A CASA DA BRUXA - fim

Carmina passou a noite meditando no que havia visto na casa da velha bruxa Dozolina, e no que poderia fazer. Enquanto o marido estava no trabalho, ela fez um bolo e um bule de chá, depois foi bater na porta da casa da bruxa Dozolina. A idosa desconfiada abriu a porta e ela entrou sem ser convidada.

— Eu sou Carmina sua vizinha, trouxe um bolo e chá para tomarmos juntas. As duas sentaram-se para beber o chá.

— Convide sua irmã para nos fazer companhia.

— Ela está descansando na sua cama, não costuma tomar chá nenhum.

— Dona Dozolina, sua irmã não existe, é uma ilusão sua. É uma boneca de silicone, uma imitação dum ser humano.

— Voce está enganada Carmina, voce não sabe o que é a solidão na velhice, sentir-se rejeitada, ignorada, abandonada, o vazio que fica, e o silêncio da morte que nos persegue.

Ela retirou do bolso do avental um controle remoto e acionou um botão. Do quarto a boneca de mulher começou a andar e veio sentar-se numa cadeira perto delas.

— Isso se cham IA um robô androide moderno que auxilia idosos importado do Japão. Esse androide está sendo usado em lares de idosos e hospitais. Esse robô humanóide conversa, canta, assim eu me sinto menos solitária. Ela tocou o controle e o robô respondeu com voz feminina: "Máquina desativada, posição de repouso".

— Entendo, a senhora encontrou uma maneira de combater a solidão, eu havia pensado que a senhora era uma feiticeira, e que o robô era uma zumbi, uma boneca possuída pela alma dum morto.

No dia seguinte uma surpresa aguardava d. Dozolina. Carmina e mais cinco vizinhas bateram na porta.

— Nós viemos lhe fazer companhia, viremos visitá-la todos os dias, ajudaremos nos afazeres domésticos.

Assim elas conseguiram conquistar a amizade da idosa que vivia isolada, acompanhada por um robô, num mundo de fantasia, para preencher a solidão. Com o passar dos dias ela precisava sempre menos do androide robô, ou seja, sua irmã imaginária. Ela tinha agora diversas amigas que vinham buscá-la para passear no parque, almoçar junto, conversar sobre suas vidas, não precisava mais passar seu aniversário sozinha. Também não precisava mais juntar despachos nos cemitérios e encruzilhadas, a prefeitura colaborava com uma quantia todo final do mês para as despesas, o resto necessário ganhava de doações das vizinhas. As crianças passaram a chamar ela de vovó, ajudar a procurar os óculos perdidos, objetos esquecidos, e tomar sorvete com ela.

Talvez um dia ela iria se desfazer daquele robô, pois o seu novo cãozinho Roby não simpatizava com as flores do seu vestido.

FIM

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 14/04/2024
Reeditado em 14/04/2024
Código do texto: T8041565
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