a atriz.

O vendedor se virou para ela e disse:

— Apenas para ser apreciada, nada mais que isso, minha cara senhora...

— Senhorita! — protestara, altiva.

— Senhorita, perdão! — prosseguiu o vendedor. — Como eu lhe dizia, o anel é apenas para ser apreciado por olhos curiosos. Não sei se a senhorita e seu amigo acreditam em histórias de maldição. Mas esse anel carrega uma.

— Me conte, então — disse a atriz.

Lee Colombe arregalou os olhos, surpreso.

— Não sei se de fato é verdadeira a história — começou a falar o vendedor, com uma voz de narrador de contos de terror de rádio antigo, e pausando entre uma frase e outra, o que deixava Marie Cristine inquieta. — Segundo fiquei sabendo quando recebi o tal "anel do destino", ele havia pertencido a um sheik árabe que o mandou ser confeccionado para ser dado de presente para sua nova esposa. Mas essa acabou morrendo na noite de núpcias do casal. Arrasado, o sheik mandou que os sacerdotes do templo selassem o espírito de sua jovem esposa no anel e que uma maldição caísse em cima de cada pessoa que viesse a possuir a joia.

— Bobagens e bobagens — disse Marie Cristine, incrédula.

— É apenas a história que me contaram, minha querida.

— Eu quero comprar esse anel. Não importa o preço que peça por ele e nem a maldição que ele traga junto dele.

— Não faça isso, Marie — protestou, Lee Colombe, assombrado com a história do anel.

A simples joia de prata com uma pedra semipreciosa era perfeita demais para ficar apenas como uma mera decoração de loja de bairro; ela tinha que possuir aquele anel, então o comprou com muita insistência.

Por outro lado, talvez ela devesse ter escutado o dono da loja e seu ajudante de ordens e ter ficado longe do infame anel.

Era 1953, exatamente 3 anos haviam se passado desde a compra do "anel do destino", e Marie Cristine havia se tornado uma grande estrela de cinema em Hollywood, superando muitas atrizes famosas da época, como Betty Davis, Ava Gardner, Marlene Dietrich, Natalie Wood e tantas outras.

Nascida em Carlin, Nova Jersey, em 1920, partiu para Nova York e se tornou uma sensação nos teatros da Broadway em um curto período de tempo, vinda a ser descoberta por Hollywood e despontando para o estrelado. Recebendo inclusive uma estrela na calçada da fama.

Mas tudo mudou depois que ela comprou o anel, algo deu muito errado.

— Alguma coisa preocupando você, Cristine? — perguntou Lee Colombe.

Nesse meio tempo, eles já haviam se tornado grandes amigos e confidentes, e o ajudante de ordens não precisava mais ficar chamando a atriz de "senhorita" aqui e ali.

— Esse anel!

— O que tem o anel?

— Não sei explicar. Existe alguma coisa estranha nele.

— Sempre existiu algo sinistro com esse anel, Cristine. Você que nunca quis enxergar, e insistiu tanto para comprá-lo que aquele pobre vendedor acabou cedendo, mesmo contra a vontade dele.

— Eu sinto minha carreira de atriz esvaindo aos poucos diante dos meus olhos e eu não consigo fazer nada para impedir que isso aconteça. Mas também tem esse anel, eu por mais que tente, não consigo me livrar dele. Parece que ele me prendeu a ele de alguma forma inexplicável e sobrenatural.

— É o espírito da noiva do sheik — disse Lee Colombe. — Lembra que o vendedor falou que o anel foi amaldiçoado pelo sheik para que aquele que possuísse o anel também fosse amaldiçoado de alguma maneira?

— Deixe de falar besteiras, Lee, isso são apenas crendices e superstições de gente ignorante — rebateu Marie Cristine, não querendo acreditar na veracidade dos fatos que ligam o anel a uma suposta maldição de eras antigas.

Mas tudo deu início com o desastroso fracasso do filme "A menina de ouro", e quando fez "A esposa do Rei" em 1953, ela acabou morrendo afogada na piscina de sua casa, sendo que era uma exímia nadadora. Sentiu como se uma força sinistra e mortal estivesse lhe puxando para baixo e para a morte. Ela estava usando o anel, que acabou sendo passado para seu esposo, o roteirista Andrew Herald, que imediatamente ficou doente.

— Andrew, porque você está usando esse anel? — perguntou Lee Colombe, surpreso, ao vê o objeto em um dos dedos do roteirista.

