Demoeste! Parte 6 - Chegou!

Kruger não era um homem espiritualizado. Os mais próximo que ele chegava de pensamentos religiosos era questionar como uma mulher podia parir um menino cabeçudo e ainda continuar virgem. Mas o fato era que ele admirava o menino. A história do vinho o deixava louco para ir á igreja e um dia beber até cai sem se preocupar com a festa acabar. E era isso. Nada mais.

Quando avisaram que ele estava no trem para o Inferno ele ficou mais preocupado com a situação de lá. Diziam que a putaria rolava solta lá embaixo. O negócio era agitado e com certeza todas as mulheres boas de cama e tudo quanto é alemão que produzisse cerveja da boa estariam lá. Kruger esfregou as mãos e gritou:

- Putaria e cerveja! Cambada de molestado! É tudo putaria e cerveja na casa do Capeta!

O Diabo da Cartola Branca sorriu ao lado dele, enquanto desciam da estação. Aquele sorriso deixou Kruger desconfiado.

- Cê num vai cagar na minha pós-vida não, né? – perguntou.

- Nós na fazemos nada, Kruger, nada. Só alugamos o lugar.

- Mas cê sabe que eles falam mal demais de vocês lá em cima?

- Propaganda ruim da concorrência, mas quando o produto é bom, nem a propaganda atrapalha. Aqui ta cheio e tem mais gente vindo. A gente até inventou a reencarnação pra gerar rodízio.

- Então tem gente que volta?

- Ih, um monte. – disse o Diabo da Cartola Branca, mostrando uma outra estação com uma grande placa escrita Expresso Reencarnação.

- Cosia sem graça...

-Também acho, mas o Céu não quis alugar o espaço livre deles pra gente. Tanta terra sem cultivar e a gente com problema de superlotação aqui.

- E onde que eu fico? – perguntou Kruger, impaciente. Odiava quando o Diabo da Cartola Branca começava a divagar sobre os problemas políticos e filosóficos entre o Céu e o Inferno.

- Arranja um espacinho aí. Já falei, aqui é igual coração de mãe.

“Fêdaputa”, pensou o pistoleiro falecido, começando a andar pelo palanque de madeira da estação para observar a paisagem. Nunca tinha visto tanta gente junta, nem nos festivais religiosos de Sand City, aqueles em que o pessoal se juntava pra comemorar o senhor Jesus na frente da igreja e fazer filho em pé logo atrás.

Ele esfregou as mãos e se despediu do Diabo da Cartola Branca. Era hora de aproveitar. Estava feliz com o destino que a vida havia tomado e pretendia aproveitar o calor do Inferno e os pecados milenares até que gastasse o pinto de tanto meter e roesse o estômago de tanto beber.