Amostra Grátis

Esse conto não é recomenado para menores de 18 anos.

Os dois homens saíram do restaurante após um jantar delicioso. Haviam conversado bastante sobre os negócios, debatendo sobre cláusulas no contrato e as obrigações e direitos de cada um. Em seus ternos caros e gravatas de nós perfeitos, eram claramente executivos acostumados com tais reuniões importantes em que as palavras dos diálogos eram jogos de xadrez empolgantes. Sorriam assim um para o outro ou franziam o cenho com negações que indicavam já quais termos seriam negados ou aceitos. Depois de tanto falar, saíram calmos e sorridentes lá de dentro.

Debaixo do letreiro de iluminação discreta, eles pararam para olhar a rua escura. Nenhum mendigo perto, afinal era um bairro rico em que as pessoas cuidavam bem da imagem local. Ninguém queria uma vizinhança conturbada. Os pobres que ficassem jogados nas sombras, nos becos, não nas ruas onde pudessem ser vistos.

- Não vai precisar de carona – disse o homem de gravata verde e terno preto, o autor da proposta. Estava claro que não era uma pergunta, era uma constatação.

- Não, minha esposa vem me buscar.

- Vamos caminhar então... – falou o outro, estendendo a mão para que andassem pela calçada.

Os sapatos faziam um barulho leve no chão meio molhado. Chovera há pouco, enquanto ainda degustavam um salmão grelhado e vinho tinto. Quando a água começara a cair, o homem de gravata cinza e camisa azul-clara olhou para fora e pensou no quanto seria bom uma proposta como a que acabara de receber, mas relutava. Não sabia se teria coragem. Lembrava-se disso agora durante a caminhada.

- Você tem que aceitar minha proposta e vou te dizer porque. Do jeito que está, você vai ficar na mesma para sempre. É o que quer? Não quer subir na vida?

Lógico que queria, mas havia muito o que pensar. A esposa, os filhos. Trocar isso por ambição para se satisfazer não poderia ser sensato, não em um mundo correto. Não num mundo onde haviam-no posto e de onde ele relutava em sair desde que o haviam aprisionado.

- Acho que vou precisar dar-lhe uma amostra, uma que vai mudar sua mente...

Ele começou a tirar um objeto do bolso. Era um cubo dourado, mas de cor desbotada. Olhou para o brinquedo de um jeito brilhante. O homem de gravata cinza lembrou-se do filho quando conseguiu resolver um cubo mágico pela primeira vez.

Mais adiante, do outro lado da rua, a esposa acabara de estacionar o carro. Abrira a porta e agora estava parada encostada, pensativa e o procurando. Achou logo e acenaram um para o outro.

- Acho que já vou indo.

- Espere um pouco – disse o homem da gravata verde mexendo no cubo. – Pronto.

Deu um sorriso final. Os dois ficaram se olhando, mas então o negociador fez sinal para que o outro se virasse para a esposa. Olhou bem a tempo de ver um bando de marginais saindo de um beco. Surgiram como loucos e saltaram sobre ela como lobos. Seguraram, arrancaram suas roupas enquanto ela gritava desesperada. Desnudaram primeiro seus seios, arranhando a pele branca. Deixaram que gritasse, satisfeitos com o som. Rasgaram a saia e a jogaram no chão. Deu para ver os cotovelos e as costas dela ralando e sangrando no asfalto enquanto se debatia e gritava por ajuda. Abriram as pernas dela, seguraram pelo pescoço e deixaram que somente um braço ficasse solto para arranhar e bater. Já o olhos, por um breve momento, se cruzaram com os do marido.

Ele permanecia imóvel. Imóvel... a não ser um ligeiro movimento que contava tudo sobre a resposta do contrato e o coração negro que despertava. Os lábios tremiam mordidos nervosamente enquanto dava sorrisos leves e satisfeitos recheados de neuroses sexuais. Ele já estava pronto para assinar. Era hora de mudar de lado.

Shaftiel
Enviado por Shaftiel em 06/03/2008
Reeditado em 26/11/2008
Código do texto: T890288
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