— Foi a última lembrança que Cristine me deixou — respondeu o roteirista. — Eu não poderia deixar de usar o anel que foi dela.

— Não, você não pode continuar usando esse maldito anel — protestou Lee Colombe, agarrando a mão onde Andrew estava usando a joia e tentando tirar o objeto do dedo do homem — Esse anel é amaldiçoado com o espírito vingativo de um sheik árabe e de sua esposa.

— Você ficou louco? Do que você está falando? — indagou Andrew.

— Esse maldito anel é amaldiçoado — gritou Lee Colombe. — Ele matou Cristine e vai acabar te matando também.

— Você enlouqueceu — disse Andrew. — Sai daqui, eu estou com medo de você. Enfermeiros, alguém. Socorro!

Mas acabou sendo contido por enfermeiros e seguranças, e retirado do quarto de Andrew. Esse, enquanto se recuperava, viu a sua carreira de roteirista chegando num fim abrupto e melancólico.

Ele então passou o famigerado anel para a posse da jovem atriz Sophie Waine, que para ele lembrava Marie Cristine.

— Senhorita Waine, por favor, você precisa se livrar desse maldito anel. Ele será a sua ruína — argumentou Lee Colombe durante uma visita à atriz.

— Porque eu faria isso? — questionou ela. — É uma linda joia. Além disso, foi um último presente de Andrew para mim. Vou usar em meu próximo filme.

Pouco tempos depois, ela morreu em um bizarro acidente de carro, onde duas mãos fortes invisíveis pareciam apertar com força seu pescoço, lhe deixando inconsciente. E nem teve tempo de usar a joia em nenhum longa-metragem, como desejou.

O anel foi parar então nas mãos da mãe de Sophie, Matilda Waine, que encantada com a joia resolveu usá-lo, resultando em um infarto fulminante uma semana depois, não sem antes ser procurada por Lee Colombe, que conhecendo a história do anel, tentou persuadir a não ficar com o infame objeto, em vão. Na ocasião, a mulher sentiu uma mão fria e feita de névoa atravessando o seu coração e o apertando com força, até parar.

A essa altura, a má reputação do anel havia crescido, e a fama de amaldiçoado passava de boca em boca, fazendo crescer também o fascínio e curiosidade em torno dele.

Quando o viúvo de Matilda, Bernard Waine herdou o anel, Lee Colombe o procurou e contanto a história para o homem, teve mais sorte, e o senhor Waine resolveu trancá-lo em um cofre em sua casa.

O objeto foi então roubado por seu sobrinho, Back Johnson, que acionou o alarme chamando a atenção da polícia. Na troca de tiros, ele acabou sendo baleado e morrendo. No bolso estava o infame anel, sendo recuperado e colocado de volta no cofre.

Três décadas depois, em 1983, um diretor de cinema estreante chamado Hayward Clint ficou sabendo da história sombria que envolvia o anel que um dia foi de Marie Cristine e passou por muitas outras mãos, vitimando todos que tiveram contato com a joia. Fascinado com tudo o que ficou sabendo, Hayward resolveu então produzir um filme sobre a vida de Marie Cristine Bardin.

O diretor contratou uma atriz desconhecida chamada Mila Stewart para fazer o papel de Marie Cristine e fez com que ela usasse o sinistro anel, que nessa época não estava mais sob a posse de Bernard Waine, mas sim, do Museu Nacional de Nova York.

Duas semanas após o fim das gravações do filme, Mila morreu em um fatídico acidente de trânsito na Hollywood Boulevard muito semelhante ao que matou Sophie Waine tempos antes, também usando o famigerado e amaldiçoado anel do sheik.

O anel então voltou para o museu em Nova York e nunca mais se ouviu falar sobre ele ou de pessoas que tiveram fins trágicos ao entrarem em contato com o mesmo. Alguns dizem que o fantasma de Marie Cristine ainda procura o anel até hoje, afim de destruí-lo e encerrar assim a sua maldição.

— Com licença — disse Lee Colombe. — Eu...

— Ah! Quanto tempo, senhor Colombe — respondeu o vendedor, que anos atrás havia vendido "o anel do destino" para Marie Cristine Bardin.

Tema: ESPÍRITOS VINGATIVOS.

Emerson Júnior
Enviado por Emerson Júnior em 16/02/2024
Reeditado em 19/02/2024
Código do texto: T8000606
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